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Tortura com sexo oral: ligação de namorada ajudou na prisão de GCMs

Jovem telefonou para namorado, que atendeu celular durante sessão de tortura; familiares gravaram a violência a caminho do salvamento

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Divulgação/Prefeitura Itapecerica da Serra
Foto colorida de GCM bate continência - Metrópoles
1 de 1 Foto colorida de GCM bate continência - Metrópoles - Foto: Divulgação/Prefeitura Itapecerica da Serra

São Paulo — Seis amigos que saíram para andar de moto em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, em maio deste ano, foram abordados por guardas civis municipais (GCMs), porque estavam sem capacete e empinavam as motocicletas, como mostram vídeos feitos pelos próprios jovens.

O que deveria ser uma abordagem de rotina, resultando em multas e em eventual apreensão dos veículos, tornou-se uma sessão de tortura, na qual um dos jovens foi obrigado a fazer sexo oral no amigo, sob ameaças e golpes com pedaços de madeira.

Na tarde daquele domingo (7/5), a namorada de um dos rapazes ficou desconfiada “após diversas tentativas frustradas de contatá-lo”, segundo relatado por ela à Polícia Civil. Por causa disso, a jovem procurou a mãe do namorado, que tinha “um vago conhecimento do local para onde os garotos haviam se dirigido”.

Um grupo de familiares decidiu, então, pegar um carro para procurar pelos seis jovens.

“No trajeto, [a namorada] finalmente consegue estabelecer contato com o celular [do namorado], momento registrado por um terceiro celular empunhado por outro ocupante do veículo. Em referida chamada, atendida sorrateiramente [pela vítima], despercebida pelos guardas, foram captados sons e diálogos do local dos fatos”, diz trecho do inquérito policial, ao qual o Metrópoles teve acesso.

 

Durante a ligação, os familiares conseguiram ouvir um dos guardas ordenando que um jovem fizesse sexo oral em outro. A mãe de um deles chora desesperadamente. Após minutos de agonia, os parentes dos garotos finalmente os encontraram e “presenciaram a atrocidade”, segundo denúncia do Ministério Público de São Paulo (MPSP).

Isso impediu que outros jovens fossem obrigados a fazer sexo oral nos amigos, como foi apurado pelo Metrópoles com fontes que acompanham a investigação.

As vítimas relataram à polícia que, primeiramente, dois GCMs em motos abordaram os rapazes. Em seguida, chegaram mais quatro integrantes da guarda municipal de Itapecerica da Serra. Após a “repugnante e covarde conduta” dos guardas, segundo a Promotoria, mais GCMs chegaram em uma viatura.

A gravação do telefonema feito pela namorada foi referendada pela Polícia Científica, após perícia, e foi usada como prova para o pedido de prisão dos guardas.

A própria corporação ratificou a identidade dos seis guardas envolvidos no caso de tortura. Cinco deles seguem presos. Apontado como responsável por obrigar os dois jovens a fazerem sexo oral, o ex-subcomandante da GCM da cidade Emanuel Formagio (foto em destaque), de 43 anos, está foragido.

Em foto colorida GCMs de costas batem continência dentro de sala - Metrópoles
GCMs de Itapecerica da Serra durante evento de 27 anos da corporação

Os outros cinco GCMs que presenciaram a sessão de tortura foram presos na última terça-feira (15/8). São eles: Gabriel Marques de Souza, 28 anos; Maurício Santos Silva, 37; Washington Maximiano de Araújo, 33; Jhonatas Santos do Amaral, 33; e Ivan Carneiro da Silva, 51.

O delegado Luís Hellmeister, que investiga o caso e pediu a prisão dos GCMs à Justiça, afirmou em entrevista ao Metrópoles que “nunca havia visto um absurdo como esse, em 47 anos de Polícia Civil”.

Em foto colorida GCM fardado usa máscara cirúrgica presa em frente a banner da corporação - Metrópoles
Formagio em foto tirada em 2021, quando era subcomandante da GCM de Itapecerica da Serra

Defesa e prefeitura

Segundo o advogado Cleisson Martins, que representa os guardas Maurício e Jhonatas, os agentes afirmam ser inocentes. A defesa vai pedir a revogação da prisão temporária. Sobre a gravação, eles alegam que houve uma discussão entre um dos guardas e “um menino”.

O advogado acrescentou, nessa sexta-feira (18/8), que o posicionamento vale para os cinco GCMs presos, porque os advogados de todos eles, com exceção de Formagio, chegaram à mesma conclusão sobre as defesas.

No momento da abordagem, acrescentou o advogado, um dos jovens teria ficado nervoso e começado a chutar a própria moto, reagindo à aplicação de multa por manobra perigosa. Então, segundo a defesa dos GCMs, o guarda teria dito “chuta”, em vez de “chupa” — termo alegado pela acusação.

A Prefeitura de Itapecerica da Serra afirmou ao Metrópoles, por meio de nota, que a Corregedoria da GCM pediu acesso ao inquérito policial “para tomar as medidas administrativas cabíveis”, mas que ainda “não recebeu a liberação”. “Permanecemos à disposição da Justiça e da polícia sempre que necessário”, disse a prefeitura.

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