Tarcísio revoga licitação da Linha 15-Prata e CCR concorda com decisão
Governo Tarcísio de Freitas propôs a revogação e Grupo CCR desistiu de operar Linha 15-Prata, o monotrilho da zona leste envolto em falhas
atualizado
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São Paulo — O governo estadual, sob a gestão de Tarcísio de Freitas (Republicanos), propôs a revogação da licitação da Linha 15-Prata. A decisão acontece em comum acordo, já que o vencedor, o Grupo CCR, também afirma que não vai se opor à decisão. O monotrilho da zona leste de São Paulo, como também é conhecido, está envolto em polêmicas, falhas e brigas judiciais desde antes mesmo do início da sua construção.
Cerca de 80 mil pessoas utilizam diariamente a Linha 15-Prata, que liga a Vila Prudente ao Jardim Colonial. Ela faz conexão com a Linha 2-Verde, de onde os passageiros podem seguir para bairros centrais da capital paulista.
A avaliação de pessoas que acompanham o processo é de que o desinteresse da CCR pela licitação não é por acaso e há algumas hipóteses para isso. O grupo conta com as linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda, dos trens metropolitanos, além das linhas 4-Amarela e 5-Lilás, de metrô. Também é responsável por grande parte das rodovias concedidas pelo governo estadual à iniciativa privada ao longo das últimas décadas em São Paulo.
Uma possibilidade aventada por pessoas ouvidas pelo Metrópoles é a de que problemas ocorridos na operação sejam um desestímulo à vencedora da licitação. Colisões e até a suspensão da circulação do monotrilho por três meses, ainda em 2020, depois que pneus estouraram, foram algumas das graves falhas apresentadas pelo monotrilho.
Outra hipótese é que os custos operacionais do monotrilho foram subestimados e se mostraram mais elevados do que a projeção inicial. Isso reduziria a margem de lucro da empresa vencedora, tornando o negócio menos atraente.
Uma razão apontada é a de que a concessionária esteja esperando uma nova licitação, que vincularia, por exemplo, a futura Linha 20-Rosa (ramal entre a zona oeste e cidades do ABC) à operação da 1-Azul, 2-Verde, 3-Vermelha. Nesse caso, a 15-Prata entraria no pacote, sem custo adicional.
Uma das fontes ouvidas pelo Metrópoles diz, entretanto, que essa última hipótese é menos plausível. “Toda licitação tem um modelo de negócio e ninguém vai receber de graça o monotrilho, os órgãos de controle revisam. Se for lucrativo, vai compensar investimentos feitos em outra linha. Se dá prejuízo, o estado vai ter que aportar recursos ou usar de outra linha lucrativa para equilibrar”, afirma.
Histórico
Os problemas relacionados ao monotrilho começaram ainda na sua fase de projeto. O governo estadual alegava que o custo seria mais baixo e a construção mais rápida que de um metrô convencional. Na prática, isso não se concretizou. Previsto para ser entregue ainda em 2014, o projeto inicial não foi concluído até hoje e a intenção de levá-lo até a Cidade Tiradentes, abortada.
Já à época, especialistas apontavam que o monotrilho seria insuficiente para dar conta da demanda por transporte naqueles bairros da zona leste da capital, superpovoados e carentes de transporte de alta capacidade, como metrô e trem. O ideal, diziam, é fosse construído um metrô convencional, com capacidade para levar mais pessoas e tecnologia já conhecida da companhia estatal.
Também houve disputa na Justiça após a concessão ao Grupo CCR. Em 2019, o juiz Kenichi Koyama acatou a tese apresentada pelo Sindicato dos Metroviários, de que o processo todo de licitação tinha sido desenhado para a vitória de apenas um grupo, e suspendeu o leilão. No fim de 2022, essa decisão foi anulada, abrindo caminho para que a concessionária assumisse a linha, o que não aconteceu.
Para a presidente do Sindicato dos Metroviários, Camila Lisboa, o fato de ser um serviço custoso foi uma das motivações para a desistência por parte do Grupo CCR. “Também acho que a melhor empresa para resolver os problemas dessa má escolha é a estatal, a Companhia do Metrô. Claro, com investimento, recurso público, concurso”, diz.
O que dizem governo estadual e Grupo CCR
Questionado, o governo estadual disse que a concessionária informou “não se opor à revogação, já prevista pelo Estado, da licitação realizada anteriormente para concessão da Linha 15-prata de monotrilho”.
Já a CCR disse que não se oporá à revogação da licitação e aguarda a oficialização da decisão. “A companhia está sempre atenta e aberta a estudar novas oportunidades que venham ao mercado”, afirmou, em nota.