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Suspeito de lavagem, Da Cunha acumulou R$ 491 mil além do declarado

Deputado Delegado Da Cunha é investigado pela Polícia Civil por suspeita de lavagem de dinheiro e réu por agressão e ameaça à ex-mulher

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Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
O deputado Delegado Da Cunha, do PP de São Paulo
1 de 1 O deputado Delegado Da Cunha, do PP de São Paulo - Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

São Paulo — Além de ser réu em ação que o acusa de espancar e ameaçar a ex-mulher, o deputado federal Carlos Alberto da Cunha (PP-SP), conhecido como Delegado Da Cunha, de 46 anos, é investigado pela Corregedoria da Polícia Civil por suspeita de lavagem de dinheiro através do seu canal no YouTube, por meio do qual ele se projetou divulgando vídeos de ações policiais e atingindo mais de 3,6 milhões de inscritos.

Relatório elaborado pelo Laboratório de Tecnologia contra Lavagem de Dinheiro, a pedido da 1ª Delegacia de Crimes Funcionais da Corregedoria, mostra que Da Cunha recebeu em suas contas bancárias R$ 1,46 milhão — sem considerar resgate de aplicações, empréstimos ou estornos — entre janeiro de 2018 e outubro de 2021, auge de suas publicações como youtuber.

Segundo o documento, elaborado em dezembro de 2022, o valor é R$ 491,5 mil superior aos R$ 974,5 mil de rendimentos declarados por Da Cunha no mesmo período. Somente em 2021, foram R$ 511,5 mil de crédito na conta do atual deputado, ante R$ 295 mil de receita bruta declarada — à época, ele recebia cerca de R$ 10 mil de salário como delegado de 1ª classe.

Quando concorreu a deputado federal em 2022, Da Cunha declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) possuir um total de R$ 266,9 mil em bens, sendo R$ 100 mil em um carro e R$ 105 mil em ações de uma empresa. No relatório, os técnicos do laboratório contra lavagem de dinheiro chamaram a atenção para a “incompatibilidade patrimonial” do delegado youtuber.

O relatório destaca ainda que Da Cunha recebeu R$ 128 mil via Pix de um sobrinho suspeito de ser laranja e R$ 121,4 mil por meio de depósitos em dinheiro vivo. Entre 2020 e 2021, também foram feitas 35 transferências no valor total de R$ 320 mil pelo empresário Thiago Gea Salles Santos e uma empresa dele do ramo de fios e cabos elétricos. Segundo a polícia, Santos possui uma frota de carros de luxo avaliada em R$ 3,5 milhões.

Procurado pelo Metrópoles, o advogado Eugênio Malavasi, que defende Da Cunha, afirmou que a investigação ainda está em uma “fase muito inicial” e que “o deputado sequer foi ouvido”. Por isso, afirma que não irá se manifestar sobre o relatório do Laboratório de Tecnologia contra Lavagem de Dinheiro. “Com relação ao relatório, tudo é contestável, tudo será esclarecido”, diz.

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O deputado federal Delegado da Cunha em vídeo publicado na internet
Da Cunha alega que há ciúme em relação ao seu sucesso na corporação
Delegado já foi afastado das ruas por ter chamado policiais de "ratos"
Carlos Alberto da Cunha tem de 43 anos,
Deputado Delegado Da Cunha
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Sucesso no YouTube, delegado Da Cunha têm mais de 3 milhões de seguidores

Reprodução/Instagram
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O deputado federal Delegado da Cunha em vídeo publicado na internet

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Da Cunha alega que há ciúme em relação ao seu sucesso na corporação

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Delegado já foi afastado das ruas por ter chamado policiais de "ratos"

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Carlos Alberto da Cunha tem de 43 anos,

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Deputado Delegado Da Cunha

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Operação policial com cineasta

Da Cunha sempre negou que tivesse monetizado seu canal no Youtube enquanto era delegado — ele foi afastado das atividades externas e teve arma e distintivo recolhidos em julho de 2021 —, mas chegou a pagar R$ 14 mil mensais a uma equipe do cineasta James Salinas para filmar e editar as operações policiais que depois exibiria na plataforma.

Foi uma dessas ações policias cinematográficas, a prisão de Wislan Ramos Ferreira, o “Jagunço do Savoy”, em 2020, que colocou Da Cunha na mira da Corregedoria da Polícia Civil. Policiais que participaram da operação afirmaram em depoimento que o então delegado decidiu adiar a captura do bandido por um dia para que sua equipe do Youtube pudesse registrar toda a ação em vídeo.

Da Cunha chegou a ser indiciado pela Corregedoria por peculato — crime cometido por funcionário público que usa o cargo em benefício próprio —, por supostamente usar a estrutura policial para gravar vídeos e se promover. A pedido do Ministério Público de São Paulo (MPSP), entretanto, o inquérito foi arquivado.

Em julho de 2023, o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) decidiu devolver a arma e o distintivo do deputado federal. Na ocasião, o parlamentar publicou vídeo agradecendo ao governador de São Paulo e ao secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite.

Réu por agressão

Em outubro do ano passado, a Justiça paulista aceitou a denúncia do MPSP contra Da Cunha por lesão corporal decorrente da violência doméstica, ameaça e dano qualificado. O deputado é acusado pela ex-mulher, a nutricionista Betina Raísa Grusiecki Marques, de 28 anos, de espancá-la, ameaçá-la de morte e depois destruir seus pertences, no apartamento em que o casal vivia em Santos, no litoral paulista, na noite de 14 de outubro. Ele nega o crime.

“Todos os crimes foram praticados porque a vítima é do sexo feminino, e em circunstâncias que caracterizam a violência doméstica”, escreveu o promotor Rogério Pereira da Luz Ferreira na denúncia. “O denunciado assim agiu porque vivia em união estável com a vítima e decidiu atacá-la simplesmente por essa razão.”

No último domingo (17/3), o programa Fantástico, da TV Globo, exibiu um vídeo gravado por Betina que mostra o parlamentar proferindo insultos e ameaças contra a mulher. “Pode parar, senão vou te matar aqui”, diz Da Cunha em um trecho da gravação. Em nota, a defesa dele afirma que “houve uma discussão conjugal, sendo que o deputado apenas conteve sua ex-companheira e, quando a soltou, sofreu um violento golpe na testa, sendo gravemente ferido”.

Polêmicas

Em julho de 2021, ainda antes de ser eleito deputado federal, o delegado Da Cunha teve que entregar a arma, o distintivo e as algemas por ordem do então delegado-geral Ruy Ferraz Fontes.

Na ocasião, o delegado havia chamado policiais civis com mais de 55 anos de “ratos” e “raposonas”, durante participação no podcast Flow. Para a corporação, Da Cunha havia usado “linguagem inadequada” e feito “comentários depreciativos à imagem institucional”.

Na mesma época, ele já havia motivado polêmica e causado desconforto na cúpula da Polícia Civil ao publicar uma foto como se estivesse deflagrando sozinho uma operação na Cracolândia. A ação, no entanto, nunca ocorreu oficialmente.

Já em setembro de 2021, o delegado Da Cunha também admitiu, durante uma live no seu canal, que encenou uma ação de resgate em um cativeiro na favela Nhocuné, na zona leste da capital. A vítima, na verdade, havia sido resgatada por outros policiais.

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