SP: em meio a suspeitas de fraude, Etec descobre furto de 54 notebooks
Após afastamento de diretor Mauro Gut, acusado de improbidade, diretora interina descobriu que 54 notebooks haviam desaparecido da unidade
atualizado
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São Paulo – A Polícia Civil de São Paulo investiga o furto de 54 notebooks de uma escola técnica estadual em Cidade Monções, na zona sul da capital. Segundo o relato de funcionários, o desaparecimento dos equipamentos teria sido comunicado ao antigo diretor da unidade, Mauro Araújo Gut, em julho. No entanto, Gut teria ignorado a denúncia e, em outubro, foi afastado por suspeita de improbidade em outra investigação.
O caso ocorreu na Escola Técnica Estadual Jornalista Roberto Marinho. O furto dos notebooks só foi notificado à polícia em 12 de dezembro, pela diretora que substituiu Gut no cargo, Priscila Ribeiro Brustelo de Souza.
No boletim de ocorrência, registrado no 96º Distrito Policial, ela afirma que foi informada sobre o sumiço dos equipamentos por funcionários que foram até o almoxarifado da escola para buscar um notebook para configurar uma impressora. No local, eles constataram que as caixas de 52 máquinas novas estavam vazias. Mais tarde, teriam percebido que outros dois notebooks também haviam sumido.
Um dos funcionários relatou à diretora que o antigo chefe da Diretoria de Serviços, departamento que cuida de questões administrativas da unidade, Alfredo Baucia, teria alertado ao antigo diretor do colégio, Mauro Gut, sobre o sumiço dos equipamentos em julho. E que ele, no entanto, não tomou providências.
Funcionários ouvidos pelo Metrópoles em reservado dizem que os notebooks furtados foram recebidos pela Etec entre 2021 e 2023. Alguns deles foram designados para a implementação de um projeto do governo do estado para a realização de estudos tecnológicos entre os alunos, as chamadas “Salas Maker”.
Segundo os funcionários, de agosto para cá, o depósito em que eram armazenados os notebooks passou a ser um local de “extrema restrição”, que era acessado por pessoas ligadas à diretoria.
Uma delas seria Ester Maximiano de Andrade Silva, aprovada para ser professora na Etec em um concurso com suspeitas de fraude. A candidata foi acusada de ter acesso às questões antes da prova antecipadamente. Ao Metrópoles, Ester negou as acusações, disse ter sido acusada injustamente e que a investigação foi arquivada pelo Ministério Público de São Paulo.
Suspeita de improbidade
O afastamento de Mauro Gut, em outubro, se deu por suspeita de improbidade administrativa. O chefe da Diretoria de Serviços, Alfredo Baucia, e três professores também foram afastados: Juliana de Sousa Lamas, Sullivan Franco Junevass e Fernanda Caroline Bernardo Sant’Ana. A decisão do Centro de Educação Tecnológica Paula Souza, que administra a Etec, atendeu a um pedido do Ministério Público de São Paulo.
O grupo é acusado de envolvimento em um esquema de desvio de recursos que funcionava a partir do agendamento de aulas que não aconteciam. A diretoria é acusada de incluir na grade de horários dos alunos disciplinas para as quais não havia professor.
De acordo com a denúncia, isso criava o pretexto para o agendamento de aulas falsas de reposição online, que deveriam ocorrer por meio da plataforma Teams, e os professores substitutos designados recebiam os repasses referentes às aulas inexistentes.
As suspeitas são corroboradas pelo ponto eletrônico dos professores, que indica que eles não trabalhavam nas datas e horários previstos para as disciplinas. O processo corre em segredo de Justiça.
Achaque a funcionários
O Centro Paula Souza (CPS) é uma autarquia do governo do Estado de São Paulo, vinculada à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação. O órgão é responsável por 228 Escolas Técnicas no estado.
Funcionários da Etec Jornalista Roberto Marinho ouvidos pelo Metrópoles afirmam que o CPS foi conivente com Gut durante anos. “Mauro Gut estava na escola havia 12 anos. Há 12 anos ele é alvo de denúncias. Ninguém nunca fez nada”, diz um professor.
Ele afirma que o diretor perseguia funcionários que faziam denúncias contra sua gestão. Segundo o professor, Gut criava sindicâncias para obrigá-los a se defender diante da Procuradoria-Geral do Estado.
