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Sarna, convulsões e piolho: refugiados de Guarulhos pedem socorro

Médica voluntária que atua em Guarulhos denuncia falta de atenção da prefeitura com refugiados afegãos; problemas de saúde são comuns

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Refugiados afegãos aeroporto guarulhos
1 de 1 Refugiados afegãos aeroporto guarulhos - Foto: Fábio Vieira / Metrópoles

São Paulo – O surto de sarna que atingiu mais de 20 refugiados afegãos no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, não é o primeiro problema de saúde enfrentado pelo grupo na chegada ao Brasil. A médica intensivista Aretusa Chediak Roquim conta que são comuns casos de piolho, dores de estômago e nas costas, além de crises de ansiedade entre as famílias que ficam acampadas no Terminal 2 à espera de um abrigo. “Existe uma falha gigantesca na assistência a esses refugiados quando eles chegam ao aeroporto”, afirma a médica.

Aretusa é fundadora da ONG Além Fronteiras, Reconstruindo Vidas, criada em parceria com o afegão Moosa Hashimi, e que oferece acolhimento para os refugiados que vêm ao Brasil fugindo do Talibã. Ela diz que os afegãos não recebem visitas de agentes de saúde da Prefeitura de Guarulhos e critica a falta de atenção ao grupo. “Não há [atendimento]. O que tem lá dentro é civil, são ONGs, associações que tentam acolher.”

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Jovem afegão usa celular deitado no chão do Aeroporto de Guarulhos em junho de 2023
Refugiados dormem deitados no chão e improvisando barracas com cobertores
Refugiados afegãos acampados no Aeroporto Internacional de Guarulhos
Posto Avançado de atendimento aos migrantes no Aeroporto de Guarulhos
Mulher afegã espera por vaga em abrigo de Guarulhos dentro de Aeroporto
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Refugiados afegãos acampados no Aeroporto Internacional de Guarulhos em junho de 2023

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Jovem afegão usa celular deitado no chão do Aeroporto de Guarulhos em junho de 2023

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Refugiados dormem deitados no chão e improvisando barracas com cobertores

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Refugiados afegãos acampados no Aeroporto Internacional de Guarulhos

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Posto Avançado de atendimento aos migrantes no Aeroporto de Guarulhos

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Mulher afegã espera por vaga em abrigo de Guarulhos dentro de Aeroporto

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Barracas improvisadas se tornam casa para refugiados

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Sarna, piolho e problemas mais graves de saúde são registrados

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Jovem afegão senta em cama improvisada no chão do aeroporto

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Segundo a médica, as condições que o grupo de refugiados tem enfrentado ao desembarcar em São Paulo favorecem o aparecimento e a transmissão de doenças. Sem vagas em abrigos, eles dormem no chão e improvisam barracas com cobertores doados. As dores nas costas e no estômago são reflexos da falta de estrutura para o descanso e da alimentação inadequada – e que foge aos costumes afegãos.

O convívio muito próximo e a impossibilidade de higiene pessoal abrem o caminho para patologias como sarna e piolhos. “Não é uma falta de higiene proposital. É condicional. Eles tomam banho quando dá.”

Segundo a médica, o surto de sarna relatado nos últimos dias não é uma novidade. “Não é a primeira vez”, conta. Há mais ou menos um mês, voluntários da ONG levaram um casal com sintomas da doença para uma UBS da região, que confirmou o diagnóstico e receitou ivermectina. “Para essa família, a gente conseguiu fazer essa troca de roupa de cama, levar para banho, falar da troca de roupa íntima”, lembra.

Convulsões

Outro problema, conta Aretusa, é a falta de atendimento para famílias que chegam ao Brasil com doenças mais complexas e que requerem cuidados especiais. Ela lembra do caso de uma menina que tinha epilepsia e passou uma semana sem conseguir vaga em abrigo. “Foram 5 a 8 crises convulsivas.” A voluntária cita ainda outros casos, como pessoas com câncer e tuberculose. Todos, sem exceção, passam pelo processo de espera por vaga. “É ali que acaba o visto humanitário”, afirma Aretusa.

Para ela, é urgente que se ofereça atendimento prioritário para casos de maior vulnerabilidade, além da oferta de equipes de saúde para acompanhar a comunidade afegã enquanto não são disponibilizadas novas vagas em abrigos. Atualmente, 206 pessoas estão acampadas no aeroporto. Todas as 177 vagas para acolhimento de migrantes e refugiados de Guarulhos estão lotadas, segundo a Prefeitura.

Outro lado

Em nota, a Prefeitura de Guarulhos disse que está ao lado dos refugiados “desde o primeiro dia” e afirmou que tem feito todos os esforços para que a população seja bem acolhida. A gestão municipal alega que a Secretaria de Saúde tem realizado semanalmente ações no Aeroporto Internacional de Guarulhos e que distribuiu medicamentos para 165 afegãos depois da confirmação dos casos de sarna.

“As equipes de saúde do município continuam acompanhando o surto e prestando todas as orientações necessárias para a interrupção da cadeia de transmissão, bem como das medidas preventivas para que não surjam novos casos.” Com relação a outras patologias, como dores nas costas e ansiedade, a Prefeitura afirma que os casos podem acontecer eventualmente “sem necessidade de constatação pelos médicos municipais”.

A nota diz ainda que “os pacientes afegãos são muito arredios e grande parte deles nem mesmo aceita passar pela consulta”. A Prefeitura informa que pediu apoio federal para a crise humanitária em Guarulhos. A intenção é reforçar a solicitação de reconhecimento da cidade como fronteira do Brasil e de um maior apoio financeiro para a alimentação daqueles que permanecem no aeroporto aguardando acolhimento.

A Secretaria de Desenvolvimento e Assistência Social está em contato com os governos estadual e federal e também com instituições parceiras buscando vagas para acolhimento, mas no momento não há previsão. Enquanto isso, todos os afegãos no aeroporto recebem três refeições diárias da Prefeitura, além de água e cobertores.

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