Vídeos: família de morto em operação relata perseguição de PMs
Família de Layrton Oliveira pediu reabertura do caso. “Quero olhar pra cara deles e perguntar: porque você tirou a vida do meu sobrinho?”
atualizado
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São Paulo — No dia 8 de agosto de 2023, Layrton Fernandes da Cruz Vieira de Oliveira, 22 anos, estava dormindo numa casa no bairro do Jabaquara, em Santos, quando foi surpreendido por policiais militares (PMs). “Mataram o moleque dormindo com tiro de fuzil”, relembra seu tio. O jovem morreu durante a Operação Escudo, que deixou 28 mortos e completou um ano neste mês.
Neste momento, a família vive com medo. Especialmente após o arquivamento, em junho deste ano, das investigações do caso. Em desespero, procuraram a Defensoria Pública. Ao Metrópoles, o órgão confirmou a atuação e o pedido de recurso de desarquivamento.
Vídeos recebidos pela reportagem mostram policiais militares nas redondezas da casa da mãe da vítima. Um deles chega a bater na porta.
“Temos medo de fazerem alguma coisa com a gente. Minha sobrinha viu um policial numa pizzaria e entrou em pânico. As outras ainda postam diariamente fotos do primo nas redes sociais com pedido de justiça. Eu, quando saio do trabalho, também sinto medo”, disse o tio, que preferiu não se identificar.
As gravações recebidas somam mais de 25 minutos e exibem imagens de PMs armados e capturando fotos em vielas e na porta da casa da família nos dias 5 de janeiro, 4 de março, 2 e 3 de maio e 17 de junho deste ano. Nos últimos dias, um dos familiares saiu com um amigo e foi parado numa blitz. Voltou com medo. Segundo ele, os policiais o intimidaram. “Disseram: ‘a gente sabe que vocês denunciaram’”, relatou.
“Justiça tem que funcionar para o trabalhador pobre”
A mãe de Layrton segue muito abalada e, atualmente, trabalha num cemitério. Quando chega em casa, chora. Muitas vezes acorda, no meio da noite, chamando o nome do filho. Assim como o medo, a revolta persiste. Juntos, os sentimentos encorajam o tio da vítima.
“Na real, eu quero justiça. Quero olhar pra cara deles e perguntar: por que você tirou a vida do meu sobrinho? Por que matou o cachorro? Não quero dinheiro. Eu quero justiça. Não quero nada de governo. Quero honrar meu sobrinho que era um menino bom, carinhoso, reservado, jogava o futebol dele”.
A família rejeita a versão da polícia. “Alegaram no boletim de ocorrência troca de tiros. Como se o fuzil foi apontado? O tiro entra pequeno e sai grande Como que pode isso?”, pergunta.
“É muito grave. Eu espero que reabram o caso e avaliem as fotos, os vídeos, as evidências. Que chamem o perito para apontar os erros. Nossa Justiça tem que funcionar também para o trabalhador pobre. Meu sobrinho nunca pisou numa delegacia, numa Febem, num júri popular. Euero olhar nos olhos dos acusados e perguntar: Por que vocês tiraram a vida dele?”
O tio, garante, tenta manter o equilíbrio em nome da família. “Muita coisa pela frente ele tinha”, emociona-se. “Pega um promotor e reabre o caso, pô. Olha o tiro que deram no braço do moleque, um tiro de fuzil. Ele acordou no susto. Arrastaram o corpo do moleque e o chão tá cheio de sangue. Você viu?”, perguntou à reportagem, que leu a defesa da vítima. Nas páginas, imagens fortes sugerem que o corpo foi arrastado. “Minha irmã, quando viu a foto, foi hospitalizada”.
O que diz a SSP
Procurada, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) respondeu que os casos são investigados pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) de Santos, assim como pela Polícia Militar, que analisa as denúncias apresentadas pela reportagem.
“A instituição segue rigorosos protocolos operacionais e não compactua com excessos e desvios de conduta, punindo os envolvidos sempre que as irregularidades são comprovadas”, afirma a SSP.
A Operação Escudo foi concluída em setembro de 2023 com 28 mortes em 40 dias na Baixada Santista. Veja quem foram os mortos na ação.