Torcedor morto: PM diz que havia 11 policiais com bean bag no Morumbi
Lista vai ser usada para identificar PM responsável pelo disparo de bean bag que matou o torcedor Rafael Garcia na final da Copa do Brasil
atualizado
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São Paulo – O comando do 2º Batalhão de Choque da Polícia Militar (PM) entregou para a Polícia Civil uma relação com 11 nomes de agentes que estariam responsáveis por usar munições do tipo bean bag no esquema de segurança da final da Copa do Brasil, entre São Paulo e Flamengo, disputada no Morumbi.
A lista foi informada na quinta-feira (5/10) e vai ser usada para identificar qual PM foi responsável pelo disparo que matou o torcedor Rafael dos Santos Tercilio Garcia, 32 anos, na noite de 24 de setembro. O são-paulino acabou atingido na cabeça, durante um tumulto no entorno do estádio, e foi socorrido pelos próprios torcedores, carregado em uma escada improvisada como maca, sem ajuda da PM.
O número informado pela PM é superior ao que indicava o relatório de investigação da Polícia Civil. Com base em imagens do tumulto, os investigadores haviam identificado apenas dois policiais carregando espingardas calibre 12, que são usadas para atirar bean bag. Uma das armas não funcionou, de acordo com as filmagens.
O que é a bean bag, munição da PM que matou torcedor são-paulino
Segundo o ofício da PM, obtido pelo Metrópoles, todos os policiais que estavam com bean bag são homens e ocupam patente de soldado (um), cabo (oito) e sargento (dois). Esse contingente desempenhava a função de “atirador de munição de impacto controlado”, de acordo com o documento.
Identificação de PM
Nenhum dos nomes listados constava no primeiro boletim de ocorrência do caso. O ofício é uma resposta à solicitação do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), da Polícia Civil, que pediu a lista dos PMs envolvidos no tumulto registrado na esquina entre as Ruas Jules Rimet e Sérgio Freddi.
Além dos policiais com bean bag, o documento cita outros 45 PMs que estavam, de alguma forma, envolvidos no tumulto que terminou com a morte de Rafael. A lista inclui policiais que estavam à cavalo, em motos e até no blindado que lança jatos d’água para combater distúrbios civis.
“Esclareço ainda que os policiais militares que atuaram diretamente no confronto não portavam câmeras corporais, dessa forma, não há evidências digitais disponíveis”, diz o documento, assinado pelo tenente-coronel Elço Moreira da Silva Junior, comandante do 2º Batalhão de Choque.
Na terça-feira (10/10), o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, classificou o episódio como “tragédia” e afirmou que a PM vai reavaliar o uso de munição do tipo bean bag em controle de tumultos.
“A partir desse trágico caso, [a PM] vai criar um grupo de estudo para, de fato, ver se é viavel ou não e, a partir daí, adotar as medidas necessárias: se cancela o uso, se mantém, se volta à munição antiga de elastômero [bala de borracha]”, afirmou.
Bean bag
As bean bags (saco de feijão, em português) estão sendo usadas desde 2021 pela corporação para conter distúrbios urbanos, como grandes aglomerações, a exemplo do tumulto ocorrido após a final da Copa do Brasil, com o título do São Paulo sobre o Flamengo. Esse tipo de munição é utilizado por instituições de policiamento em países como os Estados Unidos e o México.
Segundo a PM, trata-se de munição de menor potencial ofensivo e menos letal. Ela é utilizada para causar distração a um possível agressor. Ao atingir o suspeito, a força policial ganha alguns segundos – parece pouco, mas pode ser tempo suficiente para solucionar um sequestro, por exemplo.
O objetivo é que a bean bag substitua as balas de borracha gradativamente. A corporação investiu cerca de R$ 620 mil para comprar cerca de 20 mil munições do tipo da empresa americana Safariland.
O material começou a ser comprado pela PM durante a pandemia de Covid. Na época, a PM argumentou que as balas de borracha tinham alguns problemas, como desvios de trajetória do tiro, o que colocaria pessoas em risco.