“Tira a mão de mim”, disse aluno de medicina antes de ser morto por PM
Relatório sobre imagens das câmeras corporais acopladas às fardas dos PMs mostram jovem encurralado contra grade antes de ser morto
atualizado
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São Paulo — Um relatório de investigação sobre a morte do aluno de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta aponta que o jovem, de 22 anos, foi encurralado por policiais militares antes de ser baleado em 20 de novembro, na Vila Mariana, zona sul da capital. O documento, que detalha as imagens captadas pelas câmeras corporais acopladas às fardas dos agentes, afirma que as últimas palavras de Marco Aurélio teriam sido: “Tira a mão de mim”.
Em prints anexados ao relatório, é possível ver o estudante sem camisa encostado na grade do portão, que está trancado, enquanto os PMs envolvidos na ocorrência apontam armas para ele.
Segundo a descrição das filmagens, um dos policiais teria dado um chute no abdómen de Marco Aurélio, que segurou sua perna, fazendo com que ele caísse no chão. Nesse momento, o soldado Guilherme Augusto Macedo atira no peito do jovem.
Na última sexta-feira (3), a Polícia Civil pediu a prisão preventiva do policial. O delegado Gabriel Tadeu Brienza Viera, do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), afirmou que, apesar de o estudante ter reagido à abordagem policial, o PM “assumiu o risco do resultado morte, porque usou ilegitimamente a arma de fogo para repelir uma suposta ameaça”.
O PM já havia sido indiciado no inquérito policial militar por homicídio doloso, assim como seu colega que foi derrubado pelo estudante.
Perseguição
A perseguição policial que resultou na morte de Marco Aurélio teve início após o jovem dar um tapa no retrovisor de uma viatura que fazia patrulhamento na região. O jovem correu para o interior do hotel, onde estava hospedado com uma mulher.
Imagens de câmeras de segurança registraram os últimos momentos do estudante com vida. Ele entra correndo no hotel, sem camisa, enquanto é seguido por Guilherme Augusto. É possível ver o PM puxando o jovem pelo braço, com a arma em punho.
O estudante consegue se desvencilhar, quando outro policial, o soldado Bruno Carvalho do Prado, aparece e lhe dá um chute.
No registro da ocorrência, os policiais afirmaram que Marco Aurélio teria tentado pegar a arma de um dos PMs, o que não é mencionado no relatório sobre as imagens das câmeras corporais e também não aparece nas imagens das câmeras de segurança.
Assista:
Quem era o estudante
Marco Aurélio Cardenas Acosta, de 22 anos, estudava medicina na Faculdade Anhembi Morumbi e chegou a gravar músicas com o nome artístico “MC Boy da VM”. No time de futebol da universidade, o estudante era conhecido como “Bilau”.
Em seu perfil no Instagram, Marco Aurélio se descrevia como “mestre de cerimônia” e “compositor”. No Spotify, o estudante publicou duas músicas, nos anos de 2022 e 2023. O jovem fez a última publicação cerca de 30 minutos antes de morrer.
A Associação Atlética Acadêmica de Medicina Anhembi publicou nota de luto pelo estudante: “A Medicina Anhembi manifesta profundo pesar pelo falecimento do nosso querido aluno do internato, Marco Aurélio Cardenas Acosta, apelidado como ‘Bilau’”.
“Neste momento de imensa dor, nos solidarizamos com seus familiares, companheiros de time e colegas, que perderam não apenas um companheiro de jornada, mas também um amigo. Que sua memória seja sempre lembrada com carinho e que sua trajetória inspire a todos nós”, completa o texto.
O time de futebol do curso de medicina também prestou homenagens em seu perfil. “Com grande tristeza viemos comunicar através deste que nosso companheiro de time e amigo, Marco ‘Bilau’ Acosta, veio a nos deixar.”
“Nesse momento de tristeza, a Família Fut Med Anhembi expressa toda a sua solidariedade e carinho por nosso querido amigo e seus familiares. Bilau, sempre nos lembraremos de você com muito amor e carinho”, diz a publicação.