Vídeo: autista é colocada na rua por albergue da Prefeitura de SP
Motivo para desligamento seria o fato de mulher ter falado palavrão para funcionária que a repreendeu por manusear água
atualizado
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São Paulo – Uma senhora portadora do transtorno do espectro do autismo (TEA) foi desligada do Centro de Acolhida da Casa Verde, na zona norte paulistana, após supostamente dizer um palavrão para uma funcionária, no domingo (18/12).
Desde então, ela permanece deitada em uma calçada, ao lado do equipamento, ligado à Prefeitura de São Paulo, onde dorme ao relento e se protege com um cobertor.
O Metrópoles apurou que a portadora do TEA, identificada como Saionara Rosiani da Silva, idade não informada, foi desligada pela orientadora socioeducativa Daniela Cristina dos Santos.
O motivo, segundo registros do Centro de Acolhida, seria pelo fato de a senhora ter proferido palavrões após ser orientada para não manusear água.
Um documento do próprio albergue, do último dia 15/12, ressalta que Saionara apresenta TEA, além de transtorno mental. No atestado é destacado que “para aliviar a ansiedade” ela usa água como “objeto transicional [que dá conforto psicológico]”. Ela foi diagnosticada por um profissional do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) da Casa Verde. Ainda é orientado para que profissionais tentem trocar o objeto transicional de Sionara e que, até conseguirem isso, “tenham paciência com ela.”
A reportagem apurou que, nessa segunda-feira (19/12), Saionara conseguiu uma autorização para almoçar no Centro de Acolhida, por meio de assistentes sociais que abordam pessoas em situação de rua. Sua entrada no local, porém, teria provocado reações negativas. O gerente Sérgio Rodrigues teria coibido profissionais do albergue, após o almoço de Saionara, afirmando que no local “não é feito assistencialismo.”
Moradores da região, ouvidos em condição de sigilo, afirmaram que a senhora reclamou do frio durante as noites em que dormiu ao relento e que, por ter TEA, teve alguns surtos, chegando a jogar talco no próprio rosto, como mostra uma foto enviada ao Metrópoles.
Além do desligamento da senhora, a reportagem apurou que o gerente do albergue se nega a trocar dois chuveiros, na ala masculina, queimados há mais de seis meses. Os equipamentos são os únicos que podem ser usados por homens no local, incluindo em dias frios.
A Prefeitura de São Paulo e a Secretaria de Assistência Social do município foram questionadas sobre a situação, mas não haviam se posicionado até a publicação desta reportagem. O espaço segue à disposição.
Na internet, o Centro de Colhida, ligado ao Instituto Social Santa Lúcia, afirma que o espaço na Casa Verde oferece acolhimento provisório para adultos em situação de rua, ou ainda grupos familiares, com ou sem crianças.
O espaço atua, ainda segundo o Centro de Colhida, na reconstrução de projetos de vida que “viabilizem a autonomia das pessoas atendidas.”
“Inadmissível”
O desligamento de Saionara do Centro de Acolhida foi avaliado como “inadmissível” por Giovana Salviato, coordenadora pedagógica da ONG Espaço Azul e analista de comportamento de pessoas com autismo em São Carlos, no interior paulista.
“A sociedade, infelizmente, ainda precisa se capacitar muito para entender esse público, negligenciado desde sempre. Imagina quantas situações ela [Saionara] não passou por negligências, ao longo da vida, por falta de tratamento, inclusive para estar nessa condição [morando na rua]”, destacou.
Giovana acrescentou que Saionara sente na pela a falta de conhecimento sobre o problema dela e que a atitude da coordenação do Centro de Acolhida precisa ser encaminhado à Justiça.