Suspeita ganha medida protetiva contra policiais que a prenderam
Mulher presa suspeita de integrar quadrilha de sequestradores afirmou ter sido torturada em delegacia para indicar cativeiro de vítimas
atualizado
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São Paulo — Toda a equipe que atuou na prisão de uma quadrilha de sequestradores, sexta-feira (27/9) em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, está proibida de se aproximar de uma integrante do bando, após ela relatar em audiência de custódia que havia sido supostamente torturada na delegacia da região metropolitana.
A medida protetiva foi expedida após o juiz Lucas Garbocci da Motta determinar a soltura de todos os presos em flagrante, no sábado (28/9), em uma audiência de custódia na qual o pedido de prisão preventiva da quadrilha, feito pela Polícia Civil, foi negado.
Os policiais de Itaquaquecetuba, de acordo com a decisão judicial, precisam manter uma distância mínima de 100 metros da suspeita de sequestro.
Como revelado pelo Metrópoles, a vendedora Angélica Cristielly Silva Galindo, de 30 anos, afirmou durante audiência de custódia ter sido asfixiada com uma sacola plástica, colocada na cabeça, e agredida com tapas no rosto e puxões de cabelo.
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De acordo com o relato de Angélica, os policiais fizeram isso para que ela informasse onde ficava o cativeiro de um casal de empresários, vítimas de sequestro.
A suspeita foi levada à Delegacia de Itaquaquecetuba após ser flagrada, por policiais militares, com objetos pessoais das vítimas, entre eles celulares de alto padrão, na zona leste da capital paulista.
Ela estava acompanhada de Laércio Duarte, 24 anos, foragido da Justiça e com passagens por roubo e extorsão mediante sequestro. Com ele havia comprovantes de transações bancárias e maquininhas de cartão, usadas para a movimentação do dinheiro das vítimas.
Os outros dois participantes do crime, Mateus Costa da Silva, 27, e Wagner Guilherme Monteiro Diogo, 46, foram foram presos na casa do último, usada como cativeiro das vítimas, em Itaquaquecetuba.
A defesa dos suspeitos não foi localizada pela reportagem. O espaço segue aberto.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) afirmou ao Metrópoles, por meio de nota encaminhada nesse domingo (29/9), que caso seja constatada “qualquer irregularidade” por parte dos policiais civis denunciados por suposta tortura, as condutas serão “rigorosamente investigadas” pela Corregedoria da instituição.
As solturas
A audiência de custódia por videoconferência, à qual o Metrópoles teve acesso, começa com o depoimento de Angélica Cristielly Silva Galindo.
Quando ela é questionada pelo juiz Lucas Garbocci da Motta se havia sido agredida pela polícia em algum momento da prisão, ela afirma que sim. A suspeita é, então, interrompida pelo defensor público que a representa.
“Senhora Angélica, essa informação a senhora não tinha passado em entrevista reservada. Como os demais doutores aqui, eu também fui surpreendido com isso. Mas saiba que a Defensoria vai acompanhar seu caso e sua situação aí agora”.
Aos prantos, Angélica relata que teria sido asfixiada com uma sacola plástica, agredida com tapas no rosto, além de ter os cabelos puxados pela equipe policial que trabalhava na noite de sexta-feira. Ela não negou, em nenhum momento, participação no crime de sequestro e acrescentou não ter histórico criminal, além de ser mãe de cinco filhos. Depois dela, a Justiça ouviu os outros presos.
O Ministério Público se manifestou de forma favorável à soltura de Angélica, por causa da suposta tortura, e solicitou que Wagner Guilherme Monteiro Diogo, Mateus Costa da Silva e Laércio Duarte tivessem as prisões em flagrante convertidas para preventivas, ou seja, por tempo indeterminado.
Juiz solta sequestradores após suspeita relatar tortura em delegacia
A Defensoria Pública, porém, se posicionou para que todos respondessem às acusações em liberdade. A sugestão foi acatada pelo juiz. Somente Laércio foi encaminhado ao sistema carcerário, mas por causa de um mandado de prisão relacionado a outro crime pelo qual ele estava foragido.
Para justificar a soltura da mulher, o juiz afirmou ter considerado o relato dela “verossímil”, “a não ser que a senhora Angélica seja uma excelente atriz”. Mesmo sem nenhum laudo confirmando as denúncias, o magistrado acrescentou que “o agente estatal não pode apurar um crime cometendo outro”.
Além de soltar toda a quadrilha, a Justiça ainda expediu a medida protetiva na qual determine que toda a equipe de policiais civis mantenha distância mínima de 100 metros de Angélica.
Apesar da soltura dos suspeitos, o juiz afirmou que o caso de sequestro é grave e que a investigação de crime precisa continuar, não descartando a eventual prisão do trio que foi para as ruas em liberdade condicional.