Rogerinho, policial foragido, detalha caso em que matou suspeito. Veja
Rogerinho Punisher era amigo pessoal do deputado e ex-delegado Carlos Alberto da Cunha, réu por constrangimento ilegal e abuso de autoridade
atualizado
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São Paulo — O investigador da Polícia Civil Rogério Almeida Felício, o Rogerinho, foragido desde terça-feira (17/12) por suspeita de ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC), deu detalhes, em entrevista ao Delegado da Cunha, sobre uma ocorrência em que matou um suspeito a tiros.
Assim como Da Cunha, que viria a ser afastado da Polícia Civil sob suspeita de abuso de autoridade e constrangimento ilegal, Rogerinho Punisher, como era conhecido, também era influenciador digital. Eles atuaram na Equipe de Intervenções Estratégicas da 8ª Seccional e gravaram vídeos juntos. Segundo Da Cunha, Rogerinho é um “amigo para a vida toda”.
Na entrevista que concedeu ao canal de Da Cunha, em 2021, o investigador disse que dirigia seu carro quando foi surpreendido por dois assaltantes em uma moto. Ele teria, então, efetuado dois disparos, que acertaram um dos ladrões, enquanto o outro fugiu.
“Do jeito que eu virei aqui, eu dei. Eu disparo duas vezes. Nessa hora passa 1 milhão de coisas na sua cabeça. Você não vê nada. Não ouvi o tiro da arma, o barulho, nada. Eu percebi que o vulto afastou e eu pulei para o outro banco, enquanto o outro correu”, afirma Rogerinho.
“Saí do carro pelo banco do passageiro, fui tomando ângulo e quando vi ele estava caído com a arma na mão, um 38. Do jeito que eu dei, ele foi para trás e não conseguiu nem disparar. […] Um entrou direto no peito, fez um buraco. Tenho a foto guardada até hoje”, acrescenta o policial.
Assista:
“Amigo para a vida”
Durante entrevista a um podcast em maio de 2022, quando já estava afastado da Polícia Civil, Da Cunha, hoje deputado federal, foi questionado sobre a relação com seus antigos colegas, com quem havia se desentendido. Ele respondeu dizendo que Rogerinho era seu amigo e que, no dia anterior, eles haviam tomado refrigerante com esfirra.
“O Rogério é meu amigo de uma vida toda. O Rogério é de Santos, é criado e tal […] Ontem, eu estava com o Rogério do lado da Delegacia Geral tomando Coca-Cola e comendo esfirra. Já está tudo certo. Já mandei um abraço para o Renato, para o doutor Denis. ‘Ah, eles brigaram com você’. Brigaram, imagina a pressão que eles estavam tomando lá dentro. Eu mandando rojão e eles lá dentro aguentando”, afirmou Da Cunha.
“Quando eu saí, o doutor Denis, o Renato e o Rogério foram perseguidos. Se eles falassem meu nome ou falassem que gostassem de mim, eles iam ser moídos. Até o doutor Rui [Ferraz Fontes] sair do poder”, acrescentou.
Da Cunha foi afastado da Polícia Civil após suspeitas de que ele teria obrigado a vítima de um sequestro a voltar para o cativeiro, nos braços de um sequestrador, para fazer uma gravação para seu canal no YouTube na zona leste de São Paulo. Mais tarde, o ex-delegado viria a se tornar réu por constrangimento ilegal.
Rui Ferraz Fontes, mencionado por Da Cunha na entrevista ao podcast, era o então delegado-geral da Polícia Civil.
“Olha o tamanho do Rui. Imagina o Rui, a Delegacia Geral, todo mundo moendo os caras porque os caras trabalharam comigo. Eles ficavam com a faca no pescoço”, afirma.
Vida de luxo
Com cerca de 70 mil seguidores no Instagram, Rogerinho Punisher ostentava fotos de viagens, roupas caras e relógios de marca.
A vida de luxo, incompatível com seu salário de R$ 7 mil na Polícia Civil, era bancada por seu trabalho como segurança de Gusttavo Lima e sua incorporadora imobiliária no litoral sul de São Paulo, a Magnata Empreendimentos, aberta em 2017.
Mandado de prisão
Rogério Almeida Felício foi alvo de um mandado de prisão expedido no âmbito da Operação Tacitus, deflagrada pela Polícia Federal em parceria com o Ministério Público de São Paulo. Outras sete pessoas foram presas, incluindo um delegado e outros três policiais civis.
O grupo foi citado pelo corretor Vinícius Gritzbach em depoimento à Corregedoria da Polícia Civil em 31 de outubro. De acordo com as declarações, os policiais teriam cobrado R$ 40 milhões e recebido pelo menos R$ 1 milhão para livrá-lo de uma investigação sobre a morte de Anselmo Santa Fausta, líder do PCC conhecido como “Cara Preta”.
Oito dias depois do depoimento à Corregedoria da Polícia Civil, Vinícius Gritzbach foi morto com tiros de fuzil no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos.