Santa Marina, clube de 109 anos, será despejado por multinacional francesa
Campo utilizado pelo Santa Marina Atlético Clube, agremiação centenária de São Paulo, teve reintegração de posse marcado para essa 4ª
atualizado
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São Paulo – O Santa Marina Atlético Clube, tradicional clube da várzea de São Paulo, pode deixar de funcionar nesta quarta-feira (14/6). Após 109 anos de história, a agremiação é alvo de uma ação de despejo movida pela Saint-Gobain, multinacional francesa, e teve reintegração de posse determinada pela Justiça paulista.
O Santa Marina fica localizado no bairro da Água Branca, na zona oeste da capital, próximo aos centros de treinamento do Palmeiras e do São Paulo. O terreno é avaliado em R$ 86 milhões e é palco de disputa judicial entre o clube e a multinacional há 16 anos.
Pelo campo de várzea já passaram ex-jogadores como Fininho e Lulinha, ambos ex-Corinthians, Rodrigo Taddei (ex-Palmeiras e Roma) e Morato (ex-Vasco, atualmente no futebol árabe). O clube também se destacou em diversas outras modalidades como futsal, basquete, boxe e judô.
O acervo de fotos, troféus, camisas e outros objetos do clube inclui uma camisa autografada por Pelé. Em agosto de 2021, diante da possibilidade de despejo, a equipe do Museu do Futebol foi até o local para embalar os itens e fazer o inventário.
Na última semana, o Santa Marina encerrou as atividades do time de futsal que treinava no local. Segundo o clube, sem a presença da comunidade “o espaço certamente será afetado”.
Procurada pelo Metrópoles, a Saint-Goibain afirmou, em nota, que sempre esteve aberta ao diálogo e que o clube não quis negociar novos termos de um contrato de uso do local, que havia se expirado em 2019.
109 anos de história
O Santa Marina surgiu da vidraria de mesmo nome, que funcionava no local e teve entre os seus operários os primeiros atletas. Na década de 1960, a fábrica de vidros foi associada à Saint-Gobain, que produz materiais de construção e passou a ser dona do terreno.
Ao longo dos anos, o clube foi perdendo o espaço físico para a multinacional. Desde 2007, o Santa Marina e a Saint-Gobain travam na Justiça uma disputa pelo local. O clube tenta adquirir o terreno via usucapião, ou seja, pelo tempo de ocupação, e tombar a estrutura e o acervo histórico.
Em nota divulgada à imprensa, o Santa Marina alegou que um dos motivos para evitar a desocupação é “justamente permitir que os bens cujo valor de interesse social estão sendo investigados não sofram deterioração ou modificações até que esse processo esteja finalizado”.
O Santa Marina também afirmou sofrer “constantes tentativas de invasão e furto”.
Tombamento histórico e protesto
O processo de tombamento histórico foi utilizado como argumento pela deputada federal Erika Hilton (PSol-SP) para tentar suspender a reintegração de posse, marcada para às 8h dessa quarta. No entanto, o ofício foi indeferido pela juíza Larissa Gaspar Tunala, da 38ª Vara Cível, em decisão publicada nesta terça (13).
A magistrada argumentou que um eventual processo de tombamento “não se mostra incompatível com a retomada do imóvel pela ora requerente” já que a Justiça determinou a que as instalações físicas e o acervo do clube sejam preservados.
“É importante ressaltar que será preservado no local o acervo histórico do clube, até decisão definitiva do Poder Judiciário”, disse a Saint-Gobain em nota.
Para a manhã dessa quarta, um grupo organiza manifestação a partir de 8h contra o processo de reintegração de posse. O ato será em frente ao clube.