Sem vaga em moradia, calouros da USP dormem em alojamento precário
Estudantes da USP denunciam problemas com mofo, falta de ventilação e de higiene; calouros dormem em alojamento embaixo de arquibancada
atualizado
Compartilhar notícia
São Paulo – Um grupo 51 calouros de baixa renda da Universidade de São Paulo (USP) está há quase dois meses morando no alojamento do Centro de Práticas Esportivas (Cepe) do campus localizado no Butantã, zona oeste da capital, à espera de uma vaga de moradia estudantil do Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo (Crusp).
São 46 alunos de graduação e cinco de pós-graduação.
O espaço, que é dedicado a abrigar atletas por curtos períodos de tempo, oferece infraestrutura precária e enfrenta problemas de segurança. São quatro quartos – dois femininos e dois masculinos – com nove beliches duplos em cada um.
O alojamento é localizado embaixo de uma arquibancada do centro esportivo. As condições do local levaram os alunos a realizarem um protesto na última quarta-feira (17/4) no Butantã.
“A gente tem tido vários problemas de saúde física e mental porque a nossa situação é muito difícil. Já pensei várias vezes em voltar para casa. Não só eu, como vários amigos nossos daqui”, desabafou Lucas Nery, aluno de 18 anos que veio de Matão, no interior de São Paulo, para cursar ciências sociais na universidade.
Os beliches dividem o espaço apertado e pouco ventilado com armários de metal e varais improvisados.
“A situação dos quartos é essa aqui: cheia do mofo, de infiltração e falta de ventilação. As janelas são muito pequenas, então a gente já teve muita proliferação de doenças, por ser muito abafado e ter muita gente no mesmo espaço pequeno”, relatou Lucas.
Fora dos horários de funcionamento do restaurante universitário, os estudantes não têm alternativas acessíveis para alimentação, já que não há espaço para guardar comida nem estrutura com fogão e geladeira.
Os alunos também denunciam as condições de higiene dos vestiários. Breno Antoniole, estudante de ciências sociais de 18 anos, diz que começou a procurar outros banheiros da USP: “Eu não tô conseguindo mais usar o banheiro por causa do cheiro que fica, me deixa muito enjoado. Tem muito cheio de mijo, e de bosta”.
Medida emergencial
A hospedagem no local foi negociada em fevereiro, entre o movimento estudantil e a universidade, como medida emergencial.
Os estudantes se inscreveram no edital do Programa de Apoio à Permanência e Formação Estudantil (Papfe), que oferece auxílio financeiro e moradia estudantil. Do grupo de 51, apenas oito foram recentemente destinados a vagas na moradia estudantil, para onde devem ser transferidos.
Outros 35 foram contemplados com um auxílio-moradia equivalente a R$ 800. Esses, no entanto, alegam que o valor não é suficiente para o pagamento de aluguel na região. Eles aguardam o resultado de um último recurso, previsto para o dia 24 de maio.
Há ainda outros oito estudantes sem vaga ou auxílio esperando pela mesma decisão do recurso.
O que diz a USP
Procurada pelo Metrópoles, a assessora da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento, Ester Gammardella Rizzi, disse que a universidade está aberta ao diálogo. Ela concorda que o alojamento esportivo “não tem esse propósito” e alega que o local foi reivindicado pelos próprios estudantes, que “assinaram um termo concordando que essa seria uma solução provisória e que sairiam até o dia 5 de abril”, disse.
Em nota, a USP informou que os oito estudantes que receberam vagas na moradia oficial devem sair “imediatamente”. “Os demais têm até 17 de maio para acharem lugar de moradia fora da USP ou para receberem resultado do recurso”, determinou a instituição.