Vídeo: deputada chora ao denunciar racismo na Alesp: “Constrangimento”
Thainara Faria (PT) afirmou ter sido vítima de episódios de racismo mais de dez vezes na Alesp, incluindo nesta sexta (31/3)
atualizado
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São Paulo – Deputada estadual pelo PT, Thainara Faria denunciou ter sofrido racismo na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) nesta sexta-feira (31/3). Em relato nas redes sociais e depois na tribuna da Casa, ela disse ter sido impedida por uma servidora de assinar a lista de presença dos deputados.
Thainara é uma mulher negra e enumerou outros episódios de racismo pelos quais passou na Assembleia.
“Desde que fui eleita deputada estadual por São Paulo e ocupo esse espaço para discutir e me preparar para a minha posse venho sofrendo racismo nesta Casa”, disse ela em discurso no plenário.
Ex-vereadora de Araraquara (SP), Thainara está em seu primeiro mandato na Alesp. Ela afirmou que após participar de um evento, no qual havia sido identificada por meio de uma placa como deputada, foi impedida de assinar a lista de presença dos parlamentares. A servidora que a barrou teria dito: “Não, esses livros são só para os deputados”.
“Não estão acostumados com uma mulher preta, jovem, de 28 anos, circulando por essa Casa. Eu sabia que por estar de trança seria confundida e queria evitar esse tipo de situação. Não gostaria de estar chorando aqui, agora, mas a questão é que dói muito toda hora sofrer racismo. Quando não dói, ele mata a gente”, declarou a deputada enquanto chorava no plenário.
“Não tem por que me barrar nos espaços, impedir que eu assine o livro com o peso de uma mão de 98.388 votos do povo de São Paulo. E aí eles acham que é ‘mimimi’, mas não posso voltar com a agonia e o constrangimento para a minha casa, esse constrangimento tem que ser da servidora e de todos os racistas e as racistas desse país”, acrescentou.
A deputada disse ter esquecido, nesta sexta, de carregar um broche destinado apenas aos deputados na Alesp que os identifica como parlamentares. Ela afirmou ter solicitado outro e contou que o pedido foi negado.
Outros episódios
Thainara também afirmou ter sofrido racismo “mais de dez vezes” só no dia da posse da nova legislatura, em 15 de março.
“Na posse, uma policial e uma servidora pediram para que eu liberasse o caminho para que os deputados pudessem passar. Me confundiram várias vezes com outras pessoas. Só na posse foram mais de dez vezes que passei por situações de racismo estando acompanhada pelo meu assessor de comunicação, que é um homem branco. Isso reiteradas vezes durante os dias”, disse.
Nesta tarde, ela também fez uma cobrança ao presidente da Alesp, o deputado André do Prado (PL), que disse à Folha de S.Paulo que teria “paciência de Jó” com as bancadas de mulheres e de negros e negras na Casa após uma série de polêmicas na legislatura anterior.
Ela exigiu que ele adote uma postura antirracista e lembrou que a eleição dele para a Presidência contou com os votos da bancada do PT, em um acordo que deu ao petista Teonilio Barba a 1ª Secretaria da Alesp.
“Aqui eu vou exigir do presidente em quem eu votei que não só não aceite o racismo, mas que tenha uma administração antirracista nessa Casa. Que não permita que qualquer pessoa passe pelo preconceito que passei aqui”, finalizou.
Em nota, o presidente da Alesp, André do Prado (PL), afirmou que se solidarizava com deputada.
“De imediato, o presidente determinou providências ao secretário-geral Parlamentar, que substituiu a funcionária pública envolvida no episódio. O caso será avaliado em âmbito administrativo”, diz o comunicado.