Bolsonaro foi a pessoa mais difícil de fotografar, diz Bob Wolfenson
Em entrevista ao Metrópoles sobre novo livro de histórias, Bob Wolfenson afirma que Bolsonaro foi a personalidade mais difícil de fotografar
atualizado
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São Paulo – O fotógrafo Bob Wolfenson já trabalhou com super modelos como Gisele Bündchen e Naomi Campbell, com os astros da música Iggy Pop e Lenny Kravitz, e com uma série de artistas brasileiros consagrados, entre eles Rita Lee, Caetano Veloso e Jô Soares.
Mas a personalidade mais difícil de retratar em 53 anos de carreira vem do mundo da política: Jair Bolsonaro (PL). “Estar diante dele não foi tão difícil, na hora ali não foi tão difícil. Difícil foi a negociação toda para chegar até esse ponto”, conta Wolfenson, que retratou o ex-presidente e os demais candidatos durante as eleições no ano passado.
Nesta segunda-feira (6/3), o fotógrafo lançará mais uma obra, O Livro Falado, no Museu da Imagem e do Som (MIS), na capital paulista. Dessa vez, não se trata de uma obra de fotos e sim de histórias. Em entrevista ao Metrópoles, Wolfenson contou algumas delas.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista.
Como foi revisitar toda a sua carreira para preparar o livro?
Quando os editores me procuraram, eles falaram “você já tem tanta coisa, nós vamos fazer o quê?” e eu pensei a mesma coisa. Não aguentava mais livro meu, já tive overdose de exposição. Então, eles sugeriram que eu fizesse um livro contando histórias por trás daquelas sessões, com comentários sobre alguma imagem. Na verdade, as histórias passaram a ser mais importantes que as fotos. Escolhemos as fotos a partir das histórias e não o contrário. Não é um livro de fotografia. Os textos são pequenos, porque ninguém lê mais nada. A partir de uma história boa, nós procuramos as fotos.
Como foi para você essa inversão? Como foi deixar a foto em segundo lugar?
Eu escrevo bastante já, escrevi um livro que se chama Cartas ao Jovem Fotógrafo. Eu já tenho muita familiaridade com as palavras. Achei a ideia muito boa. Obviamente, é diferente. No princípio, me incomodava muito quando as fotografias ficavam pequenas. Eu falei: “mas fotografia pequena em um livro de fotografia?” Mas eu fui entendendo a natureza do livro, aceitando e achei muito bonito.
Para o livro você teve que ‘desenterrar’ alguma história?
É um fio de meada. Você pega uma coisa e puxa a outra, mandava os textos para revisão e voltava para mim porque tiravam aquele tom coloquial que eu tinha posto, aí eu voltava para o tom coloquial. Teve muitas histórias que eu nem lembrava que eu já tinha vivido. Eu conto histórias de fotos que não deram certo, de fotos que a ideia surgiu na hora, de pessoas que eu fotografei muito, em vários momentos diferentes, como a Fernanda Young e a Rita Lee.
Tem alguma história que é a sua favorita?
Não. Eu tenho a característica de não esconder os meus erros. Por isso, eu tenho essa longevidade. Tem coisas na minha carreira que são ruins, que não deram certo. Eu conto essa história no livro. Teve uma foto com o Lenny Kravitz que não deu certo. Ele chegou no estúdio que eu tinha preparado mais com fundo neutro e e falou que isso não iria fazer, porque ele achava chato, boring. Falei “está bom o que você quer fazer?” Tinha um grafitti horroroso no lugar que eu estava e ele quis fazer nesse grafitti. A revista nem usou as fotos. Eu fiz questão de colocar isso no livro, pode ser que ele me processe.