“Vi o Rafa caído sobre a mãe dele”, diz filha de Cupertino sobre crime
Filha de Cupertino, Isabela, hoje com 23 anos, presta depoimento sobre a morte do namorado e da família, mortos pelo pai, Paulo Cupertino
atualizado
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São Paulo — Isabela Tibcherani, filha de Paulo Cupertino, afirmou durante o julgamento do pai, na tarde desta quinta-feira (10/10), que ele era uma pessoa possessiva e que não aceitava o relacionamento da jovem com o ator Rafael Miguel.
Ela estava na garagem da casa da família quando o pai atirou 13 vezes contra Rafael e os pais dele.
O ator e os familiares foram até a residência de Isabela, em Pedreira, , na zona sul paulistana, para falar com Cupertino sobre o namoro dos jovens, que não era aceito pelo pai da garota, então com 18 anos.
Chegando na residência, a jovem não viu o carro do pai, imaginando que ele não estava no local. Foi Cupertino, porém, quem surgiu no portão e puxou Isabela para dentro, na garagem. “Ele me jogou para dentro de casa”.
“Rafael falou ‘vamos conversar’ e segurou o portão. Meu pai disse ‘conversar nada’ e ouvi vários tiros. Me agachei, de costas para o meu pai”, afirmou Isabela ao júri, com a voz embargada, acrescentando somente ter ouvido a dinâmica do crime.
Após os tiros, ela afirmou ter saído de casa. “Me deparo com a cena de três corpos estirados, do Rafa sobre da mãe dele. Me ajoelhei no chão, alguns sons saiam da boca dele. Eu gritava em desespero ‘fica comigo’. Lembro que um vizinho colocou a mão em meu ombro e disse ‘sinto muito’. Achava que o coração dele ainda batia, mas era o meu, acelerado pela situação”.
O namoro, segundo Isabela, a ajudava a aliviar a vida de opressão criada por Cupertino.
Como exemplo, ela afirmou que o pai chegou a mantê-la isolada em casa, sem celular, proibindo-a de falar com outras pessoas por oito meses. “Só minha melhor amiga era autorizada a ir em casa nesse tempo”.
Isabela ficava a maior parte do tempo no quarto, onde não havia janela. A única entrada de ar era de um vitro, no banheiro, que dava acesso para o comércio de auto-peças Cupertino.
Namoro online
Isabela e Rafael se conheceram pela internet. Antes disso, ambos se reconheciam por frequentar o mesmo templo religioso.
Por meio de redes sociais, começaram a conversar, desenvolver afeto e engatilharam um namoro que durou pouco mais de um ano, até o dia do crime.
Isabela afirmou que uma amiga promoveu o primeiro encontro presencial entre os jovens apaixonados, em uma praça.
Como Cupertino, segundo Isabela, controlava seus passos a única liberdade de ir e vir que tinha se restringia ao caminho entre a casa e a escola.
“Desde que me conheço por gente ele é uma pessoa agressiva. Me proibia de tudo, pelo fato de eu ser mulher. Ela falava que eu só iria namorar depois dos 30 anos, se ele fosse deixar”.
Isabela tentou entender o tratamento que o pai lhe dava mas, com o tempo, passou a ter sentimentos de revolta e repulsa.
Espancamentos em casa
Cupertino espancava Vanessa, segundo Isabela, “recorrentemente”. “Se eu chorasse, eu apanhava junto”, disse, acrescentando que a primeira agressão sofrida pela mãe teria ocorrido quando a jovem tinha três anos.
Vanessa, segundo a filha, teria tentado se desvincular de Cupertino, mas sem sucesso. O relacionamento durou 22 anos.
“Desde que eu tenho consciência, minha mãe foi agredida por ele. Ela chegou a ser encarcerada e espancada diariamente. Era difícil”.
A jovem, hoje com 23 anos, se lembra da mãe com o nariz e costela quebradas, marcas de agressões com lâmina de facão nas costas, além de hematomas nos olhos.
Com o tempo, a violência física migrou para a filha.
Em algumas ocasiões, afirmou Isabela, Cupertino quebrou um prato na cabeça dela, a sufocou com pano de prato e quebrou o estrado de uma cama, jogando a filha sobre o móvel.
Isso fez com que Isabela não desejasse mais estar naquele ambiente, momento em que Rafael chegou em sua vida com sua “doçura, delicadeza”. “Ele era um menino excepcional”.
Mais dois acusados são julgados
Além de Cupertino, Eduardo José Machado, conhecido como o Eduardo da Pizzaria, e Wanderley Antunes Ribeiro Senhora serão julgados no mesmo dia por terem ajudado o acusado de homicídio durante sua fuga. O auxílio prestado por ambos na fuga foi apurado pelo Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP).