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“Sou eu mesma?”, se emociona indígena “rosto” de novo mural em SP

A indígena Alessandra Karop é o rosto de um novo mural do artista Thiago Mundano, em um protesto contra crimes ambientais no Brasil

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São Paulo — A indígena Alessandra Karop não imaginava que um mural com o seu rosto estampado, inaugurado na quarta-feira (23/10), fosse ter a grande repercussão que está tendo no Brasil e mundo afora. O artista Thiago Mundano produziu uma enorme pintura no centro de São Paulo com a indígena Munduruku segurando um cartaz com os dizeres “Pare a destruição” e “Mantenha a sua promessa”, em inglês.

A mensagem é um apelo para o fim dos crimes ambientais no Brasil, especificamente em protesto contra a família de bilionários norte-americanos Cargill-MacMillan, dona da Cargill, uma das maiores exportadoras de soja e milho do Brasil.

“Eu nunca imaginaria que o mural ia ter o tamanho da repercussão que está tendo. Quando eles me mandaram o detalhe [da pintura], eu me perguntei: ‘Sou eu mesma?'”, disse a ativista Alessandra Karop ao Metrópoles. “Aproximadamente, nós somos quase 16 mil munduruku. O meu tamanho é muito pequeno, mas a luta é muito grande.”

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Mundano usou mais de 100 kg de elementos retirados de desastres brasileiros
Ativista indígena Alessandra Karop
A arte tem 1.500 m²
Alessandra foi premiada com o “Goldman Enviromental Prize” de 2023, considerado o “Nobel” do ambientalismo
Mundano usou cinzas, urucum, carvão, lama, argila e outros materiais
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Thiago Mundano inaugura novo mural no centro da capital paulista

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Mundano usou mais de 100 kg de elementos retirados de desastres brasileiros

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Ativista indígena Alessandra Karop

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A arte tem 1.500 m²

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Alessandra foi premiada com o “Goldman Enviromental Prize” de 2023, considerado o “Nobel” do ambientalismo

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Mundano usou cinzas, urucum, carvão, lama, argila e outros materiais

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O mural está localizado na Avenida Jorge Teixeira, na esquina com a Avenida Amazonas, no centro da capital paulista

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Segundo Alessandra, ela não acreditou quando Thiago Mundano foi até o território indígena do seu povo e lhe falou que gostaria de fazer o muro com o rosto dela. Mas o artista foi firme ao lhe garantir que a indígena era admirada e um símbolo da luta indígena. “Vai ser uma luta de dar recado para a família Cargill, [já] que vocês estão lutando contra a soja”, lhe disse Mundano.

Para a realização do mural de 1.500 m², Mundano usou mais de 100 kg de elementos retirados de desastres brasileiros: cinzas de queimadas na Amazônia, no Cerrado, no Pantanal e na Mata Atlântica; e lama das enchentes no Rio Grande do Sul. Além disso, produziu pigmentos a partir de terra vermelha de restos de construção civil e urucum, o fruto que é base para as pinturas corporais de indígenas.

“Ele usou a cinza, urucum, carvão, lama, argila, tudo do desastre, e transformou em uma arte tão bonita para mostrar o recado para o mundo todo. Não só o recado para a família Cargill, mas também para o mundo todo de se levantar, enxergar e ouvir as populações indígenas, como elas estão enfrentando as mudanças climáticas”, apontou Alessandra.

Veja:

A ativista contou que estará em São Paulo em 9 e 10 de novembro para ver o mural de perto. “Quero medir meu tamanho. Eu sei que eu tenho tamanhinho pequeno, mas quando eu chegar lá e vir o tamanho imenso, eu acho que é um ganho muito grande da luta, do reconhecimento, tanto do Mundano, tanto dos povos indígenas, quilombola, ribeirinho, e até mesmo para quem mora na cidade”, refletiu.

O mural está localizado na lateral de um prédio voltado para a Avenida Brigadeiro Luís Antônio, a poucas quadras da Avenida Paulista, na região central da capital.

Protesto contra a Cargill

A promessa que consta no mural refere-se a dois compromissos da empresa Cargill em relação à diminuição e até mesmo o fim do desmatamento causado pela companhia.

Em 2014, o CEO à época, Dave MaCLennan, assumiu um acordo com outras grandes corporações para “proteger as florestas em todas as cadeias do suprimento agrícola”.

Já em 2023, anunciou o compromisso de manter a sua cadeia de fornecedores de commodities agrícolas – incluindo soja, milho, trigo e algodão – livre de desmatamento e conversão de florestas, tanto no Brasil, como no Uruguai e na Argentina, até o ano de 2025.

O que diz a empresa

Em nota ao Metrópoles, a Cargill informou que respeita a liberdade de expressão do artista. No entanto, complementa que “cabe esclarecer que o mural baseia-se em relatório que é impreciso e as afirmações nele contidas deturpam o trabalho da Cargill e as nossas cadeias de abastecimento”.

O relatório a que a empresa se refere é o Relatório Anual do Desmatamento do MapBiomas, que indica a responsabilidade do agronegócio no desmatamento brasileiro, também utilizado por Mundano na concepção da obra.

“O fato é que a Cargill acelerou o seu compromisso de eliminar o desmatamento e a conversão de terras das nossas cadeias de abastecimento direta e indireta de soja, milho, trigo e algodão no Brasil, Argentina e Uruguai até 2025. Estamos no caminho certo para cumprir esse compromisso”, argumenta a empresa.

“Continuamos inabaláveis ​​nas nossas ações para proteger os direitos humanos, aumentar a sustentabilidade e proporcionar cadeias de abastecimento livres de desmatamento”, finaliza a nota.

No Brasil desde 1965 e com cerca de 11 mil funcionários, a Cargill é uma das maiores indústrias de alimentos do país. Com sede em São Paulo, a empresa está presente em 17 estados brasileiros e no Distrito Federal por meio de unidades industriais, armazéns, terminais portuários e escritórios em 147 municípios.

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