“Vergonha” e “falta de humanidade”: o pito de Tarcísio na Enel
Em reunião fechada, governador Tarcísio de Freitas faz duras críticas aos dirigentes da Enel e cobra medidas para evitar novo apagão
atualizado
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São Paulo — A reunião de Tarcísio de Freitas (Republicanos), nesta quinta-feira (17/10), com o presidente da Enel, Guilherme Lancastre, representantes de outras empresas de energia, gestores de agências reguladoras e o prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), para tratar do apagão que atingiu a região metropolitana nesta semana, foi marcada por um tom de indignação do governador diante das falhas da empresa. Ao final, Tarcísio deixou claro que é um “opositor” à renovação da concessão da Enel em São Paulo.
Segundo membros do governo presentes, o encontro teve um clima tenso desde o início. Logo ao abrir a reunião, realizada em um salão no segundo andar do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, Tarcísio exigiu informações sobre as ações previstas para os próximos dias. Quando percebeu que não receberia dados concretos, o governador afirmou que queria as informações “para agora”.
“Não sei quanto tempo você precisa para levantar os dados, mas quero isso agora”, disse Tarcísio. “Cinco, dez minutos, meia hora… Mas quero durante esta reunião”, teria dito o governador.
A reunião foi convocada para planejar ações que evitem um novo apagão como o da sexta-feira passada (11/10), que deixou 2,5 milhões de imóveis sem energia. Apenas nesta quinta-feira, seis dias após a tempestade que provocou o colapso, a energia foi restabelecida.
No começo da semana, o governador já havia dito que a Enel deveria “sair do Brasil” e criticado a possível renovação da concessão da empresa.
Tarcísio criticou a Enel, dizendo que a empresa estava “escorada no contrato”, o qual, segundo ele, é mal redigido e favorece a concessionária. Ele afirmou que era inaceitável que uma prestadora de serviço fosse “odiada” por todos, e que a situação deveria ser “uma vergonha” para a empresa.
Ainda de acordo com os interlocutores, o governador disse que faltava “humanidade” à Enel e que, se os executivos da companhia italiana “tivessem vergonha”, sequer cogitariam iniciar um processo de renovação do contrato de concessão, previsto para expirar em junho de 2028.
Nunes, que tem adotado um tom combativo com a Enel desde o início do apagão, optou por não cumprimentar Lancastre ao fim do encontro. Na quarta-feira, ele afirmou que vem conversando diariamente com o executivo, “até de madrugada”, sem obter resultados satisfatórios, razão pela qual decidiu rastrear os caminhões da empresa com câmeras da Prefeitura.
O governador, na terça-feira (15/10), havia intermediado uma reunião de prefeitos com o ministro do Tribunal de Conta da União (TCU) Augusto Nardes para pressionar o órgão federal por medidas para facilitar uma intervenção na Enel ou a extinção do contrato de concessão da empresa. O TCU ainda analisa o caso, mas determinou à empresa a abertura de seu centro de controle aos órgãos paulistas.
A concessão da Enel é de responsabilidade do Ministério de Minas e Energia, do governo federal, e a fiscalização do contrato é de responsabilidade da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Nem Tarcísio nem Nunes falaram com a imprensa após o encontro. O prefeito, que busca a reeleição, vem sendo criticado pelo adversário Guilherme Boulos (PSol) por causa da crise e evitou um debate organizado pela RedeTV!, Folha de S.Paulo e UOL na manhã desta quinta-feira contra o rival.
Ao término da reunião, o comandante da Defesa Civil estadual, coronel Henguel Ricardo Pereira, atendeu jornalistas e anunciou medidas como a presença de agentes do órgão no centro de controle operacional da Enel, o reforço de agentes nas ruas e a disponibilização de geradores de emergência em locais estratégicos para a tempestade prevista para esta sexta-feira (18/10).