“Saio com celular no sapato”, diz vizinho de fluxo na Cracolândia
Vizinho de fluxo da Cracolândia diz que colocar celular no sapato é estratégia para chegar ao metrô com menos risco de ser roubado
atualizado
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São Paulo — Viver sitiado em meio ao fluxo da Cracolândia, na região central de São Paulo, levou o técnico de enfermagem Francisco, de 26 anos, a desenvolver uma estratégia para conseguir chegar até a estação do metrô sem perder o celular.
O relato foi publicado nesse domingo (20/8) pelo Metrópoles, que mostrou como moradores do Condomínio Mauá estão desesperados com a concentração de usuários, o fluxo, na Rua dos Protestantes.
O técnico de enfermagem mora com a mãe e dois irmãos adolescentes no 14º e último andar de um dos prédios. O pior de tudo, diz ele, é a insegurança. “Saio todos os dias com o celular no sapato. Foi a forma que encontrei. Dentro da estação, eu tiro”, diz. Francisco conta ter visto seis assaltos desde que se mudou, fora os inúmeros relatos que escuta. “Mesmo morando em frente à GCM, aconteceu tudo isso.”
A violência é uma constante no entorno. O segurança João da Silva Souza, de 54 anos, foi assassinado por um usuário de crack no Largo General Osório. Um dia depois, a filha de uma moradora foi ameaçada e assaltada na porta do condomínio.
Francisco vivia no Jardim Eliza Maria, na zona norte da capital paulista, distante da região central, antes de se mudar para o Complexo Mauá. “É periferia, mas muito mais tranquilo. Tenho a impressão de que estou vivendo agora no inferno. Se inferno existe, está aqui ao lado do meu apartamento”, afirma.
Diante de toda a situação, o técnico de enfermagem já cogita ir embora. “Posso ser assaltado, posso levar uma facada, como aconteceu com um vizinho do nosso prédio. É uma pressão psicológica muito grande. A gente não dorme direito, parece que a gente está à míngua do poder público”, afirma o técnico de enfermagem de 26 anos. “A vontade que dá é de abandonar o apartamento e deixar tudo para trás”, diz.
Questionados, Prefeitura de São Paulo e governo estadual descreveram as ações que desenvolvem na região e que, segundo as autoridades, teriam surtido efeito nos últimos meses.