Tabata diz que Marçal é o Jogo do Tigrinho: “Ferra um monte de gente”
A deputada federal Tabata Amaral (PSB) foi a primeira entrevistada da série de sabatinas do Metrópoles com os candidatos à Prefeitura de SP
atualizado
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São Paulo – Candidata à Prefeitura da capital pelo PSB, Tabata Amaral justifica, em sabatina promovida pelo Metrópoles, por que elegeu Pablo Marçal (PRTB) como alvo preferencial de sua campanha, embora diga que seu principal adversário na disputa é o prefeito Ricardo Nunes (MDB).
Segundo a deputada federal, Marçal é uma “ameaça” para a cidade. Ela afirma que passou a pesquisar sobre a trajetória do influencer depois que ele gravou conteúdos com ataques a ela, entre os quais uma entrevista feita em julho na qual a culpou pela morte do próprio pai, que era dependente químico, quando ela tinha 18 anos.
“Aí é quando eu começo a entender quem é Pablo Marçal e começo a ver os processos, a ver as matérias, e me choca descobrir tudo isso que eu descobri junto à minha equipe”, diz. “Ele não é só um cara de ideologia extrema, um cara com propostas malucas. Ele é um criminoso”, afirma.
Desde então, Tabata tem chamado o adversário de “criminoso” e associado ele ao tráfico de drogas com base nas suspeitas de ligação entre seus aliados e o Primeiro Comando da Capital (PCC). Ela também acusa o rival de liderar uma “máfia digital” para se promover nas redes sociais e, em entrevista ao Metrópoles, compara o candidato do PRTB ao Jogo do Tigrinho, um caça-níquel on-line, por vender ao eleitor um “caminho fácil” que “destrói gente”.
“[Marçal] chamou essa atenção toda porque está vendendo sonho. Porque ele vira para as pessoas, nesse contexto de tanta dificuldade, e diz: ‘Você vai enriquecer, você vai prosperar, você não vai depender do salário mínimo, da CLT, que muitas vezes é tão sufocante’. Só que o Marçal é a aposta do Tigrinho. É esse o caminho que ele oferece”, afirma Tabata.
A deputada federal foi a primeira a participar da série de sabatinas do Metrópoles com os cinco candidatos à Prefeitura de São Paulo mais bem colocados nas pesquisas eleitorais. Além de Tabata, foram convidados Guilherme Boulos (PSol), Ricardo Nunes (MDB), Pablo Marçal (PRTB) e José Luiz Datena (PSDB). As entrevistas vão ao ar entre os dias 10 e 20 deste mês. O primeiro turno ocorre no dia 6 de outubro.
“A grande polaridade que está posta é: a gente vai no Jogo do Tigrinho, que ferra comigo, com um monte de gente, para uma pessoa se beneficiar? Porque é isso que o Marçal faz. Ele ferra com todo mundo para ele poder se beneficiar. Ou a gente vai para um caminho de querer lutar por mais, mas um caminho mais sério, um caminho mais moderado? É isso que está posto na mesa”, completa a candidata do PSB.
Nas últimas pesquisas de intenção de voto, Tabata apareceu pela primeira vez em quarto lugar, à frente de Datena, desde o início oficial da campanha, em agosto. Ela nega que tenha centrado fogo no influencer para ficar mais conhecida entre os eleitores e critica Nunes e Boulos por terem poupado Marçal enquanto o candidato do PRTB não era visto como uma ameaça às duas campanhas adversárias.
“Esse cara é uma ameaça para São Paulo. Então, todo o esforço que eu fiz com aqueles vídeos [de campanha contra Marçal] não foi para ganhar mais atenção ou para ganhar mais voto”, afirma Tabata.
Segundo ela, Marçal está “pagando em dinheiro vivo para que as pessoas o promovam de forma ilegal nas redes sociais” e será alvo de mais uma ação de sua campanha na Justiça Eleitoral. Tabata também associa Nunes ao crime organizado por ter recebido dinheiro de uma entidade investigada na chamada máfia das creches e por causa da atuação do prefeito diante das suspeitas de ligação de empresas de ônibus com o PCC.
“Tudo o que eu trago em relação ao Ricardo Nunes é baseado em operações, é baseado em investigações. Quando eu falo da máfia das creches, não é porque eu estou inventando, é porque existe um depoimento dizendo que ele recebeu dinheiro da máfia das creches e ele está sendo investigado pela Polícia Federal. Se isso procede ou não, a população vai fazer um julgamento político no dia da eleição e a Justiça vai fazer o seu papel”, diz Tabata.
Na sabatina, a candidata fala sobre temas como educação, propondo escolas temáticas no ensino integral; segurança pública, defendendo integração da prefeitura com as polícias; mobilidade, com o redesenho das linhas de ônibus; além de prometer acabar com as 72 cracolândias da cidade em quatro anos e combater as enchentes.
Confira abaixo os principais assuntos da sabatina e a íntegra da entrevista no canal do Metrópoles no YouTube:
Educação
Tabata afirma que vai criar escolas em tempo integral “temáticas”, voltadas para áreas como música, tecnologia, línguas e esportes. A ideia é que as crianças tenham atividades no contraturno escolar ligadas a assuntos específicos, de acordo com a área de interesse dos alunos.
