Roubo no atacado leva medo à Rua 25 de Março em temporada de compras
Ladrões têm mirado roubo de dinheiro vivo e de carga sem nota nos carrinhos da 25 de Março; cliente de fim de ano também deve abrir o olho
atualizado
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São Paulo – O comércio por atacado e de produtos eletrônicos está cada vez mais na mira de quadrilhas que tocam o terror na região da Rua 25 de Março, no centro de São Paulo. Bandos especializados contam com olheiros para identificar produtos valiosos e conseguem agir com a certeza de que as vítimas dificilmente vão procurar a polícia para registrar a ocorrência —parte da mercadoria não tem nota ou comprovação de origem. Esse tipo de roubo no atacado é subnotificado nas estatísticas oficiais.
No cruzamento entre as ruas Barão de Duprat e Comendador Afonso Kherlakian, o vaivém de mercadorias em carrinhos é intenso durante todo o dia. Segundo pessoas que trabalham na região, a movimentação é decorrente tanto da transferência de produtos de depósitos clandestinos para boxes em galerias, quanto para os carros de clientes que compram em grande quantidade.
Um segurança de 55 anos que faz serviço de escolta de carrinhos para comerciantes da região há três anos diz que, no último mês, entrou no radar dos ladrões ao menos em duas oportunidades, mas conseguiu se safar com a mercadoria. “Um amigo nosso viu e avisou que estávamos sendo seguidos”, diz.
O segurança e o carregador que era escoltado conseguiram escapar, mas a mesma sorte não teve um comerciante que se aventurou sozinho pela Barão de Duprat, segundo ele relata. “Aqui na esquina, presenciei um chinês sendo roubado. Os caras meteram o revólver na cabeça dele e levaram o carrinho, à luz do dia, no meio de todo mundo”, diz.
A expectativa para dezembro é de piora na insegurança e aumento no número de roubos. “Agora, no fim de ano, aparece muito. Eles vêm em bando para ‘fazer a boa'”, afirma.
O comércio online também é afetado de alguma maneira pelos roubos. Motoboys que vão até o local para retirar mercadorias vendidas pela internet são algumas das vítimas das quadrilhas. De forma geral, são seguidos e abordados no caminho até os bolsões onde deixam as motocicletas, mas há registro de assalto em frente a uma das galerias, com o entregador sendo jogado no chão e tendo a mochila levada pelos bandidos sem qualquer interferência de quem estava no local.
Um vendedor de 31 anos, que trabalha há 12 na região, afirma que já foi abordado por ladrões, mas conseguiu escapar do roubo na base da conversa. “Não vou entregar, porque te vejo todo dia”, disse para os bandidos.
O vendedor afirma que há olheiros espalhados pela região toda tentando identificar o que as pessoas estão comprando. Mas diz que há também ladrões com informações privilegiadas, de dentro de algumas lojas. “Até mesmo quem vende ‘dá a fita’ [passa a informação] para recuperar a mercadoria e depois paga os caras [ladrões]”, afirma.
Segundo a associação dos lojistas da 25 de Março (Univinco), olheiros que integram quadrilhas foram presos nos últimos dois meses, depois de serem identificados por câmeras de segurança.
Oportunidade
Embora os ladrões estejam mais focados no atacado, eles também não esquecem o varejo. Quem pretende fazer as compras de Natal para a família precisa ter olho vivo para não virar vítima dos crimes de oportunidade. Joias, dinheiro, relógios e, principalmente, celulares podem ser arrancados em um esbarrão na calçada. É uma fórmula antiga, que remete aos trombadinhas do passado, mas ainda eficiente no mudo do crime.
O casal de comerciantes Ivan Souza, 45 anos, e Silvia Renata, 46, frequenta a região quase que diariamente. Eles viram um ladrão levando o celular de uma mulher que estava sentada na calçada recentemente. “Ele olhou para nós e queria nos assaltar, mas viu que a gente não tinha nada tão fácil e foi para cima dela”, diz Silvia.
O casal conta que pessoas com sacolinhas pretas onde se supõe que haja eletrônicos são alvos preferenciais dos bandos para o roubo. “O cara fica na porta da loja, já sabe quem vai pegar. Chega um, chega outro, cercam e levam”, diz Souza.
“Ladrão tem demais aqui. Tem mais ladrão que segurança. Eles dão gravata, arrancam corrente, na frente de todo mundo”, afirma justamente um segurança de 57 anos que está há 30 na região. Ele conta que, quando chegou à 25, ainda nos anos 1990, o clima não era tão violento. “Quando comecei, era um sossego. O patrão fazia o pagamento dos funcionários na frente de todo mundo”, diz.
Na última semana, a reportagem do Metrópoles esteve na 25 de Março e encontrou bases e policiais militares espalhados pela região como um todo. Também havia viaturas da Polícia Civil circulando pela área, além de guardas civis metropolitanos.
O que dizem as autoridades
Procurada, a Prefeitura de São Paulo afirmou que as questões sobre os roubos cabem ao governo estadual. “Os questionamentos sobre políticas de segurança pública devem ser encaminhados à Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo“, disse, em nota.
Já a SSP afirmou que, desde o dia 21 de novembro, o policiamento ostensivo e preventivo foi reforçado em toda a região da Rua 25 de Março, por meio da Operação Compras Final de Ano, realizada pelo 7º BPM/M.
“O reforço permanecerá até o dia 27 de dezembro. A Polícia Militar mapeia as ocorrências criminais e intensifica o patrulhamento nas áreas de maior fluxo comercial e circulação de pessoas, priorizando os locais com maior incidência de crimes. Essas regiões também contam com emprego de policiais em jornadas extraordinárias de trabalho (Atividade Delegada e DEJEM)”, afirmou.