Sem carrapaticida: o plano de Campinas para enfrentar a febre maculosa
Combate à febre maculosa em Campinas tem corte de grama, placa de alerta e estudo para castrar capivara, mas não prevê carrapaticida
atualizado
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São Paulo – Líder de casos de febre maculosa no Brasil, Campinas, no interior paulista, corre para reforçar seu plano de combate ao surto da doença. Sem uso de carrapaticida, as ações incluem livrar a cidade de mato alto e avaliar a castração de capivaras, o hospedeiro predileto do carrapato-estrela, principal vetor da moléstia.
Nesta sexta-feira (16/6), o prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos), também propôs a criação de um comitê técnico com as 20 cidades da Região Metropolitana de Campinas para discutir ações conjuntas de enfrentamento à febre maculosa. A área é endêmica para a doença.
No município, um plano de ação, em vigor desde 2019, considera o manejo ambiental como a principal medida de prevenção e controle de infestações de carrapatos. Isso porque os venenos disponíveis seriam pouco eficientes e podem causar mais efeitos colaterais do que benefícios.
Mesmo ainda estando fora do período de maior incidência da doença, entre os meses de agosto e novembro, a cidade registrou seis mortes em 2023 – índice que já se aproxima do total de óbitos em todo o ano de 2022 (foram sete) e é superior a 2021 (cinco) e a 2020 (cinco).
Quatro das mortes confirmadas pela doença são de pessoas que estiveram em um mesmo evento na Fazenda Santa Margarida, no distrito de Joaquim Egídio, apontado como provável foco da doença. Um plano específico foi cobrado do estabelecimento, que o apresentou nesta sexta-feira (16/6).
Corte de grama
Além dessa região, Campinas tem outros 11 pontos mapeados pelas autoridades como áreas de risco para a doença. Os locais com mais infestações de carrapato são parques, matas, pastos, fazendas e regiões às margens de rios, córregos e lagoas.
Para esses lugares, as diretrizes da cidade estabelecem que a grama deva ser “mantida roçada rente ao solo” e ter “rotineiramente a remoção de folhas secas”, já que o parasita também procura áreas sombreadas.
Como o carrapato-estrela evita caminhos calçados ou solos expostos, o manejo adequado torna o ambiente “hostil” e “menos favorável” à sua presença.
“Deve ser priorizado o uso de mecanismos físicos, em detrimento ao uso de carrapaticidas no ambiente, devido à baixa eficácia dos mesmos, aliada aos potenciais riscos de contaminação ambiental”, diz o plano de combate.
Capivara
Desde que as duas primeiras mortes por febre maculosa foram registradas, em 3 de maio, a prefeitura de Campinas estuda castrar capivaras para conter a população na cidade, estimada em 200 espécies.
A iniciativa seria uma forma de controlar as infestações de carrapato-estrela, uma vez que o parasita vive próximo do seu hospedeiro. A espécie também pode estar presente em cavalos, bois, gambás, saguis e até em cachorros e gatos de zonas rurais – embora os animais domésticos não sejam seu hospedeiro favorito.
O manejo de capivaras é de responsabilidade do Ibama, motivo pelo qual as autoridades municipais devem obter autorização específica para realizar a ação.
Em anos anteriores, Campinas já investiu no abate desses animais que viviam perto do Parque do Taquaral, o maior da cidade, que registrou três mortes de funcionários devido à febre maculosa entre 2001 e 2010. A medida, no entanto, se mostrou ineficaz e novas capivaras voltaram para a região pouco depois.
Surto
Outras ações anunciadas recentemente são um novo decreto com regras para espaços privados que realizam grandes eventos e a instalação de placas de aviso em áreas de transmissão. Esta última medida, no entanto, já era prevista no plano de ação de 2019.
A prefeitura aposta, ainda, em reforçar a orientação para profissionais de saúde, com o objetivo de facilitar o diagnóstico precoce de pessoas que chegam ao hospital com sintomas de febre maculosa.
A doença infecciosa tem alta letalidade, que atingiu o pico de 71%, em 2020, considerando os períodos fechados de 12 meses.
A febre maculosa tem cura e o tratamento é feito com antibióticos específicos. Quanto mais cedo ele for iniciado, maior a chance de sucesso. Em caso de sintoma, a orientação é procurar o médico imediatamente e informar que esteve em área de transmissão.
Sintomas
- Dor de cabeça intensa;
- Náuseas e vômitos;
- Diarreia e dor abdominal;
- Dor muscular constante;
- Inchaço e vermelhidão nas palmas das mãos e sola dos pés;
- Gangrena nos dedos e orelhas;
- Paralisia dos membros que inicia nas pernas e vai subindo até os pulmões causando parada respiratória.
- Na evolução da doença, também é comum o aparecimento de manchas vermelhas nos pulsos e tornozelos, que não coçam, mas podem aumentar em direção às palmas das mãos, braços ou solas dos pés.
Como se proteger
Ao realizar trilhas e atividades de lazer ao ar livre, algumas precauções devem ser tomadas para evitar a febre maculosa:
- Evitar caminhar, sentar e deitar em gramados e em áreas de conhecida infestação de carrapatos;
- Em áreas silvestres, realizar vistorias no corpo em busca de carrapatos em intervalos de três horas para diminuir o risco de contrair a
doença; - Se forem verificados carrapatos no corpo, não esmagar o carrapato com as unhas, pois ele pode liberar as bactérias e infectar partes do corpo com lesões;
- Se encontrar o parasita, ele deve ser retirado de leve com torções e com auxílio de pinça, evitando contato com as unhas. Quanto mais rápido forem retirados, menor a chance de infecção;
- Utilizar barreiras físicas, como calças compridas, com a parte inferior por dentro das botas ou meias grossas;
- Utilização de roupas claras para facilitar a visualização e retirada dos carrapatos.