metropoles.com

Solto, pai que deixou filha 40 dias sem comer segue isolado

Wallace James permanece isolado no mesmo apartamento e bloqueou familiares no WhatsApp; ele é acusado pelo MPSP de tentativa de homicídio

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Arquivo pessoal
menina desnutrida 1 _resized_compressed
1 de 1 menina desnutrida 1 _resized_compressed - Foto: Arquivo pessoal

São Paulo — O homem que deixou a filha de 3 anos sem comer por 40 dias, em Rio Claro, no interior de São Paulo, está isolado em seu apartamento desde o dia em que foi solt e continua recusando ajuda de amigos e familiares. Pessoas próximas afirmam que Wallace James Cypriano, de 36 anos, tem problemas sérios de depressão e temem pela vida dele.

Aos guardas civis que realizaram o resgate da menina, em 2 de junho, Wallace disse que seu objetivo era que ele e a filha morressem de fome. Segundo os médicos, a criança estava em “pele e osso” e teria apenas algumas horas de vida se não fosse resgatada. Após 20 dias internada, ela teve alta médica na última quinta-feira (22/6) e está sob os cuidados da avó materna, que obteve a guarda provisória na Justiça.

Wallace James não ficou nem 24 horas detido. Ele foi solto em 3 de junho, após audiência de custódia. A Promotoria de Rio Claro recorreu da decisão, pedindo que o homem fosse preso preventivamente por tentativa de homicídio. Quando foi solto, Wallace retornou ao mesmo apartamento onde morava. Ele evita sair do local e recebe ajuda de vizinhos para se alimentar.

“Não preciso de ajuda”

No último dia 10, familiares conseguiram entrar no prédio onde Wallace reside, com a ajuda de um vizinho, e bateram à porta do apartamento, mas ele não abriu.

“Ele continua sem responder a ninguém. Nós entramos no prédio, batemos na porta e ele não atendeu. Eu disse quem era, e ele simplesmente disse que não quer conversar, que não quer ajuda nesse momento e falou para a gente ir embora. Foi desse jeito. Pedi então para ele me desbloquear no WhatsApp”, diz um familiar próximo ouvido pelo Metrópoles.

“É um mix de sentimentos. A gente tem tristeza e mágoa por tudo o que ele causou à menina. Mas a gente tem compaixão e sabemos que ele está precisando de ajuda. Sabe que ele tem depressão”, afirma o parente.

O familiar conta que foi bloqueado por Wallace no WhatsApp em 2021. No ano anterior, ele teria bloqueado a própria mãe, depois que ela foi até o apartamento para pedir que ele vacinasse a filha.

“Ele não atendia o telefone. Ficou recluso. Então, a mãe dele decidiu ir até lá acompanhada da sogra dele, avó materna da menina. Elas ficaram até com medo de que, como ele mora sozinho, pudesse ter havido alguma coisa. Elas só conseguiram entrar porque uma moradora autorizou. Ele simplesmente escorraçou as duas de lá. Ele saiu gritando pelo corredor”, relata o familiar.

A mãe de Wallace morreu de câncer no fim de 2021. Ele não foi ao velório e se recusou a participar do processo de inventário, a fim de repartir a herança entre ele e seus dois irmãos.

Morte da esposa

Wallace James é descrito por amigos e familiares como um homem que desde criança teve dificuldades para socializar-se e demonstrar seus sentimentos. Colegas da igreja e do trabalho afirmam que ele falava pouco e só se sentia à vontade com sua esposa, com quem se casou em 2014.

A mulher sofria de problemas cardíacos e os médicos contraindicavam que ela engravidasse. Em 16 de dezembro de 2019, nasceu a filha do casal. A mãe teve problemas no parto e morreu cerca de 45 dias depois, em fevereiro de 2020.

“Ele estava péssimo porque a esposa era a vida dele. Era como se ele se sentisse culpado pelo que aconteceu.  Por ela, ele movia céus e Terra”, diz o familiar ouvido pelo Metrópoles.

Após a morte da esposa, Wallace foi acolhido por um casal de pastores da igreja que frequentava. Ele e a filha ficaram hospedados na casa dos religiosos durante três meses, até que alugasse um apartamento para que ele e a menina morassem. Desde então, ficou incomunicável.

Wallace, que trabalhava como vendedor em uma loja de aparelhos eletrônicos, conseguiu uma licença paternidade de 90 dias, mas nunca voltou ao serviço. Segundo seu ex-chefe, ele nem sequer foi ao estabelecimento para receber o pagamento.

“Eu tinha medo do que podia acontecer. Ele se enclausurou de tal forma, que não queria mais ninguém na vida dele. Só tinha ele e a criança”, diz o ex-chefe. “Se ele precisasse do emprego de volta, eu dava para ele. Não teria problema”.

Relação com a avó da menina

Roseli Dolores, ex-sogra e avó da filha de Wallace, era uma das únicas pessoas com quem ele se comunicava. A mulher fazia visitas mensais para ver a neta e levava mantimentos para eles.

Segundo familiares de Wallace, ele não deixava que a mulher entrasse no apartamento. Quando Roseli aparecia, o homem descia com a menina para o hall do prédio e deixava que elas brincassem por alguns minutos.

“Esse era o único elo que fazia com que nós soubéssemos da situação dele e da Lis”, diz um parente de Wallace. “A Roseli sempre dizia que eles estavam bem, que o Wallace estava de barba feita, saudável”.

Há alguns meses, no entanto, ele parou de responder às mensagens da avó no WhatsApp e começou a ignorar os pedidos dela para ver a neta.

Roseli decidiu acionar a Justiça. O juiz deu uma ordem de arrombamento para que a mulher pudesse entrar no apartamento. Só então a menina foi encontrada completamente desnutrida.

Apartamento sujo e móveis desmontados

Quando os guardas chegaram ao apartamento para realizar o resgate, encontraram a menina deitada em um colchão no chão da sala, sem lençol.

Segundo um oficial de Justiça que esteve no local, o apartamento estava sujo, e todos os móveis estavam desmontados.

“A casa não tinha nenhum móvel montado. Tinha um colchão de casal no chão, um sofá e uma mesa. Não tinha uma televisão, não tinha nada. Tinha uma geladeira queimada e móveis desmontados. Parecia que desde que o Wallace se mudou nenhum móvel havia sido montado. Não sei como ele conseguia viver ali. Não sei o que ele fazia o dia inteiro”, diz o oficial ao Metrópoles.

Segundo ele, Wallace reagiu com indiferença à chegada dos guardas.

“O jeito dele era bem calmo. Nós questionamos por que ele não pediu ajuda e ele só disse: ‘Você não estava na minha situação para saber como é’. Quando nós entramos, ele sentou no sofá. O conselheiro tutelar pegou a menina e saiu correndo. Enquanto todo mundo estava emocionado com a situação da menina, ele não queria falar nada”.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comSão Paulo

Você quer ficar por dentro das notícias de São Paulo e receber notificações em tempo real?