metropoles.com

SP desviou R$ 40 bi da Educação para bancar aposentadorias em 5 anos

Gestões usam orçamento da Educação para cobrir gastos com previdência, em vez de investir em melhorias na rede estadual de ensino

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Divulgação / Governo de SP
Imagem colorida mostra sala de aula vazia em SP. Local tem quatro fileiras com mesas brancas e cadeiras verdes - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida mostra sala de aula vazia em SP. Local tem quatro fileiras com mesas brancas e cadeiras verdes - Metrópoles - Foto: Divulgação / Governo de SP

São Paulo — O governo de São Paulo deixou de aplicar quase R$ 40 bilhões na Educação paulista nos últimos cinco anos para bancar os pagamentos de aposentadorias.

O valor calculado pelo Metrópoles corresponde ao montante que foi retirado da verba destinada à manutenção e ao desenvolvimento do ensino público para cobrir o déficit da previdência de servidores da educação, entre os anos de 2018 e 2022. A soma final foi corrigida pela inflação no período.

Só neste ano, entre os meses de janeiro e agosto, mais de R$ 9 bilhões destinados ao ensino foram empenhados em gastos com as aposentadorias.

O orçamento da educação está na mira da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), que enviou à Assembleia Legislativa uma proposta de emenda à Constituição (PEC) para flexibilizar o valor aplicado no ensino paulista.

A Constituição Estadual determina que o governo destine pelo menos 30% da receita líquida com impostos para o ensino público. O percentual é maior do que o exigido pela Constituição Federal, que estabelece piso de 25% da arrecadação para a Educação.

A ideia de Tarcísio é criar um dispositivo legal que permita transferir os 5% “extras” da Educação para a área da Saúde, quando o governo julgar necessário.

A medida tem sido criticada por especialistas em educação, que afirmam que não há sobra de dinheiro na área e denunciam o histórico de descaso com o cumprimento do piso estadual.

Histórico de descumprimento

Em 2000, uma CPI na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) apontou que o percentual mínimo obrigatório de 30% para a educação já não era cumprido.

O relatório final da comissão citava que as despesas com o ensino “apresentavam-se indevidamente majoradas de despesas previdenciárias”.

A prática contraria a legislação federal sobre o tema. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) indica o uso da verba para despesas como o salário de professores, a compra de material didático e a manutenção de equipamentos.

Não há menção na LDB sobre a utilização dos recursos para gastos com previdência.

Desde 2018, as gestões que governaram São Paulo se apoiam em uma lei estadual, aprovada pelo então governador Márcio França (PSB), para justificar a manobra dos recursos.

A lei autoriza o governo a aplicar a parcela excedente aos 25% exigidos pela Constituição Federal com “despesas necessárias ao equilíbrio atuarial e financeiro do sistema previdenciário”.

Em 2020, a Procuradoria-Geral da República entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para questionar a constitucionalidade da lei paulista. A ministra Cármen Lúcia, relatora da ação, já declarou seu voto contrário à manobra, mas o julgamento do caso ainda não foi finalizado.

O STF já havia declarado inconstitucional outra lei paulista, de 2007, que também permitia utilizar a verba da Educação para o pagamento do déficit previdenciário.

Fundeb

Nos últimos anos, análises do Ministério Público de Contas mostraram que o governo estadual chegou a usar até mesmo o dinheiro do Fundeb, o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica, para cobrir o déficit na previdência.

Em 2018, mais de R$ 3 bilhões do Fundeb foram desviados para este fim. O uso do fundo federal foi questionado pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE), que terminou fazendo um acordo com a gestão João Doria (sem partido) para que houvesse redução gradual do uso até 2024.

Em nota, a gestão Tarcísio disse que não utiliza recursos do Fundeb para o pagamento de inativos e pensionistas da Educação.

A lei que promulgou o novo Fundeb, em 2020, proibiu explicitamente a aplicação dos recursos para pagamento de aposentadorias e pensões.

Impacto nas escolas

Com o desvio dos recursos de uma área para outra, falta dinheiro para solucionar problemas históricos da educação paulista, como a superlotação das salas de aula e a falta de infraestrutura nas escolas.

Para José Marcelino de Rezende Pinto, professor da Universidade de São Paulo e vice-presidente da Associação Nacional de Pesquisa em Financiamento da Educação (Fineduca), o não cumprimento do piso de 30% é um dos fatores que ajudou a degradar a rede estadual nos últimos anos.

Ele cita, entre outros fatores, a falta de laboratórios nas escolas, a remuneração defasada dos professores e o número alto de educadores temporários na rede.

“É uma rede em que mais de 40% dos professores são temporários. Como é que se constrói um projeto educacional como professores que a cada ano são demitidos e podem ser contratados para outras escolas?”, diz o especialista.

José Marcelino afirma que a PEC enviada por Tarcísio para a Alesp piora as previsões de melhoria na área.

“Se hoje o piso de 30% já não é cumprido, a gente vai chegar nos 25% como teto”, diz ele.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comSão Paulo

Você quer ficar por dentro das notícias de São Paulo e receber notificações em tempo real?