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Sob influência de Derrite, Tarcísio troca coronéis e abre crise na PM

Influenciado pelo secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, Tarcísio trocou 34 coronéis da PM, incluindo o nº 2 da corporação

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Governo do Estado de São Paulo/Divulgação
PCC Imagem colorida do governador de São Paulo Tarcísio de Freitas sentado ao lado do secretário de Segurança Pública Guilherme Derrite. Os dois estão vestidos de terno e gravata
1 de 1 PCC Imagem colorida do governador de São Paulo Tarcísio de Freitas sentado ao lado do secretário de Segurança Pública Guilherme Derrite. Os dois estão vestidos de terno e gravata - Foto: Governo do Estado de São Paulo/Divulgação

São Paulo — A série de mudanças promovidas nesta quarta-feira (21/2) pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) em postos-chave da Polícia Militar (PM), sob influência do secretário da Segurança Pública (SSP), Guilherme Derrite, pegou de surpresa oficiais da corporação e já abriu uma crise na instituição, segundo oficiais da ativa e da reserva.

Ao todo, mais de 30 coronéis foram transferidos por “conveniência de serviço” e a percepção é a de que o caos está instalado na corporação desde já. Grande parte dos oficiais removidos dos cargos seriam contrários aos métodos usados nas operações da PM na Baixada Santista, que já mataram quase 60 pessoas em supostos confrontos com policiais, e favoráveis ao uso de câmeras corporais por PMs, ambas posições que desagradariam Derrite.

Até mesmo o número 2 da corporação, o subcomandante José Alexander de Albuquerque Freixo, foi removido do posto, apesar da permanência do comandante-geral Cássio Araújo de Freitas, algo apontado como, no mínimo, incomum por oficiais da PM. Em seu lugar entra José Augusto Coutinho, que estava no Comando de Policiamento de Choque.

Exonerado da função, Freixo deixa o Estado-Maior e seguirá para uma posição considerada de quinto nível entre coronéis, que é o comando da Escola Superior de Sargentos, no Tatuapé, zona leste da capital.

Entre oficiais, a avaliação é a de que Tarcísio deveria ter sido alertado pelo secretário Guilherme Derrite sobre as possíveis consequências negativas de tantas mudanças na cúpula da PM, de maneira tão drástica quanto as promovidas agora, por questão de lealdade, uma vez que o governador não conhece a fundo a corporação paulista.

Derrite saiu da própria PM em 2018, como capitão, para ingressar na carreira política, quando se candidatou e foi eleito deputado federal.

As mudanças publicadas como atos do governador no Diário Oficial impactam diversos setores da corporação, afetando do centro de inteligência à comunicação social, além de diversos órgãos de formação de praças e oficiais.

“Os coronéis, na maioria esmagadora, são a favor da colocação das câmeras corporais [nos uniformes]. Uma das razões é por dar transparência à atividade de policiamento, garantir a lisura na prestação do serviço público. Outro lado é político. Se resolver a questão da violência policial, você resolve 80% dos problemas da PM”, afirma um coronel que pediu para não ser identificado.

As transferências teriam como objetivo colocar em postos de comando pessoas alinhadas à remoção das câmeras e favoráveis aos métodos empregados nas operações no litoral, alvo de críticas pela violência e motivo até de apelação à Organização das Nações Unidas (ONU). Aqueles que deixaram os cargos e que serviriam como barreira aos interesses de Derrite iriam, naturalmente, sair da corporação, após as trocas para funções menos prestigiadas.

Mas não é isso que deverá acontecer. Nas conversas entre coronéis, já há quem defenda a permanência dos dissidentes na corporação para não entregá-la ao grupo mais próximo do secretário da Segurança Pública.

“É coisa de moleque”, disse um oficial sobre a atitude de Derrite com as mudanças. “É um caos. Estou conversando com outros coronéis. Confesso que não sei como ele vai sair dessa encruzilhada”, afirma, dizendo nunca ter visto tantas mudanças de uma só vez em meio a uma gestão.

A avaliação é a de que secretários de Segurança Pública, em geral, não costumam se colocar como centro de conflitos, justamente o oposto do que Derrite fez com as mudanças na PM.

Entre os muito experientes, a avaliação também é negativa. Coronel da reserva, José Vicente da Silva entrou na corporação há 61 anos e avalia de forma crítica as mudanças. “Me preocupa esse tipo de alteração que não atende a tradição e a cultura da Polícia Militar, que é de preservar a hierarquia. Houve uma mudança colocando coronel muito mais moderno [que ingressou depois] para comandar outro mais antigo. Isso cria um mal estar, algo que não faz bem para a instituição”, disse.

Impactos

Um dos coronéis ouvidos pela reportagem afirmou que, salvo engano, nunca houve mudança dessa magnitude na cúpula da corporação. Apesar disso, o oficial disse que não vislumbra impactos negativos para os escalões subordinados, “apesar do desconforto aparente dos coronéis mais antigos que, eventualmente, foram substituídos”.

O oficial ressaltou também que “a PM é disciplinadíssima, hierarquizada, conhece e reconhece seus valores e princípios”. “Portanto, dentro do contexto, consideraria normal, se foi julgado necessário todo esse movimento interno. Em certo sentido, em alguns setores, renova-se condutas e procedimentos, muitas vezes, onde há necessidade de mudanças e inovações”, disse.

O que diz a SSP

Questionada, a atual gestão da Secretaria da Segurança Pública (SSP) diz que “reconhece e valoriza o trabalho dos policiais paulistas e informa que, desde o início do ano, uma série de promoções por mérito e movimentações de rotina foi efetivada junto às polícias Civil, Militar e Técnico-Científica do Estado”.

“Tais medidas são planejadas e executadas a partir de critérios estritamente técnicos com o objetivo de aprimorar constantemente a atuação policial e reforçar a segurança de toda a população”, afirma, em nota.

 

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