Rivais em SP, Haddad e Tarcísio emergem como presidenciáveis para 2026
Haddad e Tarcísio ganham força política para sucessão de Lula após assumirem, respectivamente, o Ministério da Fazenda e o Governo de SP
atualizado
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São Paulo – Adversários no segundo turno da disputa pelo Palácio dos Bandeirantes no ano passado, Fernando Haddad (PT) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) abrem o novo ciclo eleitoral com as credenciais para protagonizarem um novo duelo em 2026, mas pela Presidência da República.
Ministro da Fazenda do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), empossado no domingo (1º/1), Haddad foi derrotado por Tarcísio na eleição para governador de São Paulo, por 55,27% a 44,73%. Apesar do revés, ele obteve a melhor votação de um petista na disputa pelo governo paulista e serviu a Lula um palanque importante no estado.
Ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL), Tarcísio assumiu no domingo o comando do estado mais rico e populoso do país, com R$ 31 bilhões em caixa para investimentos só neste ano. Nascido no Rio de Janeiro e desconhecido do eleitor médio, sagrou-se vitorioso em sua primeira eleição na “garupa” de Bolsonaro. Agora, tenta criar seu próprio grupo política para se firmar como uma nova liderença da direta.
Para o cientista político Eduardo Grin, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), as perspectivas eleitorais de ambos dependem do êxito que cada um terá no comando de duas máquinas poderosas, mas Tarcísio tem um caminho menos complexo a trilhar pelos próximos quatro anos do que Haddad.
“Tarcísio assume com muitas obras em andamento e dinheiro em caixa. Não é a situação do governo federal, então Tarcísio inicia o mandato numa condição muito mais favorável”, disse ao Metrópoles.
“Haddad terá mais dificuldade [até 2026], porque a crise econômica é muito maior, a reconstrução do estado brasileiro é mais complexa, a crise orçamentária e fiscal do governo federal é muito profunda e a expectativa sobre ele é muito alta”, acrescentou Eduardo Grin.
Fazenda pode alavancar ou sepultar Haddad
Grin avalia que o destaque nacional de Haddad, candidato à Presidência da República em 2018 no lugar de Lula, é uma vantagem do petista por já ser um nome conhecido do eleitor.
Além disso, o ministério do qual será titular tem grande destaque e pode – em caso de sucesso – servir de alavanca política, assim como ocorreu com Fernando Henrique Cardoso, eleito na esteira do sucesso do Plano Real, em 1994.
No entanto, os próximos quatro anos políticos de Haddad dependem do seu êxito à frente da Fazenda e também da popularidade do governo Lula.
“O governo terá que reduzir o desemprego, a pobreza, restaurar relações com a comunidade internacional, e lidar com o desmatamento e questões ambientais. Se o governo for bem sucedido nas agendas, significará apoio popular e catapultará mais simpatia e pretensão política a Haddad”, afirma o cientista político.
A curto prazo, Haddad precisará lidar também com os efeitos da guerra da Ucrânia na economia e a desaceleração da expansão econômica em meio à nova crise de Covid na China, já que o Brasil é um grande exportador para o país asiático.
Já a longo prazo, enfrentará a concorrência de outros ministros de Lula que também são nomes cotados para a corrida presidencial de 2026, como o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), e a ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), todos recém-empossados em seus cargos.
SP servirá de teste para experiência política de Tarcísio
No caso de Tarcísio, o cientista político observa que todo governador de São Paulo vira um “potencial candidato a presidente por governar o principal estado da federação”. Furar a bolha do PSDB, partido que governou o estado por 28 anos, e iniciar o governo com R$ 33 bilhões em caixa podem ser fatores benéficos, mas testarão a capacidade política de articulação do ex-ministro de Bolsonaro.
“É um novo governador que vai assumir sem experiência política prévia num estado complexo como São Paulo. Não digo que fracassará, mas ele terá dificuldades: não é de São Paulo, não tem vínculos com o estado e lidará com um governo inflacionado, dividido entre áreas de influência de Gilberto Kassab (presidente do PSD e secretário de Governo), dos bolsonaristas e ligação com as igrejas”, diz.
O papel de Kassab no governo Tarcísio também é ponderado pelo cientista político, que aponta o projeto do ex-prefeito de São Paulo de ocupar um espaço que antes foi do PSDB no estado, filiando prefeitos tucanos já de olho nas eleições municipais de 2024.
Além disso, há também a forte influência sobre o Executivo, já que Kassab e aliados vão controlar quase um terço do Orçamento de 2023.
“Kassab vai se tornar o guru do governo Tarcísio”, afirma Grin.
Na visão do cientista político, Tarcísio vai necessitar de discernimento para conseguir preencher a lacuna de um candidato moderado de direita, distante do bolsonarismo. Isso já vem sendo feito pelo governador, que antes de tomar posse declarou nunca ter sido “bolsonarista raiz”.
“Para ser candidato, ele deve caminhar para o centro, deve defender o livre mercado, mas sem ser golpista e antidemocrático. Que mostre que não vai destruir o estado como fez o Bolsonaro. Se fizer um bom governo e caminhar para uma oposição saudável, vai ter uma grande vitrine, sendo São Paulo o estado que é”, completa.