Taxa de proteção: como a GCM se uniu ao PCC para atuar na Cracolândia
Investigação do MPSP apontou que guardas municipais transferiam o “fluxo” de um lugar para outro para extorquir comerciantes locais
atualizado
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São Paulo — Uma investigação do Ministério Público de São Paulo revelou um esquema envolvendo agentes da Guarda Civil Municipal (GCM) e do Primeiro Comando da Capital (PCC) para atuar na região da Cracolândia, região no centro de São Paulo conhecida pela cena aberta de consumo de drogas.
De acordo com as investigações, os guardas municipais atuavam transferindo o chamado “fluxo” de usuários de uma região para outra sob pedido de propina. Era uma espécie de “taxa de proteção”. Os detalhes do esquema foram divulgados pelo programa Fantástico, da TV Globo.
O esquema consistia, segundo a reportagem, em espalhar os dependentes de drogas para uma região de comércio. Em seguida, lojistas daquela região eram extorquidos e tinham que pagar R$ 50 mil por mês para que o “fluxo” fosse retirado de lá. Os usuários eram, então, transferidos — e, daí, a extorsão atingia outros comerciantes.
“Era um oferecimento de um serviço de segurança privada para poder oferecer aos comerciantes uma suposta tranquilidade. Por isso que foi usado o termo milícia”, explicou o promotor Lincoln Gakiya.
As investigações revelaram, ainda, que GCMs e um policial avisavam traficantes locais sobre as operações com antecedência. Em outra frente, os agentes públicos também exploravam a mão de obra dos usuários de drogas em ferros-velhos clandestinos — locais usados para esconder drogas.
Guardas denunciados
No último dia 15, o MPSP denunciou quatro dos guardas municipais investigados por supostamente extorquir comerciantes e moradores da região da Cracolândia.
Em uma das contas financeiras analisadas, foi constatada a movimentação de mais de R$ 240 mil.
Os promotores responsáveis pelo caso também obtiveram um áudio que dizia que caso algo acontecesse com algum dos comerciantes pagantes, 18 guardas civis seriam imediatamente destacados para fazer a segurança do local, o que, segundo o órgão, revelou a prestação de serviços de segurança privada durante o plantão do serviço público.