Sam’s Club é alvo de ação coletiva por agressão a adolescente negro
O processo, que tramita no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), acusa a rede de orientar funcionários a seguir práticas discriminatórias
atualizado
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São Paulo — Nesta segunda-feira (9/12), a ONG Educafro ajuizou uma ação civil pública contra o Sam’s Club para acusar a companhia de orientar funcionários a seguir práticas racistas. Assinada por advogados voluntários, a peça é guiada pelo caso em que um adolescente negro foi agredido por um segurança, em 2021, em uma unidade da rede de compras na Vila Leopoldina, na zona oeste de São Paulo. O processo coletivo tramita no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP).
Ação coletiva de racismo
A família do adolescente discriminado procurou a ONG após vencer a ação em primeira instância. Em 14 de dezembro de 2023, o TJSP condenou o WMB Supermercados a pagar R$ 15 mil de indenização por danos morais.
“Os pais pediram que a ação beneficiasse a coletividade, com o dinheiro da indenização sendo enviado a uma escola. Como a Justiça negou, eles procuraram a Educafro e pediram que fosse movida a ação coletiva”, explica um advogado voluntário.
Agora, a peça civil pública reúne outros episódios de racismo atribuídos ao Sam’s Club. Para o representante jurídico, a demanda demonstra como a violência praticada nos grandes estabelecimentos comerciais está inserida na cultura do varejo no Brasil.
“O caso mostra uma ação coordenada, uma cadeia de comando que termina com insultos e abordagem físico ao adolescente pelo simples fato de ser negro”, acrescenta.
A ação coletiva pleiteia que a rede de compras adote medidas significativas, como a revisão de protocolos internos de segurança e atendimento, e dos contratos com empresas terceirizadas, assim como o treinamento contínuo e obrigatório de todos os funcionários em práticas antirracistas e de promoção da diversidade. A criação de canais seguros e eficazes para denúncias de discriminação racial também está entre os pedidos.
O Metrópoles entrou em contato com o Sam’s Club, que afirmou não ter sido notificado judicialmente, “mas esclarece que o incidente ocorrido em 2021 é anterior à nova gestão da empresa, iniciada em 2022.”.
A companhia afirmou que “adota protocolos rígidos em relação a segurança e com treinamentos constantes de toda a equipe interna de agentes de fiscalização e vigilantes terceirizados, além de já possuir em todas as unidades as câmeras corporais. Essas ações estão alinhadas a uma política de tolerância zero ao racismo e à discriminação, que visam promover uma cultura inclusiva e respeitosa tanto dentro das lojas quanto em sua cadeia de valor.”
Adolescente negro agredido ao fazer compras com os pais brancos
Segundo o relato, em dezembro, o adolescente foi abordado pelo agente com o objetivo de retirá-lo da loja, “sob a suposição de que estivesse importunando um casal branco, que, na verdade, eram os pais adotivos”. À época, a vítima tinha apenas 13 anos. Atualmente, ele ainda é menor de idade.
Menos de 20 segundos após se posicionar ao lado do pai na fila do caixa, o garoto foi “agarrado por trás, de maneira truculenta e agressiva”. “Esse segurança, utilizando sua mão esquerda, envolveu o adolescente por debaixo do braço, imobilizando-o em uma posição de contenção, como se estivesse retirando um infrator do local. Imediatamente após a abordagem, o funcionário perguntou ao pai do menino negro, que julgou ser um desconhecido: “Ele está incomodando o senhor?”
De acordo com a família, a situação ainda foi agravada pela omissão da administração do Sam’s Club. Após o ato discriminatório, os parentes falaram com o gerente da unidade, mas ele se limitou a sugerir que os pais procurassem o serviço de atendimento ao cliente (SAC).
Ouvido pelo Metrópoles, um dos representantes jurídicos alega que a abordagem não foi um erro isolado do agente, mas, sim, o resultado de uma diretriz coordenada e estrutural na companhia. “A família nos procurou em virtude de considerar que não era um problema individual, mas um problema coletivo. Isso demonstra que a conduta é fruto de práticas estruturais e não apenas um caso pontual”, destaca Márlon Reis.
Sam’s Club
Fundado em 1983 por Sam Walton, nos Estados Unidos, o Sam’s Club é um clube de compras do grupo Walmart. No Brasil, a rede passou a ser administrada em 2022 pelo Carrefour, depois da aquisição do Grupo BIG, o antigo Walmart Brasil.
