Sócio de empresa terceiriza responsabilidade por sumiço de cão
Após sumiço de cão com coiote na fronteira dos EUA, tutores denunciam empresa de transporte de animais ao exterior por irregularidades
atualizado
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São Paulo – Sócio da Carriage, empresa especializada no transporte de pets para o exterior que perdeu o cão Apollo nos Estados Unidos após o animal chegar ao país ilegalmente pela fronteira com o México, Bruno Kapfenberger terceirizou a responsabilidade pelo sumiço do cachorro, em 14 de novembro, e negou ter ameaçado a tutora do cãozinho.
Bruno concedeu entrevista ao Metrópoles neste sábado (25/11), horas após ser publicada a reportagem que relata como Luana Camargo, tutora de Apollo, descobriu que o serviço contratado para enviar o animal com segurança aos EUA havia omitido dela que o translado seria feito por terra, e não por avião, e por vias ilegais.
“Foi um azar, uma tragédia a minha empresa ter contratado essa terceirizada para fazer essa viagem. Mas não há como voltar atrás, infelizmente aconteceu e em nenhum momento houve dolo de fazer ilegalmente a travessia, porque isso aí seria uma cagada muito grande”, diz Bruno, que trabalha com um canil e possui 86 mil seguidores no Instagram e 50 mil inscritos em seu canal no YouTube.
Apollo, um yorkshire de dois anos, seria enviado de São Paulo até Miami, na Flórida, nos EUA. De acordo com Bruno, o animal viajaria até o México, onde seria recolhido por um funcionário terceirizado, chamado Alejandro Uribe, e de lá seguiria, também de avião, para Houston, no Texas, antes de chegar a Miami. Todo o trajeto seria feito de avião, ainda segundo Bruno.
No entanto, no combinado com a empresa, Luana relata que Apollo viajaria diretamente para Houston, sem nenhuma parada no México (veja o trajeto abaixo).
Bruno alega ao Metrópoles que quem elaborava a rota dos animais, emitia as passagens e realizava a microchipagem dos animais era o próprio Alejandro.
O sócio também afirma não ser ele, Bruno, o responsável pelo contato com os clientes, mas sim um dos três funcionários que trabalham na “empresa pequena” – como ele mesmo descreve a Carriage, que existe há pouco mais de um ano e realiza de cinco a dez viagens por mês.
“Se foi falado com a cliente que ia ser um voo direto para Houston, foi uma afirmação falsa e enganosa, está no Código do Consumidor e a gente sabe disso. Mas eu não sei de tudo [o que acontece na Carriage], porque a empresa fazia mais de 100 orçamentos por dia”, afirma.
Antonio Lázaro Martins Neto, advogado da Carriage, diz em nota que foi “um erro da funcionária ao prestar a informação, pois cada transporte tem um itinerário específico e o itinerário informado não era o do Apollo”.
O trajeto de Apollo
Após o desaparecimento de Apollo, Luana descobriu por meio de conversas com Bruno e outros funcionários, incluindo o terceirizado Alejandro, que o cachorro havia entrado nos EUA ilegalmente, de carro, pela fronteira após desembarcar na cidade do México e passar por Monterrey (veja no mapa abaixo).
A tutora afirma nunca ter sido alertada de que o voo do cão era para a Cidade do México e que sequer foi avisada da data e do horário da viagem. O animal foi recolhido com ela em 11/11 para realizar exames e, no dia seguinte, 12/11, foi enviado diretamente ao aeroporto.
Para Bruno, novamente, trata-se de “uma falha” de sua secretária, responsável pelo contato com os clientes. Questionado pela reportagem sobre outros casos de denúncias contra a empresa, incluindo reclamações sobre a falta de transparência sobre as datas de viagens dos animais, ele admite que pode ter ocorrido algum tipo de omissão.
“Os funcionários, são vários os que lidavam diretamente com os clientes. Pode ser que tenha acontecido mesmo [alguma falha]”, afirma, mesmo declarando ser uma empresa pequena com apenas três funcionários.
O sócio da Carriage acrescentou que já não administrava a empresa diretamente há dois meses e que sua assinatura ainda consta nos contratos, incluindo o de Luana e Apollo, por se tratar de “um contrato padrão” que ainda não foi atualizado por seu sócio, Saulo Motta.
“Não cometi maus-tratos a nenhum cão e não falsifiquei nenhum documento. Coloco à disposição, inclusive, meu sigilo telefônico e meu sigilo bancário. Nenhum documento foi falsificado por mim e nada ilegal ou do tipo”, afirma Bruno.
Bruno nega ameaças à tutora de Apollo
Luana denunciou a história do sumiço de Apollo nas redes sociais, acionou a Justiça e entrou em embate direto com Bruno e a Carriage, junto de outros 11 tutores de pets. Os cerca de R$ 12 mil desembolsados por Luana na viagem do cão foram devolvidos, embora o cachorro continue desaparecido.
Em uma das discussões pelo WhatsApp, Bruno enviou uma mensagem de áudio na qual diz que, se ela levasse o caso à imprensa, como vinha afirmando que faria, ela não veria mais o próprio cachorro: “Se a entrevista for ao ar, esqueça o Apollo, mesmo que a gente ache ele”.
“Se acharem teu cão em um abrigo, nós vamos ter problemas com as autoridades americanas, porque vai ser divulgado na mídia e o teu cão, infelizmente, através das mãos do Alejandro, entrou ilegalmente nos Estados Unidos”, diz Bruno no áudio.
O sócio da Carriage nega que o áudio tenha sido uma ameaça e afirma que o órgão sanitário dos EUA, conhecido pela sigla CDC, tem o costume de sacrificar cães que entram ilegalmente no país.
“Se o CDC ficar sabendo disso e acharem o cachorro, não vão querer entregar o cachorro, mas sim sacrificá-lo. Eu não pedi para ela não colocar na imprensa. Eu pedi para ela dar um tempo a mais para que eu tentasse achar o cachorro”, diz.
A empresa Carriage
De acordo com dados da Receita Federal, a Carriage foi criada em julho do ano passado e seu escritório físico fica em Foz do Iguaçu, no Paraná. A empresa possui dois sócios: Bruno Kapfenberger e Saulo Motta.
Antes de trabalhar com o segmento pet, Bruno já havia sido preso em flagrante, ao menos duas vezes, por receptação e uso de moedas falsas e venda ilícita de carros com placas adulteradas entre 2015 e 2017.
Ele foi condenado pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC), em março deste ano, a nove meses e quatro anos de prisão, em regime fechado. A sentença foi confirmada em segunda instância em outubro deste ano e a defesa de Bruno recorre da decisão.
Em nota assinada por Antonio Neto, advogado da empresa, a Carriage afirma que não hesitará em “assumir todas as responsabilidades e reparar todos os danos” e que não tinha conhecimento de que o transporte de Apollo seria feito ilegalmente.
Procurado pelo Metrópoles, Saulo Netto não se manifestou. O espaço segue aberto para eventuais esclarecimentos.