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“Viciado em roubo”: execução de Pequeno deflagrou carnificina no PCC

Chefe de célula especializada no “Novo Cangaço”, Pequeno era viciado em roubos a banco, como mostram diálogos de criminosos

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Homem branco, cabelo curto e sem barba no centro. Abaixo quatro notas de R$ 100. Fundo preto e, atrás da cabeça do homem, dois fuzis cruzados - Metrópoles
1 de 1 Homem branco, cabelo curto e sem barba no centro. Abaixo quatro notas de R$ 100. Fundo preto e, atrás da cabeça do homem, dois fuzis cruzados - Metrópoles - Foto: Arte/Metrópoles

São Paulo – Apesar do alto padrão de vida, conquistado principalmente por meio do tráfico de drogas, Fleques Pereira Lacerda, o Pequeno, era “viciado” na adrenalina resultante de roubos a banco, como mostram conversas interceptadas pela Polícia Federal (PF), obtidas pelo Metrópoles.

Ele e o irmão, Delvane Pereira Lacerda, o Pantera, lideravam uma célula do Primeiro Comando da Capital (PCC) que promovia ações do “Novo Cangaço“, por meio das “tomadas de cidades”, mega operações criminosas feitas para roubar milhões de transportadoras de valores ou de instituições bancárias.

“Tu acha que o cara que tem coragem de colocar um capacete blindado na cabeça, um colete nos peito [sic], vestir roupa e ir assaltar um banco pra trocar tiro com a polícia, ele é normal da cabeça? […] Ele [Pequeno] era viciado nisso aí, pô. Ela gostava pra porra”, diz Janes Nogueira da Silva, amigo e parceiro de negócios dos irmãos, em uma das conversas interceptada pela polícia.

Pequeno acabou morto em uma emboscada, em dezembro do ano passado, quando estava em uma barbearia de Osasco, na Grande São Paulo, após fugir do sistema carcerário do Piauí, em 2018. Ele foi alvo de uma ação orquestrada por rivais do próprio PCC.

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O chefão do PCC, Pequeno, controlava com o irmão pontos do tráfico de drogas no Piauí e na capital paulista
CACs enviavam fotos das armas para os clientes do crime
Pantera "herdou" arsenal deixado por Pequeno, após o irmão e parceiro no crime ser executado
Pantera foi treinado para usar fuzil por Terrorista, um CAC que lhe vendia armas
Patroa do PCC em treinamento
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Pantera, irmão de Pequeno, protagonizou uma carnificina após o assassinato do parente

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O chefão do PCC, Pequeno, controlava com o irmão pontos do tráfico de drogas no Piauí e na capital paulista

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CACs enviavam fotos das armas para os clientes do crime

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Pantera "herdou" arsenal deixado por Pequeno, após o irmão e parceiro no crime ser executado

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Pantera foi treinado para usar fuzil por Terrorista, um CAC que lhe vendia armas

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Patroa do PCC em treinamento

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Elaine Souza Garcia, membro do PCC, segundo PF

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Terrorista, homem que vendia armas para criminosos

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Naquele estado, ele e o irmão faturavam milhões com a venda de drogas, tanto com suas próprias biqueiras como, também, fornecendo cargas milionárias para outros traficantes. Os irmãos também eram sócios em bocas de fumo em São Paulo, onde chegaram vindos do nordeste, no início dos anos 2000, filiando-se ao PCC.

Para manter sua hegemonia no Piauí, ambos promoviam homicídios de rivais, incluindo membros de outros clãs da facção paulista. Como afirmado entre comparsas de Pequeno, em conversas interceptadas pela PF, os irmãos deveriam ter se focado em “só ganhar dinheiro” e não em “ter matado gente demais”.

O volume de cocaína movimentada pelos irmãos era altíssimo, como mostra uma conversa na qual Pantera afirma à esposa, Elaine Souza Garcia, de 34 anos, mais conhecida como Patroa, ter recebido, em maio de 2023, uma tonelada da droga. Na revenda, isso renderia aos criminosos R$ 44 milhões.

Com o assassinato de Pequeno, Pantera assumiu os negócios e iniciou uma onda de violência, para vingar o irmão.

Carnificina

Pantera não só coordenou uma “carnificina”, nas palavras da própria PF, para vingar a morte do irmão, como compartilhou em uma rede social foto de comparsas armados, que o apoiaram no banho de sangue, chamados de “Índios de Panta” — uma referência ao apelido do chefão do crime.

