Veja novos itens arqueológicos encontrados em obra da Linha 6-Laranja
Novos itens arqueológicos ligados a religiões de matriz africana foram encontrados na obra da estação 14 Bis-Saracura, da Linha 6-Laranja
atualizado
Compartilhar notícia
São Paulo — O movimento Mobiliza Saracura Vai-Vai anunciou o encontro de novos objetos arqueológicos na obra da estação 14 Bis-Saracura, da futura Linha 6-Laranja do Metrô, no centro de São Paulo. Segundo os especialistas do movimento, foram achados na escavação arqueológica peças e vestígios ligados a rituais sagrados de religiões de matriz africana, tais como conchas, um fio de contas, uma escultura de ferro que remete à representação de Exu, entre outros objetos relacionados a ferramentas de divindades africanas.
Os objetos foram encontrados em 25 de setembro deste ano, em um trabalho realizado pela empresa de arqueologia contratada pela construtora da nova linha. No total, mais de 40 mil itens já foram descobertos na escavação, de acordo com o Mobiliza Saracura Vai-Vai.
Território que abrigou no século XIX o Quilombo do Saracura, às margens do rio de mesmo nome, e a escola de samba Vai-Vai, nascida ali em 1930, a região pode ser apontada como um espaço importante de sociabilidade negra, segundo especialistas no tema, como a doutora em ciência da religião Claudia Alexandre. São conhecidos assentamentos para Exu e Ogum no local, por exemplo, segundo estudo da pesquisadora.
“Sobre as experiências negras legadas no território do Bixiga, é urgente que seja considerada uma possível relação entre os recentes achados arqueológicos (…) com as diversas práticas e tradições de matrizes africanas presentes naquele local, que possibilitaram as sociabilidades com o solo e todos os recursos naturais disponíveis e bem mais abundantes no período do antigo quilombo”, disse Claudia Alexandre no Projeto de Educação Patrimonial elaborado pelo Mobiliza Saracura Vai-Vai, protocolado na Câmara Municipal de São Paulo em março de 2023.
Outros objetos encontrados podem datar antes mesmo do século XIX, segundo o movimento formado em 2022 por arquitetos, urbanistas, engenheiros e especialistas em memória e patrimônio para a garantia da construção de uma estação com a preservação histórica do local.
Em nota, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) informou que, até o momento, não recebeu relatório referente aos achados pelo Saracura Vai-Vai. Segundo o instituto, em 25 de setembro foi realizada apenas uma fiscalização de rotina no sítio arqueológico Saracura, junto com a Comissão que vem tratando do tema e acompanhando os trabalhos.
“Todos os artefatos que vêm sendo encontrados ao longo das escavações realizadas pela empresa de arqueologia têm sido estudados por ela para que sejam corretamente identificados. Somente depois desse estudo, é possível obter informações precisas sobre qualquer achado”, informam.
Acompanhamento do Iphan
O Iphan destacou ainda que “tem avaliado e vistoriado o trabalho da empresa de arqueologia contratada, a fim de cumprir seu papel de gestor do patrimônio arqueológico e não tem medido esforços para compatibilizar a implantação das obras do metrô Saracura e as normas de preservação do patrimônio cultural brasileiro, que permitem a conservação e o estudo de relevante material arqueológico referente às memórias de populações que habitaram a região e que contribuíram para a formação histórica do país”.
Já a concessionária Linha Uni, responsável pela Linha 6-Laranja, disse ao Metrópoles que acompanha constantemente os trabalhos de resgate arqueológico.
“No momento, os trabalhos de resgate seguem em andamento, respeitando-se todas as particularidades dos objetos e da história do sítio. A concessionária reafirma que todas as atividades de engenharia possíveis de serem executadas paralelamente ao trabalho de resgate arqueológico já foram concluídas”, diz a nota.
