“Museus Populares”: quatro mostras imersivas em cartaz em São Paulo
Artistas como Michelangelo, Claude Monet, Frida Kahlo e Banksy estão em cartaz em exposições que prometem muitos posts nas redes sociais
atualizado
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Atualmente a cidade de São Paulo está com quatro mostras chamadas de imersivas em cartaz — em março, serão cinco com a abertura de “Imagine Picasso”, dedicada ao trabalho do artista espanhol. Em comum, essas exposições trazem grandes nomes internacionais das artes visuais, projeções de video mapping, muitos cenários para fotos e zero obras verdadeiras de seus artistas.
Puristas vão dizer que é uma heresia chamar esses eventos de exposições. O poeta Mário de Andrade, que atuava também como crítico e colecionador de arte, entretanto, deu indícios que aprovaria o movimento muito antes de virar moda.
Em 1938, em torno da discussão sobre a criação de um museu de arte moderna, o escritor modernista publicou o texto “Museus populares”, em que defendia ter nas instituições coleções de reproduções de grandes obras de arte. “O que de principal nós podemos tirar da Gioconda, a reprodução dela nos dá. Sejamos reais”, afirmou o poeta, que completou:
“Em vez de tortuosos museus de belas-artes, cheios de quadros verdadeiros de pintores medíocres, com menos dinheiro abramos museus populares de ótimas reproduções feitas por meios mecânicos, com todas as escolas de artes representadas por seus gênios maiores e suas obras principais.”
Em fevereiro, em São Paulo, por meio de projeções e reproduções certificadas, é possível experienciar trabalhos de nomes como Claude Monet, Frida Kahlo, Michelangelo e Banksy. Mesmo sem qualquer obra verdadeiramente criada e assinada por seus autores, todas essas exposições atraem centenas de milhares de pessoas em suas temporadas. Entre novembro de 2022 e janeiro de 2023, na capital paulista, “Monet à beira d’água”, atraiu 181.082 pessoas — superando o público médio mensal de museus como Masp, que recebe cerca de 44 000 visitantes.
Se a reprodução técnica dessas obras fazem com elas percam sua aura, como já teorizou o filósofo alemão Walter Benjamin, essas mostras funcionam como janelas para um primeiro contato com artistas que não tem trabalhos disponíveis para se ver no Brasil. Afinal, viajar à Itália para conhecer a Capela Sistina pode ser inviável para alguns.
Um desses quatro artistas, porém, tem trabalhos verdadeiros em exposição em São Paulo. O Metrópoles visitou as quatro mostras em cartaz. Confira os detalhes e descubra de qual autor você poderá ver duas telas verdadeiras ao vivo após visitar a mostra imersiva.
Michelangelo: o mestre da Capela Sistina
A mostra prepara o visitante antes de chegar ao espaço de projeção: são 14 salas detalhando o processo criativo de Michelangelo para pintar a capela — trabalho que levou quatro anos. A visita começa pelo ateliê do artista, segue esmiuçando os temas retratados na pintura e conta a história da construção usada para o conclave — reunião dos cardeais para a escolha de um novo papa. A sala de reprodução da capela tem quase a mesma dimensão da real, é apenas 20% menor, e a vantagem: você pode deitar no chão para apreciar as imagens da pintura no teto, algo impossível em Roma. Com poucos malabarismos visuais, a reprodução da obra de Michelangelo pode ser bem apreciada pelo visitante ao longo de 23 minutos.
MIS Experience: Rua Cenno Sbrighi, 250 — Barra Funda. Ter./sex.: 10h/18h; sáb.: 10h/19h; dom.: 10h/18h. Site: michelangelocapelasistina.com.br. Ingressos a partir de R$15 (ter.: grátis).
Monet à beira d’água
As pessoas se encantam ao observar as 285 telas de Monet reproduzidas em grande escala durante 65 minutos. As projeções dão movimento às cenas pintadas pelo artista francês. O cenário, desenvolvido em uma tenda, possibilita ao visitante diferentes ângulos de visão — sentado no chão, em bancos, à beira de lagos artificiais, em uma plataforma elevada, ou caminhando sobre uma ponte que atravessa um dos reservatórios de água. Em São Paulo, após a experiência imersiva, quem tiver interesse pode ver duas obras de Monet ao vivo. No acervo do Museu de Arte de São Paulo (Masp) estão expostas “A ponte japonesa sobre a lagoa das ninféias em Giverny” e “A canoa sobre o Epte”. Um excelente complemento ao passeio.
Parque Villa-Lobos: Av. Prof. Fonseca Rodrigues, 1365 — Alto de Pinheiros. Ter./dom.: 10h/21h15. Site: monetbeiradagua.com.br. Ingressos a partir de R$30,00.
The arf of Bansky — Without Limits
Trabalhar mais com cenários do que com projeções é um acerto da mostra sobre o artista de rua Banksy, que se camufla atrás deste pseudônimo e poucos sabem sua verdadeira identidade. Midiático, polêmico e ácido, Bansky é conhecido por fazer grafites de forte cunho político e com críticas sociais. A exposição traz cerca de 160 de reproduções certificadas de obras do artista, como a do famoso grafite “Menina com Balão”. O ambiente mais interessante é o que traz as pinturas feitas na Ucrânia durante a guerra contra a Rússia. Nessa sala, há vídeos mostrando os locais onde estão os trabalhos.
Shopping Eldorado: Av. Rebouças, 3.970 — Pinheiros. Seg./sáb.: 10h/21h; dom.: 11h/20h. Site: www.artofbanksy.com. Ingressos a partir de R$ 45.
Frida Kahlo — Uma Biografia Imersiva
Na mostra, não há nenhuma reprodução de quadros de Frida Kahlo, pois, segundo os organizadores, o foco está na vida da artista mexicana. As “liberdades poéticas visuais” para ilustrar fatos da trajetória da artista se valem de clichês, como projetar em um coração uma foto dela com o artista Diego Rivera, com quem foi casada. As instalações podem até render boas fotos para redes sociais, no entanto, aprofundam-se muito pouco na a vida e na obra da pintora. O excesso de texto também torna a visita cansativa.
Shopping Eldorado: Av. Rebouças, 3.970 — Pinheiros. Seg./sáb.: 10h/21h; dom.: 11h/20h. Site: fridakahlosaopaulo.com.br. Ingressos a partir de R$ 45.