Vítima de enchente: “Vejo uma nuvem no céu e já fico desesperada”

São Paulo – Vítima dos temporais que castigaram a cidade de São Paulo nas últimas semanas, a aposentada Eunice Lantim da Silva, de 61 anos, tem evitado ficar na própria casa após passar por sua primeira enchente: “Antes, podia até chover que estava tudo em paz. Agora, vejo uma nuvem no céu e já fico desesperada”.

Eunice vive com o marido em um sobrado na Vila Jacuí, na zona leste da capital paulista, a região mais atingida pelas chuvas recentes. Ela mora no mesmo lugar há 26 anos e nunca havia temido a chuva.

No fim de janeiro, no entanto, foi a primeira vez que o casal viu a água invadir a casa, alcançar a altura de 1,70 metro na garagem e destruir móveis, utensílios e eletrodomésticos. “Nunca tinha acontecido na minha rua”, diz.

“Foi muito de repente. A gente estava assistindo a TV, já estava escurecendo, e escutei os vizinhos gritando para correr”, relata Eunice. “Só deu tempo do meu marido tirar o carro da garagem: a água inundou e destruiu tudo que podia.

Prejuízo

O temporal aconteceu no domingo (29/1). Por volta das 18h, a rua alagou e rapidamente a enchente atingiu a sala, a copa, a cozinha, um quarto e o banheiro do sobrado. O prejuízo, segundo a aposentada, é estimado em pelo menos R$ 15 mil.

Entre os itens destruídos, estão duas geladeiras, a cama de casal e um guarda-roupa que desabou com a força da água. “Nessa hora, pensei que a casa estava caindo e comecei a gritar muito”, relata.

Eunice recebeu ajuda de familiares para limpar os cômodos e remover entulhos na casa. Desde então, porém, a aposentada diz não conseguir mais dormir no próprio quarto, fica a maior parte do tempo hospedada na casa de parentes e faz planos de se mudar para outra região. “Para mim, foi um trauma muito grande”.

Danos

Na terça-feira (7/2), outro temporal que atingiu a região metropolitana provocou alagamentos, deslizamentos de terra e deixou ao menos um morto – um homem arrastado pela correnteza no Parque São Lucas, na zona leste, cujo corpo foi localizado pelo Corpo de Bombeiros no dia seguinte.

Em nota, a Prefeitura de São Paulo afirma que a rua onde Eunice mora é paralela ao Córrego Jacú, que transbordou em alguns trechos depois das fortes chuvas dos dias 28 e 29 de janeiro. “Na data, choveu 98,8 milímetros, intensidade superior a 1mm/min. Esse evento prejudica o escoamento vindo das vias que estão no entorno”, diz.

Na vizinhança, a informação que circulou entre os moradores era de que o alagamento teria relação com obras de um reservatório, na bacia do Aricanduva, inaugurado em 2022. A gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB), entretanto, contesta a informação e diz que a área não sofre influência das cheias na bacia.

Ainda segundo a Prefeitura, a rua que alagou seria alvo de descarte irregular de lixo, “fator que colabora com o entupimento de bocas de lobo, impedindo o pleno escoamento das águas pluviais em dias de chuvas intensas”.

Segundo a administração municipal, foram entregues nos últimos anos os reservatórios Taboão, Aricanduva R3, R6, R7 e R8 para auxiliar na contenção das enchentes na zona leste nos últimos anos.

“Todos já estão em operação. Em breve, há previsão de entregar as novas galerias do Córrego Dois Irmãos, além de continuar os trabalhos de canalização do Rio Aricanduva”, diz a Prefeitura da capital.

“Em 2022, foram realizados investimentos recordes, com valores empenhados de quase R$ 2 bilhões para ações/obras nesta área, superando em mais de R$ 894 milhões o orçamento inicial previsto na Lei Orçamentária Anual (LOA)”.