Museu do Ipiranga: de liquidificador a obra de arte, saiba o que ver
O museu tem 26 salas e cerca 4 mil itens expostos; entenda o que faz parte deste acervo e o que você não pode deixar de conferir
atualizado
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Depois de nove anos fechado e uma reforma de R$ 235 milhões, entre recursos públicos e privados, o Museu Paulista, também conhecido como Museu do Ipiranga, foi reaberto em setembro. Além do restauro cuidadoso, parte dos investimentos foram feitos com objetivo de deixar o museu totalmente acessível.
Há objetos táteis e audiodescrição para quem tem deficiência visual em todas as salas. Os vídeos que apresentam contrapontos de obras feitas no século XIX, em especial sobre a figura controversa dos bandeirantes, também têm legendas para quem tem deficiência auditiva.
Após a reforma, a intuição dobrou a sua capacidade expositiva. Hoje, 11 mostras ocupam 26 salas – atualmente há 4 mil itens em exposição. Os números são grandes, mas antes de entrar no museu é preciso ter de algumas informações para não frustrar as suas expectativas.
A república no meio do processo
O melhor jeito de começar a sua visita, antes de tirar uma foto na escadaria, é visitando a exposição “Para entender o Museu”, que conta a história da instituição, que nunca serviu de residência a nenhum monarca e sofreu algumas crises de identidade no processo.
A ideia de construir um monumento para homenagear a Independência do Brasil surgiu em 1826. Mas durante o processo de construção, o país viveu marcos históricos importantes como abolição da escravidão, em 1888, e a Proclamação da República em 1889.
Um museu dedicado à vida e aos feitos da família imperial parecia já não fazer sentido ao se aproximar a data do centenário da Independência, em 1922. Por isso, o primeiro destino do prédio, inaugurado em 1890, foi o de Museu de Zoologia e Botânica – aliás, no fundo do terreno, está o horto botânico onde há espécies como araribá-rosa, bambu-chinês, canelinha-cheirosa, cedro e embiruçu.
Nessa exposição, há itens dessa primeira coleção do Museu do Ipiranga; a maquete original do prédio feita na época de sua construção no século XIX; e a maquete do restauro recente.
Sai a cama da Marquesa e entra a jarra de abacaxi
Quem visitou o museu antes do fechamento para o restauro vai se lembrar de grandes peças que ocupavam salas quase inteiras como carruagens, liteiras e a cama da Marquesa de Santos – que foi amante de Dom Pedro I. Para a frustração de quem regressa à instituição agora, esses objetos não estão em exposição.
Neste primeiro momento, de re-apresentação do museu para a sociedade, as 11 mostras em cartaz discutem a própria vocação e função da instituição. Não se espante se você reconhecer os eletrodomésticos da casa de seus avôs ou pais na exposição “Casas e Coisas”. Na sala, você vai se deparar com uma jarra de abacaxi, liquidificadores, batedeiras e até geladeiras.
A ideia dessa mostra é apresentar o vasto acervo sobre a vida dos paulistas que a instituição guarda. E dizer aos visitantes que, sim, objetos da sua casa também podem virar peças de museus porque contam histórias de uma época.
Quem quiser ver mais peças da família real e outros objetos mais dedicados ao tempo da monarquia, talvez seja melhor visitar o Museu Imperial no Rio de Janeiro, onde viveu a antiga corte.
Uma exposição para a posteridade
Geralmente exposições de arte são temporárias. Até mesmo os acervos das instituições sofrem alterações de tempos em tempos. Mas “Uma história do Brasil” foi tombada em 1960 e por isso desde então nenhuma peça é trocada.
O mote da mostra é apresentar a história do Brasil a partir de São Paulo. A visita começa pelo saguão, com grandes esculturas de bandeirantes como a de Fernão Dias, e pinturas de personalidades ajudaram a construir a cidade, a exemplo de João Ramalho.
A escadaria é decorada com ânforas que armazenam águas dos rios que cortam São Paulo. Nas paredes, quadros apresentam personalidades de outros estados. No fim da escada, esta sala onde você vai encontrar o icônico quadro “Independência ou Morte”, de Dom Pedro. Há ainda retratos da Imperatriz Leopoldina e da combatente Maria Quitéria, mulheres importantes no processo de independência do Brasil.
Grandes e pequenos quadros
Se você gosta de ir a museus para ver obras de arte, a instituição também guarda suas preciosidades. A mostra “Coletar: imagens e objetos” apresenta a coleção de Elisiário Dupas, composta de 33 pinturas assinadas pelo belga Adrien Henri Vital van Emelen (1868-1943).
O conjunto apresenta retratos de pessoas negras e indígenas, que não estão identificadas por nome nem sobrenome, mas por um título que indica uma categoria étnica. Os retratos de pequeno porte lembram as grandes pinturas de Almeida Jr. de tipos brasileiros como “O caipira picando fumo”, que faz parte do acervo da Pinacoteca.
Aliás, falando em Almeida Jr., na sala “Passados Imaginados”, está a grande tela do pintor: “Partida da Monção” (1897), ao lado, o quatro “Combate de Botocudos em Mogi das Cruzes” (1920), de Oscar Pereira da Silva. Com a reunião desses quadros, a mostra pretende questionar os registros feitos pelos artistas sobre a história do país, que colocava a figura do bandeirante como um herói e a população formada de negros e índios como pessoas pacíficas e pouco resistentes aos combates. O que hoje sabemos não foi bem assim.
Na sala ao lado, está a paisagem “Inundação da Várzea do Carmo” (1892), de Benedito Calixto, que mostra uma São Paulo de séculos atrás. Vale ainda dar um pulo na exposição “Mundos do Trabalho”, para ver as pinturas luminosas das plantações de café feitas pelo pintor italiano Antonio Ferrigno.
Não pode faltar na sua visita
Ao lado da exposição “Passados Imaginados”, está a maquete de São Paulo em 1841, feita pelo holandês Henrique Bakkenist, em 1922. Uma projeção em vídeo mapping identifica as construções da cidade no século XIX, como a cidade se expandiu e o que ficou de fora da representação.
Além da parte subterrânea, por onde hoje se entra no museu, a instituição ganhou um mirante na parte mais alta da construção. Dali se tem uma bela vista do Jardim Francês e da cidade, dá para avistar o Edifício Altino Arantes, no centro, as antenas da avenida Paulista e a Serra da Cantareira.
Observar a maquete de São Paulo em 1841 e depois ver a cidade do mirante, para ter a dimensão do que a vila de Piratininga se transformou, é um bom jeito de encerrar a sua visita.
R. dos Patriotas, 20 – Vila Monumento. Ter./dom.: 11h/17h. Grátis até 6/12. Site: museudoipiranga.org.br.