Vídeo: “rua de lazer da droga” ocorre ao lado de GCMs na Cracolândia
Vídeo feito por moradora do centro da capital paulista mostra traficantes com caixotes montando feira da droga sob o olhar de guardas civis
atualizado
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São Paulo – Uma verdadeira “rua de lazer da droga” funciona à luz do dia na Cracolândia. Vídeo feito por uma moradora do centro de São Paulo e obtido pelo Metrópoles registra (assista abaixo) o momento em que a chamada “feira da droga” foi montada, por volta das 17h30 dessa quarta-feira (6/9), na Rua dos Gusmões, onde também se concentra parte do fluxo de dependentes químicos.
Toda a movimentação, segundo o vídeo encaminhado ao Metrópoles, é observada a distância por dois guardas civis metropolitanos (GCMs), que nada fazem para impedir o tráfico de drogas na via. Itens sem origem comprovada também são dispostos em lonas, para serem vendidos ou trocados por drogas, principalmente crack.
“Cada um com um caixote é um ponto de venda de drogas. A rua do lazer da droga, olha que maravilha. O inferno é aqui, Fabrício Cobra [Secretário da Casa Civil da prefeitura]. O inferno é aqui, senhor prefeito Ricardo Nunes. O inferno é aqui, senhor governador Tarcísio de Freitas. Venham, lhes convido para participar. Por que só eu que tenho que estar nesse inferno? Vocês também deveriam vir”, desabafa a conselheira participativa Rose Correa, de 64 anos.
A movimentação do fluxo, em meio à feira da droga, continuava na manhã desta quinta-feira (7/9), conforme checado pela reportagem.
O Metrópoles ainda apurou que, na Rua dos Gusmões, funcionam hotéis clandestinos destinados ao uso de crack. Os locais também seriam usados para programas sexuais, feitos por dependentes químicos para custear a compra de drogas, acessível a poucos metros dali.
Ruas tomadas
A via fica tomada de usuários e é um dos pontos de concentração do grupo desde que o fluxo foi dispersado da Praça Princesa Isabel, por meio de uma ação policial, em maio do ano passado. A feira da droga ocorre em outras ruas do centro, como já foi mostrado pelo Metrópoles.
Antes da fragmentação em pequenas “cracolândias” – principalmente nas regiões da Santa Ifigênia e Campos Elíseos, bairros do centro paulistano –, o antigo fluxo chegou a concentrar mais de 2 mil dependentes químicos no mesmo quadrilátero.
A concentração de pessoas, somada à música alta, prejudica a qualidade do sono dos moradores dos prédios do entorno. Eles denunciam, há quase dois anos, a ineficiência de ações policiais.
Criminalidade e câmeras
Para sustentar o vício, alguns usuários de droga praticam furtos e roubos no centro, ajudando a aumentar a sensação de insegurança. Em julho, por exemplo, foi registrado o equivalente a um roubo por hora na região.
Com o intuito de inibir as ações criminosas, a Prefeitura de São Paulo anunciou, no mês passado, o programa Smart Sampa.
Como relevado pelo Metrópoles, moradores da região relatam que câmeras estão sendo vandalizadas e furtadas por dependentes químicos.
Após a denúncia, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) afirmou, nessa quarta-feira (6/9), que vai instalar um “sistema de gaiolas” nas câmeras do programa.
Em coletiva de imprensa, em 7 de agosto, ele anunciou que o programa previa a instalação de 20 mil câmeras inteligentes de segurança na cidade. A colocação dos primeiros 200 equipamentos estava prevista para dali a 60 dias.
O Metrópoles solicitou há dois dias o total de equipamentos já instalados, assim como os que foram alvo de vandalismo e furtos. Os dados não foram informados pelo governo municipal.
Prefeitura e SSP
A Prefeitura, a Guarda Civil Metropolitana e a Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo foram procuradas para se posicionar sobre a feira da droga, montada na Rua dos Gusmões.
O governo municipal foi questionado sobre medidas em relação aos guardas que permitem a realização da venda de drogas na via. Nenhum posicionamento sobre isso foi encaminhado.
Em nota enviada às 15h47, Secretaria Municipal de Segurança Urbana, da prefeitura, afirmou que a GCM apoio ações das forças de segurança estaduais na região, “inclusive no combate ao tráfico de drogas”. Ela acrescentou que a guarda ampliou o número de agentes no centro, para realizar patrulhamento.
A SSP não se posicionou sobre a feira da droga da Rua dos Gusmões, que segundo apurado pelo Metrópoles ainda ocorria, na tarde desta quinta-feira, também na esquina com a Rua do Triunfo e Avenida Rio Branco.
Em nota enviada às 14h41, a pasta afirmou ter reforçado as ações de inteligências e policiamento preventivo na região “citada pela reportagem” focando “na desarticulação e prisão de criminosos ligados ao tráfico de drogas.”
A secretaria do governo estadual ainda disse que, entre janeiro e julho deste ano, foram apreendidos 315 quilos de drogas e presos 1.568 suspeitos, de crimes não especificados, na região.
Desde o último dia 17, acrescentou, foram feitas três operações. Em uma delas foi apreendida quase meia tonelada de cocaína.
A Polícia Militar, disse ainda, mantém 120 agentes na região “diuturnamente.”