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Trens de SP: empresa diz que levará dois anos para “equacionar” falhas

ViaMobilidade, empresa que opera linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda, afirma que recebeu trens sem manutenção e sem peças de reposição da CPTM

atualizado

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Marcio Hannas
1 de 1 Marcio Hannas - Foto: Divulgação

São Paulo — Responsável pela operação das linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda da rede de trens de São Paulo, o presidente da ViaMobilidade, Márcio Hannas, afirma que as recorrentes falhas no sistema são resultado de uma frota com manutenção vencida e falta de peças de reposição no mercado.

Em entrevista ao Metrópoles, Hannas Segundo ele, diz que ainda levará dois anos até que os problemas nas duas linhas de trens que cruzam a capital paulista estejam “equacionados”. Desde janeiro de 2022, foram registrados seis casos de descarrilamento de trens em operação com passageiros — não houve mortes.

A falta de manutenção dos trens, segundo o executivo, não era de conhecimento da empresa quando ela assumiu a concessão das linhas 8 e 9, em janeiro do ano passado. Já a falta de peças e equipamentos foi resultado, entre outros fatores, da pandemia de Covid-19, que atrasou investimentos no setor.

Nessa segunda-feira (17/4), a ViaMobilidade anunciou um novo plano de investimentos nas linhas, enquanto o Ministério Público de São Paulo (MPSP) ainda avalia o ingresso de uma ação na Justiça para romper o contrato de concessão.

Confira abaixo a entrevista concedida por Márcio Hannas ao Metrópoles:

A ViaMobilidade tem alegado às autoridades que recebeu equipamentos em condições precárias. Os trens repassados pela CPTM a vocês já tinham falhas?
Os trens cedidos pela CPTM à ViaMobilidade não eram os mesmos trens que circulavam nas linhas 8 e 9. A CPTM tinha os trens da série 8.900, mais novos. Estava estabelecido na licitação, e isso não foi surpresa, que receberíamos trens mais velhos. Eles cederam 54 trens, a maioria da série 7.500, e eles vieram em uma condição de operação muito ruim. Quatro trens não funcionaram. Um até hoje não entrou em operação. Destes 54, 30 vieram com manutenção fora da especificação, sendo que 18 já tinham mais de 1,2 milhão de km rodados sem a revisão geral. Tinha trem com 2 milhões de km rodados a mais sem ter feito a manutenção geral.

E vocês não sabiam que isso poderia comprometer a operação das linhas 8 e 9?

Como esses trens estavam rodando em outras linhas, a gente não tinha condição de parar o trem para poder analisar. Nossa expectativa é que eles viriam em condição de operação. Essa foi nossa maior surpresa do ponto de vista de infraestrutura. Além disso, não veio estoque de peças de reposição desses trens.

Mas o contrato previa o envio de estoque de peças?

O contrato não deixava isso claro. Então, você recebe trens antigos, com necessidades de manutenção. Mas, na hora que você vai para o mercado para comprar peças, elas não são peças de prateleira. São peças que tem que encomendar. Os prazos de entrega são muito grandes, tem peça que não recebemos até hoje. Além disso, é relevante dizer que, durante a pandemia, a demanda nos sistemas metroferroviários do mundo inteiro caiu. As empresas deixaram de fazer investimentos. Quando as pessoas voltaram a circular, essas empresas voltaram a seus fornecedores. A cadeia de fornecimento não estava preparada para essa enxurrada de demanda que veio (depois da pandemia).

Esse é um problema que deveria estar afetando, então, todo o setor, mas parece ser mais agudo com a ViaMobilidade.

O que ocorre é que eu estava começando uma operação. Não tinha estoque nenhum de trilho. A CPTM tem um estoque de trilho. A Vale tem, a MRS tem. Eu não tinha, estávamos começando a empresa do zero. E aí, vou no mercado comprar trilho e não tem. Além disso, tem os equipamentos para dar a manutenção na via. O plano era fazer pedidos de compras e, enquanto não chegavam, iríamos alugar. Mas o governador Tarcísio, enquanto ministro, fez uma coisa boa para o país, mas ruim para a gente (risos), que foi a concessão de várias linhas de carga. E não tínhamos como alugar. Procuramos a CPTM para tentar alugar os equipamentos em semanas específicas. Mas, com a entrada do Ministério Público e início de investigação, os executivos da CPTM ficaram com receio de fechar conosco. Então, travou essa negociação. Estávamos sem equipamentos até agora. A partir de maio, vamos conseguir aumentar a produtividade, quando chegam os equipamentos que conseguimos e vamos conseguir trocar trilhos longos, dormentes.

Há a informação de que, com tantos problemas, vocês têm tido dificuldade de fazer manutenção preventiva nas linhas, apenas a corretiva, depois da falha. Isso continua?

Ainda tem corretivas para fazer, mas a gente já iniciou a preventiva em todas as áreas. A gente terminou as corretivas da rede aérea em janeiro deste ano e, de janeiro para cá, conseguimos começar a preventiva. A gente já tem preventiva de equipamentos de mudança de via, de sistemas de sinalização, de via permanente. Hoje, a gente já conseguiu iniciar todas as preventivas. Agora, ainda tem muita correção a ser feita.

Qual é a expectativa para que essa parte emergencial deve acabar?
Ainda vai demorar uns dois anos. Só no final do ano que vem vamos estar com uma condição de, como eu diria, ter 90% dos problemas mais equacionados em relação àquilo que a gente herdou e teve de corrigir. Isso por causa da nossa janela de manutenção curta, durante a madrugada. Eu não conseguiria resolver os problemas mais rápido, a não ser que pare a operação. De três semanas para cá, temos feito manutenções corretivas durante o dia, programadas, fora dos horários de pico e fim de semana, especialmente as mais associadas com nosso nível de serviço e com a segurança.

Há chances de um novo descarrilamento de trens?

Tomamos todas as ações possíveis para evitar um novo descarrilamento. É uma questão de segurança, que tem que vir em primeiro lugar. Estamos antecipando investimentos que têm a ver com a melhoria da segurança e tomamos todas as ações possíveis, na nossa visão, para evitar um novo descarrilamento. Agora, é como perguntar para uma empresa aérea se o avião dela não cai. A gente luta, trabalha e espera que não, mas obviamente não estamos isentos de uma eventualidade. Mas todo o trabalho está sendo feito para que isso não aconteça.

O que poderia ter sido feito de diferente na concessão para que esses erros não acontecessem?

Essa foi uma preocupação deste governo. Eles nos chamaram para uma reunião específica para uma discussão do que poderia ter sido feito diferente e o que poderia ter sido feito melhor para poder ter uma transição mais suave e menor prejuízo para os clientes, usuários do sistema. Foram elencados vários itens. Essa questão do estoque de peças para reposição, equipamentos para manutenção de via, o tempo para análise da infraestrutura que vai ser recebida, disponibilização da documentação dos sistemas. Isso tudo foi passado para o governo em uma discussão bastante produtiva.

Como o sr. avalia o papel do Ministério Público, que tem pedido o rompimento do contrato de concessão por causa das falhas?

A gente, obviamente, respeita o Ministério Público, até pelo papel institucional que ele tem. Independentemente se eu concorde ou não com o posicionamento e as críticas (do MP), temos que buscar atender. Acho que todos nós temos de olhar o benefício da sociedade. E a gente sabe que tem deficiência do nosso lado. Independentemente de qualquer coisa, não estamos felizes com o nível de serviço que estamos prestando, estamos preocupados com a questão da segurança. Esse foi, inclusive, o motivo de termos reduzido a velocidade dos trens, mesmo sob críticas.

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