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SP não tem verba suficiente para exames previstos na Lei das Saidinhas

Lei das Saidinhas exige exame criminológico em presos para progressão penal, mas verba prevista na LDO de Tarcísio não contempla demanda

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1 de 1 Imagem colorida mostra o governador Tarcísio de Freitas - Metrópoles - Foto: Divulgação/Governo de São Paulo

São Paulo — Defendida pelo governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) como ferramenta para reduzir a criminalidade, a Lei das Saidinhas traz um instrumento que vai provocar um impacto milionário que não está previsto no orçamento do Estado do ano que vem.

A Lei das Saidinhas foi sancionada em abril presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Parte do texto, que acabava com a saída temporária de detentos em datas comemorativas, havia sido vetado por Lula, mas os vetos foram derrubados há duas semanas pelo Congresso.

O trecho da lei sancionado por Lula determina que, para que possa progredir de regime — do fechado para o semiaberto, por exemplo —, o cidadão preso terá de ter sua boa conduta atestada pelo diretor do estabelecimento penal em que estiver e passar por um exame criminológico que o ateste apto a receber tal direito.

O exame não é exatamente um novidade, uma vez que há previsão legal para que ele seja requerido desde a década de 1980. Mas não era obrigatório. Entretanto, ele é uma ferramenta considerada obsoleta por estudiosos, dado que o consenso atual de quem se debruça sobre o assunto é que há uma infinidade de dificuldades de se “prever” se um preso pode ou não voltar a cometer um crime – o laudo que se espera de tal exame.

O Conselho Federal de Psicologia, por exemplo, enviou um parecer contrário à exigência do exame ao Senado durante a discussão da lei. “Não é um meio eficaz de avaliação psicossocial; ao contrário, serve a um propósito classificatório, taxativo, segregador e estigmatizante, que fundamenta o exercício do poder de punir, não tendo um arcabouço
teórico válido e confiável”, diz trecho do parecer. Mesmo assim, a proposta passou na Casa.

Impactos no orçamento

Além de ter a eficiência contestada, a nova medida necessita de um financiamento extra que não foi considerado pelo governo Tarcísio na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) enviada para a Assembleia Legislativa (Alesp) no fim de abril. É a partir da LDO que o governo elabora o orçamento do próximo ano, que será enviado até setembro para análise e aprovação dos deputados.

A LDO prevê que o Estado paulista fará 8.400 exames criminológicos em detentos no ano que vem. Contudo, dados do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), compilados em uma nota técnica assinada pela Defensoria Pública e por outras entidades públicas e civis, mostram que ao longo de 2023 foram recebidos 102.016 pedidos de progressão de regime no estado.

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Tarcísio de Freitas e Jair Bolsonaro
Tarcísio assina acordo com o presidente Lula e o vice, Geraldo Alckmin
Tarcísio de Freitas dá início à operação do Tatuzão nas obra da Linha 2-Verde do Metrô de São Paulo
Tarcísio e o prefeito da capital, Ricardo Nunes
Tarcísio de Freitas, na B3, durante leilão do Trecho Norte do Rodoanel
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O governador Tarcísio de Freitas, durante balanço de fim de ano, em 2023

Francisco Cepeda/Governo do Estado de SP
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Tarcísio de Freitas e Jair Bolsonaro

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Tarcísio assina acordo com o presidente Lula e o vice, Geraldo Alckmin

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Tarcísio de Freitas dá início à operação do Tatuzão nas obra da Linha 2-Verde do Metrô de São Paulo

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Tarcísio e o prefeito da capital, Ricardo Nunes

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Tarcísio de Freitas, na B3, durante leilão do Trecho Norte do Rodoanel

Governo do Estado de São Paulo
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Tarcísio de Freitas participa da Marcha para Jesus em São Paulo

Fabio Vieira/Metrópoles

Dessa forma, a proposta de diretrizes para o Orçamento apresentada por Tarcísio contempla menos de 9% da demanda de exames que a nona regra vai trazer. A LDO foi enviada à Alesp em 30 de abril, 19 dias após a Lei da Saidinhas ter sido sancionada por Lula, no dia 11/4.

A mesma nota técnica assinada pelas entidades estimou que 0s 102 mil exames criminológicos devem custar aos cofres do Estado ao menos R$ 66 milhões no ano que vem.

O interesse do governo Tarcísio na aprovação da lei foi tamanho que o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, se licenciou do cargo para retomar o mandato de deputado federal e trabalhar a favor do projeto na Câmara dos Deputados, em abril.

Restrição de direitos

O Justa, organização social que atua no campo da economia política da Justiça, articulou com deputados de oposição a Tarcísio na Alesp a apresentação de uma emenda para aumentar a previsão de exames criminológicos na LDO do ano que vem.

Na gestão pública, LDO estabelece diretrizes para o Orçamento do ano seguinte. Após sua aprovação, o governo tem de elaborar a Lei do Orçamento Anual (LOA), que prevê as receitas e fixas as despesas para que os indicativos da LDO sejam cumpridos.

Felippe Angeli, coordenador de advocacy do Justa, ressalta que a legislação brasileira garante aos detentos o direito de não cumprir uma pena mais pesada do que a qual tem direito.

“O que poderá acontecer é uma enxurrada de pedidos de habeas corpus nos tribunais”, afirma Angeli. Isso porque, segundo ele, detentos que já tiverem direito à progressão de regime terão de recorrer à Justiça para requerê-lo se não puderem ter acesso ao direito por falta de exame criminológico.

“O governo tem um discurso que fala de controle de gastos e responsabilidade fiscal, mas defende uma proposta para a segurança pública que pode trazer impactos milionários para o Orçamento, de um lado, e tem a eficiência contestada pelos especialistas da área, de outro”, afirma. “Não está se planejando para cumprir a própria lei que tanto apoiou”.

Por meio de nota, a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) informou que “já está fazendo reavaliação para readequação nos recursos disponíveis para contemplar o aumento na contração de profissionais visando realização do exame”, mas não disse quando isso será feito e nem os valores.

Na nota, a pasta afirmou que “além dos profissionais concursados e que já atuam dentro da própria Secretaria, o exame criminológico está no escopo dos procedimentos realizados por profissionais de nível superior dos cursos de serviço social, psicologia e medicina com especialização em psiquiatria, contratados via credenciamento”.

“Com as mudanças na legislação de execução penal”, diz a nota, “a secretaria deve dar continuidade e ampliar o credenciamento desses profissionais”.

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