Tarcísio lamenta morte de estudante por PM e promete punição severa
Nas redes sociais, governador Tarcísio de Freitas lamenta morte de estudante de medicina em ação da PM: “Abusos nunca vão ser tolerados”
atualizado
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São Paulo — O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) lamentou a morte do estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta, na madrugada dessa quarta-feira (20/11), ocorrida dentro de um hotel na Vila Mariana, zona sul de São Paulo. Em postagem nas redes sociais, nesta quinta (22/11), o chefe do Executivo paulista garantiu que “abusos não serão tolerados” e prometeu punições severas para os policiais militares envolvidos. As polícias Civil e Militar investigam o caso.
“Eu lamento muito a morte do Marco Aurélio. Essa não é a conduta que a polícia do Estado de São Paulo deve ter com nenhum cidadão, sob nenhuma circunstância. A Polícia Militar é uma instituição de quase 200 anos, é a polícia mais preparada do país e está nas ruas para proteger. Abusos nunca vão ser tolerados e serão severamente punidos”, disse o governador.
Uma câmera de segurança registrou o momento em que o estudante é baleado por um dos PMs. Pelas imagens é possível notar as luzes das câmeras piscando, o que indica que a cena foi filmada (veja abaixo).
Eu lamento muito a morte do Marco Aurélio. Essa não é a conduta que a polícia do Estado de São Paulo deve ter com nenhum cidadão, sob nenhuma circunstância. A Polícia Militar é uma instituição de quase 200 anos, é a polícia mais preparada do país e está nas ruas para proteger.…
— Tarcísio Gomes de Freitas (@tarcisiogdf) November 22, 2024
Estudante morto
O estudante de medicina foi morto por um tiro à queima-roupa de um policial militar durante uma abordagem. Pelas imagens (veja acima), é possível ver o momento em que Marco Aurélio entra correndo no hotel. Ele está sem camisa. Um PM também entra, logo em seguida, e puxa o jovem pelo braço, com a arma em punho.
O estudante consegue se desvencilhar, quando outro policial aparece e lhe dá um chute. O jovem segura o pé do PM, que se desequilibra e cai para trás. Nesse momento, o agente armado dá um tiro em Marco Aurélio.
No B.O., os PMs alegaram que Marco Aurélio Cardenas Acosta estaria “bastante alterado e agressivo” e teria resistido à abordagem policial.
Além disso, o documento aponta que, “em determinado momento, [Marco Aurélio] tentou subtrair a arma de fogo que o soldado [Bruno Carvalho do] Prado portava, quando então o soldado [Guilherme] Augusto efetuou um único disparo, a fim de impedi-lo”.
As imagens do circuito interno do hotel mostram, no entanto, que o PM Augusto atirou após o soldado Prado dar um chute no estudante, ter a perna segurada por ele e cair para trás, desequilibrado. No vídeo (assista acima), não é possível ver Marco Aurélio tentando pegar a arma do agente — ao contrário do que foi narrado na delegacia.
Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), antes do momento registrado no hotel, o estudante “golpeou a viatura policial e tentou fugir”. A pasta também informou que os PMs prestaram depoimento, foram indiciados em inquérito e permanecerão afastados das atividades operacionais até a conclusão das apurações — as polícias Militar e Civil apuram o caso.
Além disso, a SSP afirmou que as imagens registradas pelas câmeras corporais serão anexadas aos inquéritos conduzidos pela Corregedoria da Polícia Militar e pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), apesar de a informação não constar oficialmente no boletim de ocorrência.
Briga
Segundo o relato de uma testemunha à Polícia Civil, identificada como Gabriele Mantey Caetano Elias, o estudante teria pedido para encontrá-la momentos antes do ocorrido.
Ela conheceu a vítima há cerca de dois anos, quando trabalhava como garota de programa. Com o passar do tempo, eles desenvolveram uma relação de afinidade, mas ela continuou cobrando pelos encontros. Por conta disso, atualmente, Marco lhe devia em torno de R$ 20 mil.
Na noite do ocorrido, Marco enviou uma mensagem por volta das 1h30 da madrugada de quarta (20/11) querendo encontrar a mulher, ficar com ela novamente.
Gabriele contou em depoimento que topou encontrá-lo, mas que não pretendia ter relações sexuais. Ela iria cobrar a dívida e ir embora.
Os dois foram ao Hotel Flor Da Vila Mariana, local que já frequentavam. Lá, eles pagaram somente uma hora de permanência. No quarto, Marco Aurélio lhe entregou R$250, e Gabriele lhe disse que iria descontar esse valor da dívida que ele tinha com ela — já que ele a impedia de trabalhar por ciúmes, ao mesmo tempo em que não quitava o que devia.
Nesse momento, ambos começaram a brigar. Quando a jovem tentou fechar a porta, ela sofreu uma agressão na cabeça por parte dele e foi empurrada para longe da porta.
A jovem acredita que o recepcionista tenha ouvido o que ela disse e acionado a Polícia Militar. Ela conseguiu sair correndo do quarto, desceu as escadas e se escondeu em um cômodo para chamar um carro de aplicativo.
Abordagem
Enquanto estava nesse cômodo, Gabriele disse ter avistado Marco Aurélio no portão de acesso do hotel, cercado por dois policiais militares. Segundo ela, um dos agentes perguntou ao estudante por que ele teria batido na viatura. Então, o recepcionista colocou Gabriele em um local em que ela não conseguia ver mais nada.
Foi nesse momento que ela ouviu um disparo de arma de fogo e viu, depois, Marco Aurélio caído no chão.
Quando o resgate chegou, o estudante estava acordado e gritava. Gabriele o acompanhou até o hospital, dentro do veículo. Chegando lá, no Hospital Ipiranga, ele foi atendido e ela ficou do lado de fora.
A família do estudante chegou ao local e começou a ofender Gabriele, segundo ela. A jovem contou que o irmão dele, Pedro Cardenas Acosta, deu um soco em sua cara e a ameaçou de morte. Os policiais militares afastaram a briga e levaram Gabriele para a delegacia, onde a jovem depôs.
Quem era o estudante
Marco Aurélio Cardenas Acosta, de 22 anos, estudava medicina na Faculdade Anhembi Morumbi e chegou a gravar músicas com o nome artístico “MC Boy da VM”. No time de futebol da universidade, o estudante era conhecido como “Bilau”.
Em seu perfil no Instagram, Marco Aurélio se descrevia como “mestre de cerimônia” e “compositor”. No Spotify, o estudante publicou duas músicas, nos anos de 2022 e 2023. O jovem fez a última publicação cerca de 30 minutos antes de morrer.
Luto
A Associação Atlética Acadêmica de Medicina Anhembi publicou nota de luto pelo estudante: “A Medicina Anhembi manifesta profundo pesar pelo falecimento do nosso querido aluno do internato, Marco Aurélio Cardenas Acosta, apelidado como ‘Bilau’”.
“Neste momento de imensa dor, nos solidarizamos com seus familiares, companheiros de time e colegas, que perderam não apenas um companheiro de jornada, mas também um amigo. Que sua memória seja sempre lembrada com carinho e que sua trajetória inspire a todos nós”, completa o texto.
O time de futebol do curso de medicina também prestou homenagens em seu perfil. “Com grande tristeza viemos comunicar através deste que nosso companheiro de time e amigo, Marco ‘Bilau’ Acosta, veio a nos deixar.”
“Nesse momento de tristeza, a Família Fut Med Anhembi expressa toda a sua solidariedade e carinho por nosso querido amigo e seus familiares. Bilau, sempre nos lembraremos de você com muito amor e carinho”, diz a publicação.