Crítica: Aftersun exalta relação de pai e filha e descoberta do amor
Filme com Paul Mescal, Aftersun marca estreia de Charlotte Wells em longas e faz alusão à memórias da diretora com o pai
atualizado
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Existem teorias que colocam os pais como o primeiro amor dos filhos. E talvez seja essa relação, que pode parecer mágica na primeira infância, mas costuma mudar na adolescência, que leva aos conflitos das relações entre pais e filhos. Afinal, conforme crescemos, percebemos os defeitos das pessoas que nos criaram e passamos a fazer uma busca por outros tipos de amor.
É esse confuso crescimento que Aftersun apresenta nas telas do cinema a partir desta quinta-feira (1º/12). O filme, que tem Paul Mescal como o protagonista Callum e Frankie Corio dando vida à pequena Sophie, marca também a estreia da diretora Charlotte Wells em longas-metragens no cinema. Para a produção, ela se inspirou em memórias que criou com o pai nas férias enquanto era criança.
Em Aftersun, Sophie vai passar as férias com o pai em um hotel simples e barato. Entre sol à beira da piscina, mergulhos no mar e apresentações noturnas, os dois registram a viagem à Turquia dos anos 1990 com uma câmera de vídeo. É nesse pequeno período de folga também que a menina começa a observar algo além das relações que a moveram até os 11 anos.
É marcante enxergar beijos e carinhos que parecem tão comuns aos adultos pela perspectiva de alguém que está na transição entre a infância e a adolescência. A mudança de perspectiva também traz cenas um tanto fofas e o “primeiro amor” da menina, carregado de inocência e leveza.
Embora o filme não tenha muitas falas que demonstram o amor entre pai e filha, são nos pequenos atos que é possível ver a potência desse sentimento. Callum vai além dos cuidados tradicionais e ensina coisas que considera importantes para a menina, mas também mostra um sofrimento comum à paternidade, que não é tão comum nas telonas.
Outra dor que parece atormentar o personagem de Mescal é ultrapassar os 30 anos. Nas férias, ele está prestes a completar 31, embora a filha se divirta com a ideia de que ele já tem “130”. Nos pequenos detalhes, é possível ver a clássica “crise dos 30” refletida na frustração de quem não alcançou todos os objetivos — e sofre por isso.
Quem também vive sob algum tipo de tormento é a Sophie adulta, uma mulher casada e mãe, que parece buscar uma compreensão sobre a relação com o pai, por quem nutre carinho, mas também questionamentos. É revivendo as memórias dela que a diretora apresenta um longa sem respostas diretas, mas com aberturas para aqueles que se apegam às possibilidades e não se chocam com a realidade.
Avaliação: Bom.