Terra indígena Guarani Mbya, no Jaraguá, ganha “centro de tradições”
Espaço na zona norte promove atividades socioeducativas e programas de convivência; território abrigou primeira mina de ouro do Brasil
atualizado
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São Paulo – A terra indígena Guarani Mbya, no Jaraguá, zona norte de São Paulo, ganhou este mês um serviço de resgate das tradições e culturas do povo indígena. O novo Centro de Convivência Intergeracional (CCInter), uma espécie de “centro de tradições”, vai atender os sete grupos que vivem no local — das aldeias Tekoa Ytu, Tekoa Pyau, Itakupé, Yvy Porã, Ita Endy, Itáwera e Ytu.
A inauguração do CCInter, chamado Estrela do Amanhã, ocorreu este mês por ocasião do Dia Nacional dos Povos Indígenas, celebrado na última sexta-feira (19/4). O objetivo, segundo a Prefeitura de São Paulo, é oferecer um espaço para que a população indígena da capital possa ensinar e perpetuar sua cultura.
O novo equipamento promove atividades socioeducativas, programas esportivos, de cidadania e convivência, além de oferecer proteção social preventiva para situações de risco e vulnerabilidade. Trata-se do primeiro CCInter voltado exclusivamente à população indígena.
Primeira mina de ouro
A Guarani Mbya, menor terra indígena do Brasil, abrigou a primeira mina de ouro do Brasil Colônia. A descoberta foi feita após uma pesquisa liderada por geólogos e arqueólogos do Centro de Arqueologia de São Paulo, que encontrou sinais de exploração de ouro na terra indígena.
A mineração teria acontecido no início da colonização portuguesa, no século 16, e seria a mais antiga descoberta desse tipo no Brasil.
A pesquisa identificou na região indícios de exploração do ouro, que teria sido liderada pelo bandeirante Brás Cubas com uso de mão de obra de pessoas indígenas escravizadas. Segundo os arqueólogos, o pico do Jaraguá teria abrigado a primeira mina de ouro do Brasil Colônia, com registros de exploração do minério após a fundação de São Vicente, em 1532.
Quatro cavas
Grande parte dos vestígios da mineração foi apagada com a expansão da cidade, mas os arqueólogos conseguiram identificar quatro cavas onde o metal era extraído e posteriormente processado pelos indígenas.
As áreas foram tombadas pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo em 2013 e não apresentam mais viabilidade econômica para a mineração.
A preservação arqueológica da área está relacionada à presença do povos indígenas na região. Parte da área onde as cavas foram encontradas pertence à Terra Indígena Jaraguá, demarcada em 1987 — até ser ampliada em 2015, a demarcação de 1,7 hectares era considerada a menor terra indígena do país.