Tortura com sexo oral: GCM foragido já foi investigado em caso com inocentes mortos
Atualmente na Ronda com Motos, GCM Emanuel Formagio teria obrigado jovem a fazer sexo oral em amigo durante abordagem
atualizado
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São Paulo – O ex-subcomandante da Guarda Civil Municipal (GCM) de Itapecerica da Serra, Emanuel Formagio, de 43 anos, é apontado pela Polícia Civil como o responsável pelas ameaças contra dois amigos, dos quais obrigou um a fazer sexo oral no outro, durante uma abordagem em maio deste ano.
O guarda, atualmente integrante da Romucam (Ronda com Motos), segue foragido. A Justiça expediu um mandado de prisão temporária contra ele, de 30 dias, no último dia 10.
Outros cinco GCMs, que presenciaram a sessão de tortura, foram presos na terça-feira (15/8), mediante o cumprimento de mandados de prisão. A abordagem ocorreu no fim da tarde de 7 de maio, na Rua Benedito Pereira Rodrigues, em Itapecerica da Serra, quando os jovens empinavam motos pela via. Parte da violência foi registrada por familiares das vítimas (assista abaixo).
O Metrópoles apurou que somente um dos rapazes realizou o sexo oral, sob ameaça, em um amigo. A violência foi interrompida com a chegada de familiares no local da abordagem. Desde a tortura, a vítima teria tentado se suicidar, por causa do trauma gerado pela ação dos guardas.
“Emanuel Formagio coagiu uma das vítimas a praticar sexo oral na outra, sendo a cena acompanhada pelos demais colegas de farda”, diz trecho de denúncia do Ministério Público de São Paulo (MPSP), ao qual o Metrópoles teve acesso.
O delegado Luís Hellmeister, que investiga o caso e cujo inquérito culminou nos pedidos de prisão dos GCMs, afirmou em entrevista nessa quinta-feira (17/7) que “nunca havia visto um absurdo como esse em 47 anos de Polícia Civil“.
“Já investiguei de tudo em abordagens abusivas, como agressões e violência. Mas nunca tinha visto um absurdo desse, de mandar um rapaz fazer sexo oral em outro, em toda a minha carreira como policial. Isso gerou um trauma incontornável no rapaz”
Inocentes mortos e feridos
Além da ocorrência de tortura, o GCM foragido da Justiça já se envolveu em ao menos dois casos, entre 2019 e 2020, nos quais inocentes morreram ou ficaram feridos.
Em 15 de setembro de 2020, Formagio fazia patrulhamento em Itapecerica da Serra quando se deparou com uma moto, supostamente ocupada por dois criminosos.
Após a ordem de parada, a dupla teria iniciado uma fuga e foi perseguida pelo GCM até a zona sul da capital paulista.
Houve troca de tiros, segundo registros da Polícia Civil, dos quais ao menos um atingiu um pedestre, de 25 anos, que passava pela Estrada do M’Boi Mirim.
A vítima foi encaminhada para o Pronto Socorro Jacira, sem gravidade e a dupla de bandidos fugiu.
No ano anterior, Formagio estava de folga com um amigo, também GCM, além das respectivas namoradas, em um posto de combustíveis em Itaquaquecetuba, região metropolitana.
Era outubro e dois criminosos anunciaram um assalto, às margens do km 37 da Rodovia Ayrton Senna, sentido capital paulista.
Os dois guardas reagiram sacando suas armas e trocaram tiros com os criminosos. A namorada de Formagio e dois ambulantes, todos inocentes, acabaram morrendo após serem feridos por balas perdidas.
O processo de Formagio foi arquivado.
O caso
Enquanto os jovens eram abordados, um deles recebeu uma ligação da namorada, atendida discretamente. A jovem e os familiares das vítimas então começaram a ouvir a sessão de tortura protagonizada pelos guardas. Por isso, gravaram em vídeo o telefonema, em tempo real.
Com base nessas provas, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) ofereceu uma denúncia contra seis guardas, pedindo a prisão temporária deles, que foi expedida pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP).
Os guardas permaneceram foragidos até terça-feira (15/8), quando cinco deles foram detidos. São eles Gabriel Marques de Souza, 28 anos, Maurício Santos Silva, 37, Washington Maximiano de Araújo, 33, Jhonatas Santos do Amaral, 33, e Ivan Carneiro da Silva, 51.
Formagio permanecia foragido até a publicação desta reportagem.
Defesa e prefeitura
Segundo o advogado Cleisson Martins, que representa os guardas Maurício e Jhonatas, os agentes se declaram inocentes. A defesa vai pedir a revogação da prisão temporária. Sobre a gravação, eles alegam que houve uma discussão entre um dos guardas e “um menino”.
O defensor acrescentou, nesta sexta-feira (18/8), que o posicionamento vale para os cinco GCMs presos, porque os advogados de todos eles, com exceção de Formagio, se reuniram antes de seus clientes se entregarem e chegaram à mesma conclusão sobre as defesas.
No momento da abordagem, acrescentou o advogado, um dos pilotos teria ficado nervoso e começou a chutar a própria moto, reagindo à aplicação de multa por manobra perigosa, segundo a defesa. Então, o guarda teria dito “chuta”, em vez de “chupa” — termo alegado pela acusação.
A Prefeitura de Itapecerica da Serra afirmou ao Metrópoles, em nota enviada na tarde desta quinta-feira (17/8), que a Corregedoria da GCM protocolou um pedido de acesso ao Inquérito Policial, “para tomar as medidas administrativas cabíveis, porém não recebeu a liberação”. “Permanecemos à disposição da Justiça e da polícia sempre que necessário”.