“Era um assédio administrativo. Ele inventava uma acusação e, mesmo que não desse em nada, você tinha que ficar se defendendo. E isso custa caro”, afirma.
“Teve um professor que foi alvo de quatro sindicâncias. Uma delas foi instaurada porque a assistente do Gut marcou a orientação do trabalho de um grupo de alunos em um dia em que o professor responsável não iria à escola. Isso naturalmente gerou uma discussão entre o professor e a assistente. Na sindicância, colocavam lá ‘machismo’, ‘agressão’, coisas do tipo, e ele tinha que responder”, completa o funcionário da escola.
Suposta fraude em concurso
Aliados de Mauro Gut que foram afastados juntos com ele em outubro de 2023 também estiveram envolvidos em uma suspeita sobre a realização de um curso para a Etec Roberto Marinho para a disciplina “Desenvolvimento de Jogos para Web II”, regido pelo Edital n.º 253/2022.
Segundo a denúncia investigada pela 2ª Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social de São Paulo, “a candidata Ester Maximiano de Andrade Silva, professora de Ensino médio e técnico contratada por prazo determinado, lotada na Etec Jornalista Roberto Marinho, teria acesso antecipado às questões da prova escrita a pedido da coordenadora Fernanda Caroline Bernardo Sant’Ana, em decorrência de uma troca de favores”.
Fernanda Caroline Bernardo Sant’Ana foi uma das funcionárias da Etec afastadas do cargo em outubro de 2023 por suspeita de improbidade administrativa, junto com Mauro Gut.
O diretor de serviço Alfredo Luiz Baucia e os professores Juliana de Sousa Lamas e Sullivan Franco Junevasso, que também foram afastados em outubro do ano passado, compunham a comissão interna da Etec que inicialmente seria responsável pela realização do concurso anulado.
Em meio às suspeitas, o Departamento de Gestão de Seleção de Docentes e Auxiliares de Docentes, do Centro Paula Souza, decidiu que, na verdade, o concurso deveria ter sido conduzido pela diretoria de uma outra escola técnica, a Etec Abdias do Nascimento. Com isso, o concurso foi anulado.
Mauro Gut
Questionado pelo Metrópoles sobre as acusações, Mauro Gut disse estar afastado e não ter conhecimento dos fatos. Ele não comentou as suspeitas que levaram ao seu afastamento. “Em resposta ao seu questionamento, estou afastado das minhas funções desde novembro e não tenho conhecimento dos fatos”, disse.
O Metrópoles também procurou Alfredo Baucia, Juliana Lamas, Sullivan Junevasso, Juliana de Sousa Lamas e Fernanda Caroline Bernardo para comentar as acusações, mas não obteve retorno.
Em nota, o Centro Paula Souza disse que tomou “todas as medidas legais cabíveis” e afastou os envolvidos “imediatamente”.
“O Centro Paula Souza (CPS) informa que a nova direção da Etec Jornalista Roberto Marinho fez Boletim de Ocorrência e abriu procedimento de apuração preliminar sobre o desaparecimento dos computadores, constatado em 11 de dezembro de 2023. Em relação aos outros fatos mencionados na denúncia anônima, a instituição tomou todas as medidas legais cabíveis. As pessoas envolvidas foram imediatamente afastadas, em atendimento à recomendação do Ministério Público. Encontram-se em andamento apurações preliminares com objetivo de investigar as situações apresentadas. É importante ressaltar que o CPS adota uma política de transparência em seus atos no dia a dia, visando preservar a instituição como modelo de ensino público de qualidade para a população de São Paulo”, afirma a instituição.
Ester Maximiano de Andrade Silva não foi localizada antes da publicação da reportagem. Posteriormente, ela entrou em contato com o Metrópoles e afirmou ser vítima de falsas acusações.
Ela nega ter tido acesso às questões antes da prova antecipadamente e diz que não teve nada a ver com o furto dos computadores.
“A denúncia de fraude na qual fui acusada injustamente foi arquivada pelo Ministério Público por falta de provas. Gostaria de enfatizar que fui contratada pelo Centro Paula Souza por meio de um contrato temporário, realizado através de um concurso simplificado, e não por concurso público”, conclui ela.