SP: tragédia completa uma semana, e moradores tentam não ser desalojados das próprias casas
Uma semana após tragédia que matou 64 pessoas em SP, moradores da Vila do Sahy ainda convivem com lama e não sabem se poderão ficar em casa
atualizado
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São Sebastião (SP) — A tragédia que matou 64 pessoas no litoral norte de São Paulo completa uma semana neste domingo (26/2), e os moradores da Vila do Sahy, em São Sebastião — local mais atingido pelos deslizamentos de terra causados pela chuva — estão divididos entre o trabalho de limpeza de casas e ruas, que ainda não parou, e a incerteza sobre poder continuar ali.
Por toda a Vila, há moradores que insistem em permanecer nas casas que foram atingidas pela enxurrada de lama, mas não tiveram a estrutura danificada. Só em São Sebastião, há 1.627 pessoas sem lar por causa da tragédia, segundo a prefeitura local. Em todo o litoral norte paulista, são cerca de 3,4 mil, de acordo com o governo do estado.
Veja imagens da região após o desastre:
Os bombeiros ainda buscam ao menos uma pessoa desaparecida; por isso, o trabalho com retroescavadeiras e outros tipos de maquinário pesado continua na manhã deste domingo (26/2). Fora da área de buscas, tratores seguem carregando a lama retirada das casas — ou os móveis e eletrodomésticos inutilizados por ela — nas ruas do bairro.
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A professora aposentada Iracy Silva, 67 anos, observa esse trabalho do alto. A casa dela foi construída no segundo andar de um imóvel, em uma das ruas da Vila do Sahy, e escapou ilesa da lama. No sábado (25/2), a área passou por limpeza.
“Mas, hoje de manhã [domingo], ela amanheceu toda suja de novo, porque conseguiram limpar algumas casas e jogaram aqui as coisas que tiraram [dos outros lotes]”, conta a professora, que disse não lamentar o ocorrido, pois sabia que não havia outra opção: é preciso acumular o lixo para que os tratores peguem.
Iracy é maranhense e trabalhou fazendo faxinas em condomínios de luxo até os 54 anos, quando se formou em pedagogia e passou a dar aulas de alfabetização para adultos. Aos 56, concluiu a pós-graduação. O imóvel onde vive — um bem-ventilado apartamento com dois quartos, sala, cozinha e área externa — é reflexo dessa vida de luta.
Agora, Iracy se pergunta se poderá continuar ali, como fazem os demais vizinhos. Boatos não faltam. No grupo de WhatsApp da igreja frequentada pela professora, circulou, no sábado (25/2), um mapa com o que seria uma delimitação feita pela Defesa Civil da Vila do Sahy.
Contornada de laranja, a metade ao fundo do bairro estaria condenada por ser área de risco, segundo a mensagem. A outra metade, circulada de vermelho, seria liberada. Iracy vive nesta segunda área.
A Defesa Civil havia informado ao Metrópoles que a decisão sobre a liberação ou interdição dos imóveis dependerá de avaliações individuais, que ainda não ocorreram. “A gente não sabe o que vai fazer de verdade. Falei ao meu marido para voltarmos para o Maranhão. Ele diz para continuarmos aqui, porque essa casa, hoje, não vale o mesmo que valia até sábado passado [18/2]”, conta Iracy.
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Moradias
O governo do estado de São Paulo começou, no sábado (25/2), a hospedar, na rede hoteleira da região, moradores desabrigados pelas chuvas. Os recursos às 40 pessoas atendidas foram doados por uma instituição financeira.
Entretanto, o próprio Poder Executivo reconhece que a medida tem eficácia temporária e estuda ações definitivas. Também no sábado (25/2), uma área de 10,6 mil metros quadrados foi desapropriada pelo governo, na Barra do Sahy, o luxuoso bairro vizinho da vila atingida pela lama. A iniciativa visa construir moradias populares no local.