A distribuição de temas entre as escolas vai ser estudada com a rede e deverá levar em consideração a demanda dos estudantes por cada assunto. A candidata também promete fazer a municipalização de escolas da rede estadual de educação depois que conseguir melhorar a qualidade de ensino na rede da prefeitura.
“Quando isso acontecer e eu puder dizer: ‘pai, mãe, na escola municipal, a merenda é melhor, é em tempo integral, seu filho está aprendendo mais’, aí sim, eu volto o foco para trazer quem está fora. Mas antes é melhorar para quem está dentro”, diz a candidata.
Cracolândias
Tabata promete acabar com as 72 cracolândias que existem na cidade até o fim do mandato, em 2028. “Isso está comendo a cidade por dentro”, afirma. A deputada diz que atuará em três frentes para lidar com o problema: o combate ao crime organizado, o tratamento para os dependentes químicos e a assistência social voltada ao futuro dos usuários depois de deixarem as clínicas.
“Vai dar um trabalho do cão. Provavelmente, é a coisa mais difícil que tem diante da gente. É trabalhar com o Ministério Público, com liderança religiosa, com a imprensa. Mas eu não consigo pensar numa cidade que olhe com orgulho para cima e [esteja] entregue às 72 cracolândias”, afirma Tabata.
Segurança Pública
A candidata diz que vai criar um sistema integrado de gestão de dados para combater a criminalidade. O projeto prevê reunir informações de áreas como zeladoria, segurança pública e até dados meteorológicos para pensar soluções para as diferentes regiões da cidade.
“Esse trabalho de dados, gestão, tecnologia, é para você saber: ‘olha, nessa rua teve um estupro, o que aconteceu? Tem uma pessoa ali, vamos atrás dela. O poste está queimado? É uma questão de zeladoria’”, explica Tabata sobre a proposta.
O projeto é inspirado em um programa criado em Nova York para lidar com a segurança, ainda nos anos 1980. Chamada de “Compstat”, sigla para “Compare Stats”, ou comparar estatísticas em tradução livre, a iniciativa norte-americana já foi copiada em 2019 pela gestão do ex-prefeito Bruno Covas (PSDB), que anunciou na época o “Compstat Paulistano”. Tabata diz que o projeto de Covas nunca saiu do papel de fato.
“O que o Bruno colocou do Compstat Paulistano, na prática, não saiu do papel. Primeiro, porque houve um atraso gigantesco na aquisição das câmeras [de monitoramento]. Segundo, que a gente nunca foi para uma fase que é essencial, que é você ter um trabalho conjunto das polícias, ter isso na agenda do prefeito e fazer um trabalho territorializado”, afirma.
A candidata diz que irá fazer reuniões mensais com as polícias e a Guarda Civil Metropolitana (GCM) para debater os dados. Questionada sobre a dificuldade histórica de integração entre a prefeitura e as polícias, que estão sob comando do governo estadual, Tabata diz que é a única candidata que tem diálogo tanto com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) quanto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Mobilidade
Apesar de prometer em agendas de campanha que vai fazer a maior expansão da rede cicloviária da cidade, Tabata não detalhou quantos quilômetros vai construir e onde eles estarão, afirmando apenas que “o foco é a periferia”.
Segundo a candidata, o desenho final da nova malha cicloviária vai depender de outro projeto seu: o de redesenhar as linhas de ônibus da cidade.
“Não dá para falar de transporte público, o que envolve ciclovia e ciclofaixa, sem um grande redesenho das linhas de ônibus. Para que elas sejam mais diretas, mais eficientes, para que a gente tenha menos perda de dinheiro no processo, mas para que o trabalhador da periferia possa ir para o seu trabalho o mais rápido possível”, diz.
A candidata afirma que lugares que tiveram grande crescimento populacional nos últimos anos, por exemplo, devem receber novas linhas de ônibus, e que o redesenho levará em consideração os trajetos já atendidos pelo metrô e pelo trens da CPTM.
Enchentes
Tabata afirma que uma de suas principais preocupações para a cidade neste momento são as enchentes que acontecem todos os anos no verão. “Essa é uma das coisas que mais me angustiam, até como candidata, porque eu sei que eu vou chegar em janeiro [data da posse], a gente vai ter chuva forte e uma prefeitura que não se planejou para isso”, diz.
A deputada federal argumenta que para diminuir os impactos dos temporais na vida das pessoas pretende começar a trabalhar no problema assim que for eleita, antes da posse. A ideia é terminar ainda neste ano o Plano Municipal de Redução de Riscos, que traz alternativas para lidar com os pontos críticos para desastres ligados a fatores ambientais na cidade.
“A prefeitura mapeou 800 pontos muito críticos que, na primeira chuva, já dá merda, tem desmoronamento, tem alguma área que alaga. Dos 800 pontos críticos, o prefeito Ricardo Nunes fez planos apenas para 100. Ou seja, tem 700 pontos mapeados que não têm plano nenhum. Essa é a primeira coisa que eu espero fazer antes de assumir a prefeitura”, promete.
Depois de criar um plano de curto prazo para reduzir os riscos para a população desses locais, a candidata afirma que vai se debruçar para desenvolver o Plano Municipal de Adaptação às Mudanças Climáticas, que trará soluções em longo prazo que devem ser buscadas pela capital, como o aumento de áreas verdes para melhorar a drenagem do solo.