Tiago Abravanel: “A cultura pode transformar as pessoas”
Em entrevista, o ator conta como foi a sua preparação para viver Vlad, em “Anastasia”, e sua entrada na produção com o musical “Hairspray”
atualizado
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Durante as audições para o musical “Anastasia”, os diretores da Broadway não encontraram um ator que convencesse no papel de Vlad, um ex-aristocrata que tinha relações com a corte dos Romanov. A personagem é central na trama da princesa russa que perdeu a memória e busca se lembrar de quem um dia foi.
Os diretores norte-americanos já tinham ido embora do Brasil e deixado a missão com a produtora do musical, Almali Zraik, que teve um insight: “Eu acho que esse papel é a cara do Tiago Abravanel“. Rapidamente, ligou para o ator que estava viajando e disse: “Tenho um personagem para o musical ‘Anastasia’ que eu acho que é a sua cara”.
Tiago estava em viagem com o então futuro marido, Fernando Poli, e com o casamento marcado para um mês antes da data de estreia da peça. Pediu um dia para pensar. Seria sua volta ao Teatro Renault. A última vez que subiu naquele palco tinha sido no musical “Miss Saigon”, em 2007, quando fez parte do coro.
Depois de uma noite sem dormir refletindo, Tiago topou fazer o teste. Gravou um vídeo para audição. Assim que viu o vídeo, a direção da Broadway retornou para Almali com a aprovação: “onde você achou esse cara? Ele é perfeito!”.
O ator já tinha visto a montagem do musical na Broadway em 2017. “Eu lembro que falei: ‘se esse musical viesse pro Brasil, eu gostaria de fazer o Vlad”’, recorda Tiago.
Hoje, vivendo a personagem que um dia sonhou em fazer, o ator conta ao Metrópoles como foi o processo de criação para viver o Vlad e sua relação já antiga com os musicais. Tiago também comprou os direitos do musical “Hairspray”, que deve estrear em 2023. Confira os principais trechos da entrevista:
Você já tem se tornado uma figura frequente na cena do teatro musical paulistano. Como começou o seu envolvimento com o teatro musical?
Minha relação com os musicais vem desde criança. Não me lembro da possibilidade de ser ator e não trabalhar com musicais. O musical sempre foi minha grande paixão. Estudei e me aperfeiçoei para que eu pudesse trabalhar com isso. Hoje em dia, fico muito feliz de parte da minha da minha dedicação estar dentro de algo que eu amo.
Você lembra qual foi o primeiro musical que viu? Qual foi o impacto?
A minha primeira referência de musicais foram os filmes da Disney. Eu já via esse lugar como um instrumento de contar histórias por meio das músicas – o que era fascinante pra mim. Quando eu entendi que eu poderia trabalhar com isso foi ainda mais potente. Acho que o primeiro musical que eu vi foi no teatro da minha mãe (Cintia Abravanel), a peça se chamava “Draculinha”. Não era um grande musical, mas foi a minha primeira referência marcante, quando vi os atores sapateando e cantando. Acho que ali que decidi “quero fazer isso”. Depois fui estudar no Teen Broadway, onde fiz meu primeiro curso e entrei no universo dos musicais a fundo.
Como foi a sua preparação para fazer “Anastasia”?
O processo de criação da personagem aconteceu nos ensaios – que foram muito rápidos, estreamos com seis semanas de ensaio. Minha dificuldade pessoal era encontrar essa personalidade mais velha do que a minha idade para viver essa personagem que vive outra cultura e em outro país, que tem outra atmosfera – e até outra temperatura – muito diferente do Brasil. Mas é maravilhoso. Me divirto muito fazendo o Vlad.
Você já conhecia a história? Chegou a ser um dos fãs da animação?
Sim, já gostava da animação. Mas agora, nesse processo, eu não quis assistir animação para não ter essa referência tão marcante. Porque a peça é diferente. Mas tive a oportunidade de assistir esse musical na Broadway em 2017. E lembro que eu falei: “se esse musical viesse para o Brasil, eu gostaria de fazer o Vlad”. Tenho um carinho gigante por “Anastasia”.
Você foi uma das estrelas da última edição do BBB. A sua participação no reality te ajudou de alguma forma na sua carreira de ator?
A minha participação no Big Brother influenciou principalmente na visibilidade que o programa me trouxe para minha carreira e o fato das pessoas conhecerem mais o Tiago. Porque eu não estava atuando ali dentro. O meu trabalho de ator mesmo as pessoas vão conhecer quando forem ao teatro me assistir.
Você já tinha feito “Hairspray” e agora comprou os direitos para remontar a peça em 2023. De onde veio o interesse em produzir este musical?
É um sonho antigo. Quando eu estudava teatro musical no Teen Broadway, eu tive a oportunidade de conhecer um pouco mais da obra e me apaixonei logo de cara. Quando eu fiz, em 2009, foi uma parte da realização desse sonho, porque eu era substituto do Edson Celulari, mas nunca tive a oportunidade de substituí-lo de fato. Apesar de falar de uma época específica – a década de 1960 –, é uma história extremamente atual que trata de assuntos muito importantes e que temos falado muito neste momento do país e do mundo.
Como está sendo viver esse outro lado mais burocrático da produção?
Eu nasci dentro de uma família de produtores – minha mãe foi produtora de teatro por muitos anos. A experiência de conviver dentro desse universo e trabalhar em grandes produções me fizeram ter a vontade e a coragem de realizar esse sonho de trazer esse espetáculo para o Brasil, mas de uma maneira completamente diferente do que foi a outra montagem. Não é fácil produzir teatro no Brasil, não é fácil fazer cultura no nosso país, mas eu não desisto e corro atrás. Porque foi justamente desse lugar que eu vim e foi nesse lugar que eu me transformei. Eu acredito que a cultura pode transformar outras pessoas. Por isso eu acredito tanto nessa produção.
Veja um trecho do musical “Anastasia”:
Teatro Renault: Av. Brigadeiro Luís Antônio, 411 – Bela Vista, São Paulo. Qui./Sex.: 21h; sáb.: 17h e 21h; e dom.: 16h e 20h. Ingressos: a partir de R$ 45. Até maio. Site: ticketsforfun.com.br.