SP: inverno começa com vagas insuficientes em abrigos para população de rua
Neste inverno, cidade de São Paulo oferece 24 mil vagas para pessoas em situação de rua, mas população sem teto pode passar de 50 mil
atualizado
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São Paulo – A cidade de São Paulo chega nesta quarta-feira (21) a mais um inverno sem conseguir oferecer acolhimento a todas as pessoas que estão em situação de rua.
Ao todo, a rede socioassistencial da capital paulista tem 22 mil vagas em serviços de acolhida, dado que sobe para quase 24 mil nesta época do ano, com a abertura de espaços emergenciais durante a Operação Baixas Temperaturas.
Mesmo assim, o número total passa longe de atingir as mais de 30 mil pessoas que dormem ao relento na cidade mais rica do país, segundo dados do último Censo da Prefeitura, realizado em 2021.
O gargalo pode ser ainda maior se for considerado o número de pessoas cadastradas no CadÚnico e que afirmam viver nas ruas: mais de 50 mil.
Só neste ano, e antes de o inverno ter começado, a Pastoral da População de Rua contabilizou cinco mortes de moradores nas ruas da cidade. A suspeita principal é o frio, mas o padre Júlio Lancellotti afirma que o dado nunca vai aparecer nos atestados de óbito.
“Não é uma patologia que é detectada nos exames necroscópicos. Então, quando vai para o IML, sempre é considerada morte suspeita”, afirma.
Governo prepara regulamentação da Lei Padre Júlio Lancellotti
A gestão municipal afirma que aumentou de 15 mil para 22 mil o número de vagas em serviços de acolhimento da cidade entre 2022 e 2023, um crescimento de 46%.
As vagas emergenciais, no entanto, diminuíram entre a última Operação Baixas Temperaturas e a deste ano. Em 2022, eram 3.175 espaços. Em 2023, até agora, foram abertas 1.719 vagas, distribuídas em equipamentos como Centros de Acolhida, Centros Esportivos e Núcleos de Convivência.
Outra mudança entre o último inverno e o deste ano foi a criação do programa Vila Reencontro, que oferece moradias provisórias para famílias sem-teto.
O programa prioriza famílias com crianças e que estão na rua há menos tempo. A iniciativa foi inspirada no modelo housing first, adotado em outras cidades do mundo e que oferece moradias para pessoas em situação de rua.
O modelo adotado por São Paulo, no entanto, é criticado por especialistas por ter um caráter temporário.
“A Vila Reencontro seria ideal se ela não fosse uma moradia temporária. É como se a população de rua fosse uma mercadoria. Terminou o seu tempo, agora você vai ter que virar”, critica o presidente do Movimento Estadual da População em Situação de Rua, Robson Mendonça.
Ele acredita que dar uma solução definitiva para o aumento da população de rua passa por oferecer casas para essas pessoas, além de trabalho e assistência social.
Sopa e cobertores
Sem quantidade suficiente de vagas nos abrigos para atender a todos, as pessoas que dormem ao relento contam com a ajuda de doações para se proteger do frio.
Projetos como o Casulo pra Rua, que distribui sacos de dormir, e o SP Invisível, que entrega moletons, se tornaram referência na atenção a essa população, assim como igrejas e outras entidades que oferecem doações de sopa, cobertores e meias.
A Prefeitura de São Paulo também realiza a entrega de cobertores e sopa nas tendas da Operação Baixas Temperaturas.
A gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) afirma que desde o início da Operação, no dia 30 de abril, até segunda-feira (19), foram realizados 182.844 atendimentos nas tendas, com a distribuição de 90.805 cobertores e 718.585 itens de alimentação, como sopa, pão, chocolate quente, chá e água.
As tendas também são pontos de referência para quem procura acolhimento. Segundo a pasta de Assistência e Desenvolvimento Social, os atendimentos até segunda-feira resultaram em 31.187 acolhidas.
Sem tenda na Sé
Robson Mendonça acredita, no entanto, que os pedidos de acolhimento poderiam ter sido ainda maiores se não houvesse uma mudança na Operação deste ano.
Desta vez, não há nenhuma tenda instalada na Praça da Sé, local que é considerado referência para serviços de distribuição de doações. Agora, o lugar mais próximo para os atendimentos da Operação Baixas Temperaturas é a Praça da República.
“Tem pessoas com deficiência que não conseguem chegar até lá”, afirma Robson. Em nota, a Prefeitura afirmou um serviço itinerante da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania vai atuar na Praça da Sé durante o mês de julho.