Tiros na Augusta: carro era alugado e motorista alegou temer sequestro
Motorista Roberto Carlos Ferrés, de 53 anos, foi detido na Rua Augusta após atropelar dois motociclistas e um policial militar (PM)
atualizado
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São Paulo – Preso em flagrante após atropelar três pessoas e causar uma confusão na Rua Augusta, na capital paulista, o motorista Roberto Carlos Ferrés, de 53 anos, alegou que vinha sofrendo perseguição há uma semana e decidiu alugar um carro blindado por temer ser vítima de sequestro.
A versão do suspeito consta no boletim de ocorrência, obtido pelo Metrópoles, registrado no 4º Distrito Policial (Consolação). Ele responde por crimes de resistência e tentativa de homicídio contra dois motociclistas e um policial militar na tarde de quarta-feira (24/1).
Roberto compareceu à delegacia na companhia de um advogado. Aos investigadores, ele afirmou que, ao sair do seu prédio no dia 19 de janeiro, percebeu que estava sendo seguido por outros três carros com películas escuras – um Jeep Renegade verde, outro veículo vermelho e um terceiro, do qual não se lembrava de nenhuma característica.
Na ocasião, diz ter dirigido até a Marginal Tietê e viu que ainda estava sendo perseguido, “notadamente porque quando mudava de faixa, os veículos o acompanhavam”. Segundo afirma, um dos veículo ainda teria emparelhado, mas ele conseguiu fugir e circulou por cerca de uma hora pela cidade para despistá-los.
“Ao retornar para sua residência, conversou com seus familiares e decidiu alugar um veículo blindado, recebendo a ajuda de seu filho e de sua irmã”, declara. O carro escolhido foi o Audi Q5, o mesmo que ele usou para atropelar as vítimas uma semana depois.
Atropelamento
No depoimento, Roberto afirma que, na véspera de ser preso em flagrante, “notou diversos carros”, todos com película escura, parados em uma praça na frente do seu prédio.
“Passou a madrugada toda observando os veículos, os quais possuíam indivíduos no seu interior e a todo momento ligavam, certamente para renovar o ar em seu interior”, diz. Um dos veículos tinha “high light” semelhante aos de viaturas, de acordo com o depoimento.
Na quarta-feira, ele saiu de casa pouco depois do meio-dia e “logo ao deixar o prédio pela saída de baixo percebeu que estava sendo perseguido novamente”.
Na Avenida Paes de Barros, um motoqueiro teria emparelhado, mostrado uma arma de fogo e ordenado que abaixasse o vidro. “A partir daí, saiu em desabalada fuga, sendo constantemente perseguido por motoqueiros, os quais conseguiu atropelar”.
“Somente viu policiais militares no cruzamento com a Rua Augusta e a Rua Dona Antonia de Queiroz, quando seu veículo parou. Questionado, não se recorda de ter atropelado nenhum policial militar e acrescenta que somente agiu assim pois tinha certeza de que estava sendo perseguido com a finalidade de sequestro.”
Vítimas
A versão do motorista é confrontada pelo relato de dez pessoas, incluindo as vítimas, os PMs e testemunhas. Os dois motociclistas afirmaram que estavam parados atrás de Roberto, em um farol da Rua Barão de Iguape, uma via íngreme do bairro da Liberdade, também no centro, quando o motorista deixou o carro descer e derrubou um deles.
Roberto teria fugido em seguida e as vítimas foram atrás. Em outro farol mais à frente, ao ser questionado, o suspeito teria arrancado em alta velocidade e atropelado os dois mais uma vez.
Acionada, a PM conseguiu localizá-lo em um acesso da Rua Augusta. Um dos policiais deu ordem de parada, mas o suspeito a desrespeitou e voltou a acelerar.
“[O motorista] dolosamente arrancou com o veículo em sua direção, primeiro atingido a porta da viatura e na sequência seu próprio corpo, lançando para o alto. Somente não se feriu com maior gravidade em razão de ter saltado e, ao colidir com o para-choque do veículo, acabou sendo lançado à frente”.
Prisão
Os policiais atiraram nos pneus do carro. Segundo o registro policial, Roberto só teria parado de dirigir na Rua Augusta porque estava com “pneus furados e as duas rodas dianteiras retorcidas”.
No depoimento, ele afirmou não fazer uso de nenhum medicamento. O suspeito também fez teste de bafômetro, mas o resultado deu negativo.
“Não se vislumbrou nenhum ato de risco causado pelos motociclistas que justificasse a agressividade da sua conduta. Sequer houve tentativa de agressão física ou mesmo dano ao seu veículo”, escreveu o delegado Guilherme Sabino Correa.
“Roberto estava em seu veículo blindado e tinha três aparelhos celulares consigo, correspondendo a um cenário totalmente a seu favor, nada impedindo que solicitasse ajuda às autoridades de segurança pública caso realmente estivesse se sentindo ameaçado”.