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Viação ligada ao PCC faturou R$ 3 bi e detém “vitrines” do setor em SP

Transwolff, empresa de ônibus da zona sul suspeita de ligação com o PCC, teve um aumento de repasses maior do que a média das outras cidades

atualizado

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foto colorida de ônibus da Transwolff circulam normalmente no dia em que MPSP faz operação da empresa por suspeita de ligação com o PCC; na imagem, ônibus da empresa no Terminal Santo Amaro - Metrópoles
1 de 1 foto colorida de ônibus da Transwolff circulam normalmente no dia em que MPSP faz operação da empresa por suspeita de ligação com o PCC; na imagem, ônibus da empresa no Terminal Santo Amaro - Metrópoles - Foto: Jéssica Bernardo/Metrópoles

São Paulo — No centro da investigação sobre um suposto esquema de lavagem de dinheiro para o Primeiro Comando da Capital (PCC), a empresa de ônibus Transwolff faturou mais de R$ 3 bilhões nos últimos cinco anos na capital paulista e gerencia dois dos principais projetos da gestão Ricardo Nunes (MDB) no setor: os ônibus elétricos e o Aquático, transporte de barco na zona sul.

A Transwolff foi a única empresa a apresentar proposta para operar em sua área da zona sul na última licitação do sistema de transporte por ônibus da cidade, em 2019. De lá para cá, a empresa já arrecadou R$ 3,2 bilhões, entre subsídios repassados pela Prefeitura de São Paulo e tarifas pagas pelos passageiros. Só no ano passado, foram R$ 754 milhões.

Naquela licitação, concluída pelo então prefeito tucano Bruno Covas (morto em 2021), foram escolhidas empresas para operar em 32 áreas da cidade — todas as áreas tiveram apenas uma empresa concorrente.

Vitrines no transporte

Em 2017, quando a licitação atual ainda estava em discussão, o presidente da Câmara Municipal, Milton Leite (União), articulou uma iniciativa para estimular o ingresso de ônibus elétricos na frota da cidade. Ele apresentou e aprovou um projeto de lei para tornar obrigatória a mudança da matriz energética dos coletivos e, meses depois, visitou a empresa BYD, fabricante desses veículos instalada no interior do Estado. O projeto foi aprovado em dezembro daquele ano e sancionado no mês seguinte.

Em outubro de 2018, a BYD e a Prefeitura firmaram um acordo para testar 15 ônibus elétricos na cidade e os coletivos foram encaminhados par a Transwolff que, segundo as informações divulgadas na época, se ofereceu para operá-los em um programa subsidiado pela São Paulo Transportes (SPTrans).

Com a assinatura da nova licitação, havia determinação de que as empresas de ônibus fizessem uma série de investimentos na frota e trocassem os coletivos a diesel por fontes não poluentes. Contudo, em 2020 e 2021, por causa da pandemia de Covid, período em que as receitas sofreram forte queda por causa das medidas de distanciamento social, esses investimentos foram adiados.

Já em outubro do ano passado, com a crise superada, Nunes anunciou a meta de inserir um total de 2.600 ônibus elétricos na frota da cidade, que é de cerca de 13 mil veículos. Em seguida, o prefeito apresentou o que seriam os primeiros 50 veículos. Metade deles foi adquirida pela Transwolff.

Poucas semanas depois, novamente com a participação do presidente da Câmara, a Prefeitura passou a articular com o governo do Estado a doação de um terreno da Empresa Metropolitana da Água e Energia (Emae) para a construção de um centro de carregar os ônibus elétricos da zona sul  para a Transwolff, que não precisaria investir dinheiro próprio na compra da área particular.

No asfalto e na represa

Em outra frente, também após a pandemia, a Prefeitura passou a se movimentar para cumprir a promessa de implementar o Aquático, projeto que conectará os bairros da zona sul por meio de embarcações que cruzariam a represa Billings. O projeto estava previsto no Plano Diretor e no Plano de Metas da cidade.

A forma de viabilizar a proposta, novamente, envolveu a Transwolff. O entendimento foi que os contratos de ônibus têm como objeto o “transporte público de passageiros” e, por isso, após obter um parecer da Procuradoria-Geral do Município, a gestão Nunes assinou um termo aditivo que repassou a compra dos barcos e a operação do serviço à empresa.

O Aquático, entretanto, ainda não está em operação porque o Ministério Público apontou uma série de irregularidades ambientais na proposta e obteve uma decisão da Justiça paralisando o projeto.

O que diz a Prefeitura

Por meio de nota, a gestão Nunes negou que a Transwofll, empresa suspeita de ligação com o PCC, tenha sido beneficiada pela Prefeitura e disse que ela “assumiu a operação dos serviços mencionados [Aquático e ônibus elétricos] após rigoroso processo licitatório, inclusive com audiências públicas e seguindo o que determina a legislação”.

“A administração do transporte aquático, agora sob intervenção da Prefeitura, está a cargo da empresa porque foi ela a vencedora da concessão para exploração do sistema de transporte municipal em toda aquela região”, diz a Prefeitura.

Em relação à frota de ônibus elétricos, prossegue, “a administração informa que todas as empresas que atuam no setor foram chamadas na ocasião para apresentar um plano de operação para ônibus movidos à bateria”, mas que “de dez empresas, a Transwolff foi a única que atendeu aos requisitos técnicos exigidos, inclusive, metas previstas pelo município de reduzir a emissão de poluentes”.

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