Vídeo: testemunha leva PF a transações ao exterior com fintechs
Testemunha gravou vídeo e mostrou à Polícia Federal a facilidade para realizar o envio de dinheiro ao exterior com uso de fintech
atualizado
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10São Paulo — Em meio a investigações sobre o uso de fintechs para lavagem de dinheiro, a Polícia Federal ouviu uma testemunha de dentro desse mercado que mostrou como essas empresas têm sido usadas para fazer transações ao exterior sem o pagamento devido de impostos e como clientes que querem cometer fraudes procuraram instituições financeiras que estão no rastro de investigadores por terem mais facilidade de operar com elas.
Como mostrou o Metrópoles, investigações de grande repercussão rastrearam R$ 17,7 bilhões em lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC) e de casas de apostas com essas empresas. Nessa lista, pelo menos dez são instituições financeiras autorizadas pelo Banco Central. Outras são empresas novas, com escritórios na região da Faria Lima, coração do mercado financeiro, que se apresentam como bancos, vendem produtos bancários, mas não são credenciadas pelo BC.
Nesse mercado, essas investigações têm mostrado como máquinas de pagamento e contas bancárias têm sido usadas para esconder dinheiro do crime ou movimentá-lo sem alarde. No entanto, como mostrou o Metrópoles, a artimanha é vendida abertamente na praça para empresários que fogem de dívidas. Há contas abertas nessas empresas que ficam invisíveis para bloqueios do Banco Central.
O Metrópoles obteve acesso ao vídeo entregue por uma testemunha que trabalha no ramo de fintechs à Polícia Federal. Na gravação, a pessoa faz uma demonstração de como essas empresas estão sendo usadas para enviar dinheiro escondido e com difícil identificação de seu dono para fora do país. Uma dessas estratégias é o uso de empresas de cartões de crédito.
No vídeo, a testemunha mostrou com facilidade como enviar R$ 50 mil aos Estados Unidos por meio da compra de créditos em gift cards, os conhecidos cartões de presentes com créditos pré-pagos que são vendidos até em farmácias e supermercados. As imagens, que estão nas mãos de investigadores, mostram com clareza: basta fazer uma transferência para uma empresa no Brasil, que faz a operação de câmbio no exterior e fica como titular do saldo do cartão.
A prática não só abre brecha para sonegação fiscal como para esconder dinheiro em fintechs que fazem o envio do dinheiro, já que não é uma operação de câmbio nem um depósito diretamente no exterior.
Operação Concierge
A testemunha foi ouvida por agentes da PF em São Paulo e no Paraná. Seus vídeos chegaram às mãos inclusive de agentes que fizeram parte da Operação Concierge, que mirou o uso de fintechs para lavagem de R$ 7,5 bilhões para fraudadores e para a UpBus, empresa de ônibus de São Paulo suspeita de elo com o PCC.
Em seu depoimento, a testemunha explicou, por exemplo, como empresários que trabalhavam com venda de eletrônicos fruto de sonegação fiscal tentaram usar sua fintech de cartões de crédito e meios de pagamento para transacionar seus produtos. A pessoa detectou a fraude e cobrou o grupo. Outras bandeiras de cartão de crédito também alertaram para a ilegalidade.
O resultado é que o grupo acabou virando cliente de uma empresa que entrou na mira da Operação Concierge justamente por prover máquinas de cartão de crédito para pessoas físicas e jurídicas que faziam movimentações suspeitas. Nesse guarda-chuva, por exemplo, estavam um motorista de aplicativo com passagem por tráfico e um beneficiário de auxílio emergencial que movimentaram valores vultosos.
No caso dessa empresa, a PF não só desconfia de que ela viabilize lavagem de dinheiro com sua máquina de cartão como também conte com a leniência de bancos que não fazem alertas sobre suas transações ao Coaf.