Tio de Cabelo Duro, pivô de racha do PCC, é suspeito de lavar R$ 86 mi
Indiciado em investigação de lavagem do PCC, Adriano Ferreira da Silva é tio de Cabelo Duro, pivô de guerra interna do PCC, morto em 2018
atualizado
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São Paulo – A Polícia Civil paulista indiciou na segunda-feira (10/6) Adriano Ferreira da Silva, de 50 anos, em inquérito que apura lavagem de milhões de reais do tráfico de drogas do Primeiro Comando da Capital (PCC) na Baixada Santista.
Segundo o inquérito, Adriano foi proprietário de uma empresa de transporte de cargas, com sede em Mongaguá, no litoral paulista, que teria movimentado cerca de R$ 86 milhões. O investigado é tio do ex-líder do PCC Wagner Ferreira da Silva, o Cabelo Duro (foto em destaque), executado durante um racha da facção criminosa em 2018.
O suspeito chegou a ter a prisão temporária decretada pela Justiça, mas não foi detido. Ele se apresentou na Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (Dise) de Praia Grande, responsável pelo inquérito, no dia 16 de maio, após o prazo da ordem judicial expirar.
O interrogatório aconteceu na presença de advogado. Aos policiais, o tio de Cabelo Duro negou envolvimento com esquema do PCC, negou relações com outros citados no inquérito e alegou que a atividade da empresa era lícita.
O Metrópoles procurou o advogado de Adriano, por meio do telefone do escritório, mas conseguiu contato. O espaço segue aberto para manifestação.
Lavagem do PCC
Ainda sem conclusão, o inquérito sobre a lavagem do PCC começou em junho de 2023 e teve como primeiro alvo Karen de Moura Tanaka Mori, a Japa, que é viúva de Cabelo Duro e está em prisão domiciliar desde fevereiro. Ela também alega inocência.
Com patrimônio milionário e rotina marcada por viagens internacionais, a Japa do PCC é suspeita de herdar “bens escondidos” do marido e liderar esquemas da facção em Santos, Cubatão e Guarujá, no litoral paulista, e na cidade de São Paulo.
Segundo a investigação, a investigada teria movimentado R$ 35 milhões após a morte do ex-líder da organização criminosa. Grampos policiais também encontraram mensagens entre a Japa e outros suspeitos, em que supostamente trata de depósitos financeiros e de atividades da facção.
Uma das suspeitas é que Adriano seja um dos interlocutores que conversam com a Japa pelo WhatsApp.
Interrogatório
No interrogatório, Adriano negou que tenha proximidade com a viúva do seu sobrinho e disse até que não faz uso de celular desde que saiu da cadeia, “pelo medo de ser envolvido injustamente em alguma investigação policial”. Ele tem passagem por roubo.
À Polícia Civil, o tio de Cabelo Duro também afirmou ter sido o dono da transportadora citada na investigação por menos de um ano. Em depoimento, ele relatou que adquiriu a empresa, “sem pagar um centavo”, após assumir o compromisso de enfrentar uma “alta dívida fiscal”.
Segundo alegou, nesse período, as transações financeiras da empresa eram realizadas por outra pessoa.
O investigado disse, ainda, que não se apresentou para cumprir o mandado de prisão porque teria “graves problemas de saúde em seu coração”. “Não tendo condições de ser recolhido a uma cela de cadeia pois podia agravar o seu estado de saúde e vir a óbito”, diz o documento.
Cabelo Duro
Então líder do PCC na Baixada Santista, Wagner Ferreira da Silva, o Cabelo Duro, de 32 anos, foi assassinado a tiros de fuzil na frente de um hotel, no Jardim Anália Franco, na zona leste de São Paulo. Era fevereiro de 2018.
A morte de Cabelo Duro é um dos episódios mais importantes da história recente do PCC. Na ocasião, ele estava envolvido em uma guerra interna da organização criminosa, marcada por traições e disputas de poder, que causou mudanças na alta cúpula e até pôs em xeque a liderança de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola.
Investigadores afirmam que Cabelo Duro foi morto por vingança após se envolver diretamente na emboscada contra dois líderes históricos do PCC: Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca.
Homens de confiança de Marcola, Paca e Gegê eram da Sintonia Geral Final, a mais alta cúpula da facção, estavam foragidos e passavam férias no Ceará. Eles embarcaram em um helicóptero, que pertencia a Cabelo Duro, com destino à Bolívia, onde ficariam escondidos.
Minutos após a decolagem, o helicóptero pousou em uma clareira aberta dentro de uma reserva indígena em Aquiraz, na Grande Fortaleza. Lá, Gegê e Paca foram executados a tiros.
Gegê e Paca morreram em 15 de fevereiro de 2018. Já Cabelo Duro foi assassinado uma semana depois.