“Nesse contexto, há indícios de que Delvane [Pantera] foi o responsável por uma verdadeira carnificina em São Paulo [capital] e na região de Avelino Lopes [Piauí]”, diz trecho de relatório da PF, obtido pelo Metrópoles.

O próprio Pantera comenta, em diálogos obtidos pela PF, que “matou rivais”, além de cogitar em “matar outros”.

A Polícia Civil do Piauí levantou que duas “famílias” do PCC, entre elas a de Pantera e Pequeno, controlam o tráfico de drogas em ao menos quatro cidades.

Tiros e degola

Apesar de serem da mesma facção, a disputa interna entre os grupos resultou na morte de Pequeno, em Osasco, cuja localização teria sido indicada por um membro da quadrilha concorrente, Erinelton Pereira de Sousa, o Netinho.

Ele e Mauro Cezar Aguiar dos Santos foram executados a tiros e facadas, em 6 de fevereiro, na piauiense São Raimundo Nonato, em retaliação à morte de Pequeno. Netinho também foi degolado, uma “assinatura” do PCC.

Dez dias depois, ainda no Piauí, mas em Avelino Lopes, Emerson de Sousa Santos, o Paçoca, terceiro na hierarquia do clã nordestino de Pantera, foi morto a tiros (assista abaixo), iniciando uma série de três execuções, concretizadas em 48 horas.

Oficialmente, ao menos cinco membros do PCC foram assassinados entre clãs rivais da própria facção. Na prática, as execuções superam isso, pelo fato de o próprio Pantera comentar estar cansado de matar.

Por ter assassinado “diversas pessoas”, segundo relatório da PF, ele comenta com a enteada estar cansado e “não aguentar mais matar ninguém”.

Outra execução em 16 de fevereiro no Piauí

 

“Faz quatro meses e um dia que meu irmão morreu”, afirma Pantera. Em prantos, ele acrescenta que “na verdade eu nem consegui mais matar ninguém, cara. Eu não consigo fazer nada mais”.

Ele foi preso em flagrante por policiais militares em Itapeva, interior de São Paulo, em 20 de maio de 2024, um dia antes de a PF iniciar o cumprimento de mandados de busca e apreensão resultantes da investigação.

A PM foi chamada no endereço do chefão do PCC para checar uma suposta denúncia de cárcere privado, feita por um vizinho. Chegando no local, Pantera deixou os policiais entrarem na casa e a denúncia foi desmentida.

O criminoso acabou preso quando os PMs encontrarem uma pistola calibre 380 e munições, dentro da geladeira. Após o flagrante, ele alegou manter a arma no local para garantir a própria segurança, “visto que seu irmão tinha sido assassinado”.

Prisões

Pantera e Patroa foram presos na última terça-feira (10/9), durante a segunda fase da Operação Baal, deflagrada pela PF e pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo (MPSP).

Além deles também foram detidos durante a ação conjunta os integrantes do PCC Jakson Oliveira Santos, o Dako, e Diogo Ernesto Nascimento Santos, que atuava no núcleo financeiro da facção e, também, nas execuções de inimigos.

O Metrópoles busca a defesa dos acusados. O espaço está aberto a manifestações.

No total, 18 suspeitos foram denunciados pelo MPSP desde o início do ano. Quatro CACs foram presos apontados como fornecedores de armas para a facção.

PCC e Novo Cangaço

Como já mostrado pelo Metrópoles, membros do PCC organizam e executam grandes assaltos chamados de Novo Cangaço. Além de arrecadar dinheiro emergencialmente, essas ações também são uma forma de mostrar o poder de fogo da facção e impor medo.

Em março de 2016, por exemplo, a quadrilha queimou dois caminhões e trocou tiros em Campinas, interior de São Paulo, após roubar R$ 4,8 milhões da Protege.

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Pouco mais de um ano depois, já em Ciudad del Este, no Paraguai, o PCC levou US$ 40 milhões — R$ 194 milhões, na cotação de abril de 2017 — da Prosegur. Foram usados explosivos no que foi considerado o maior assalto da história paraguaia até então.

Já em dezembro de 2020, a facção roubou R$ 130 milhões do Banco do Brasil em Criciúma, em Santa Catarina. Para isso, levantou barricadas com carros incendiados e fez reféns sentados em meio à rua, contra a reação da polícia.

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