Suspeito de elo com PCC, chefe da Upbus é preso após “café proibido”
Ubiratan Antonio da Cunha estava afastado do cargo e impedido de se aproximar da sede da Upbus; ele é um dos alvos da Operação Fim da Linha
atualizado
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São Paulo — O presidente afastado da empresa de ônibus Upbus, Ubiratan Antonio da Cunha, foi preso nesta terça-feira (16/7), em cumprimento a um mandado expedido pela Justiça de São Paulo. Ele descumpriu determinação judicial de manter-se afastado da empresa, tendo, inclusive, comparecido a um café em que estava o atual interventor da companhia.
O dirigente é réu pela prática dos crimes de lavagem de dinheiro e organização criminosa, e suspeito de envolvimento com o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Ubiratan foi um dos alvos da Operação Fim da Linha, deflagrada em abril. A investigação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo (MPSP), resultou na denúncia de 26 investigados em um suposto esquema de lavagem de dinheiro do PCC por meio de empresas de ônibus da capital.
Quando a operação foi deflagrada, a Justiça determinou que toda a cúpula das companhias investigadas fosse afastada. A SPTrans, empresa municipal que administra o sistema, assumiu a operação de ambas por meio de interventores nomeados pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB).
No último dia 5 de junho, a Polícia Civil foi informada de que Ubiratan estava descumprindo a determinação que o impedia de frequentar a sede da empresa. Os fatos foram comunicados ao Ministério Público, que entrou com um pedido de prisão.
Posteriormente, o MPSP descobriu que, na mesma semana, o interventor nomeado pelo município para administrar a Upbus foi atraído por funcionários sob o pretexto de tomarem um café em um estabelecimento nas redondezas da garagem. Ubiratan estava esperando por ele no local, em afronta à decisão judicial. O processo corre em segredo.
PCC no volante
Para o Ministério Público, o PCC usou diversos métodos, da cooptação à ameaça, para assumir a presidência de parte dessas cooperativas que foram regularmente criadas no início dos anos 2000. A Prefeitura, contudo, não adotou nenhuma medida efetiva para coibir o ingresso de perueiros ligados ao tráfico de drogas no sistema.
O ex-secretário municipal Jilmar Tatto (PT) chegou a ser alvo de um inquérito policial com outras sete pessoas, suspeitas de ligação com o crime organizado. A polícia, entretanto, não reuniu indícios suficientes para denunciá-lo à Justiça.
Após a regularização, segundo o MPSP, os traficantes e assaltantes de banco filiados ao PCC passaram a ter segurança para investir nas cooperativas, mantendo ônibus tanto para arrecadar com o serviço de transporte de passageiro quanto para lavar dinheiro oriundo do tráfico e de outros crimes. Nesse esquema, motoristas de ônibus, que deveriam ser os verdadeiros cooperados, eram funcionários da facção ou laranjas.
Uma das provas dessa prática foi uma correspondência, descoberta em maio de 2012, entre dois dos membros da chamada “Sintonia Final Geral”, o núcleo de comando do PCC que fica abaixo apenas de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder máximo da organização.
Na carta, em meio a ordens que incluem até a determinação de um assassinato, havia instruções para que Daniel Vinícius Canônico, o Cego, vendesse um micro-ônibus que mantinha na SPTrans e repassasse o dinheiro para a facção. No lugar do veículo vendido, ele receberia um micro-ônibus novo de Roberto Soriano, o Tiriça, chefão do PCC que hoje trava uma disputa interna com Marcola.