“Risco de vida”, diz preso em cadeia onde líderes do PCC foram mortos
Preso citado como integrante de célula do PCC que planeja ataque a autoridades, Cisão pediu à Justiça transferência da P2 de Venceslau
atualizado
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São Paulo – Citado pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) como integrante da Sintonia Restrita, a célula de elite do Primeiro Comando da Capital (PCC) responsável por planejar ataques a autoridades no Brasil, o preso Sandro dos Santos Olimpio, o Cisão, afirma que está correndo risco de morte na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no interior paulista.
A cadeia foi palco das execuções de Janeferson Aparecido Mariano Gomes, o Nefo, e Reginaldo Oliveira de Sousa, o Rê, mortos a punhaladas na segunda-feira (17/6) passada. Eles eram acusados de participar do plano contra o senador Sergio Moro (União-PR), a família dele e o promotor Lincoln Gakiya, do MPSP, apontado como um dos principais especialistas em combate ao PCC.
Cisão nega qualquer envolvimento com a Sintonia Restrita e já vinha tentando, sem sucesso, trocar de cadeia desde março de 2024. Na quarta-feira (19/6), dois dias após os assassinatos, ele voltou a pedir transferência na Justiça paulista.
“A defesa entende que o sentenciado (…) está incorrendo em gravíssimo risco de vida devido à insinuação da direção da unidade prisional que o sentenciado tem participação em atentados às autoridades, mesmo não sendo verdadeira essa ilação”, diz trecho do pedido. Ainda não há decisão judicial.
Sintonia Restrita
A existência da Sintonia Restrita veio à tona com a Operação Sequaz, deflagrada pela Polícia Federal (PF) em março de 2023, que desmantelou o plano contra Moro. Nefo e Rê foram presos na ocasião. Já Cisão, de fato, não figurava entre os alvos dessa operação.
O seu nome passou a ser associado à célula de elite do PCC oito meses depois, em um relatório de inteligência do MPSP. Segundo a investigação, Cisão teria entrado para o grupo após a prisão de Nefo, então coordenador do grupo.
Ele estaria envolvido na ação que pesquisou os endereços dos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), para realizar uma “missão” no Distrito Federal.
Até o momento, a investigação não resultou em nova denúncia ou condenação contra Cisão. Com pena de 21 anos, 6 meses e 26 dias de prisão, o preso está na cadeia por outros crimes cometidos.
Transferência do preso
A permanência de Cisão na P2 de Presidente Venceslau, que é voltada para presos faccionados do PCC, foi defendida, em março de 2024, pelo diretor da unidade. No parecer, ele avaliou que o detento é “polifaltoso”, registra “envolvimento com facção criminosa” e cita reportagem que o liga à Sintonia Restrita.
No novo pedido de transferência, o advogado Marcos Roberto Azevedo tenta afastar a acusação de que o detento faz parte da célula de elite do PCC. Pra isso, juntou dois e-mails do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) sobre possíveis investigações em andamento.
O Gaeco de Presidente Prudente disse não ter encontrado “procedimento relativo ao senhor Sandro”. Já o da capital afirmou não haver “procedimento investigatório criminal ou qualquer relatório gerado” em relação ao preso. As mensagens são de abril e maio de 2024, respectivamente.
Na petição, o advogado diz que o preso não possui “perfil” para ficar detido naquela cadeia. A defesa solicita que ele seja levado para “unidade próxima de sua família” ou retorne à Penitenciária 2 de Mirandópolis, onde deu início ao cumprimento da sua pena.
“O sentenciado em questão possuiu histórico prisional e quantidade de pena muito mais amenos que inúmeros outros custodiados que estão em outras penitenciária”, diz. “Portanto, a manutenção da prisão naquele local, é desarrazoada e desproporcional, demasiadamente excessiva e prejudicial ao sentenciado.”
Quem é Cisão
Cisão é dono de uma extensa ficha criminal e apontado pela promotoria como integrante antigo do PCC. Em 2015, ele foi acusado de fazer parte de um bando que atacou caixas eletrônicos e tentou resgatar um integrante da facção que estava internado em um hospital de Avaré.
Na ocasião, a Polícia Militar (PM) prendeu seis membros da facção e conseguiu apreender dois fuzis e quatro pistolas. Cisão, no entanto, escapou do cerco policial e foi capturado dois meses depois.
Em janeiro de 2020, o criminoso fugiu da cadeia após ser beneficiado por uma “saidinha temporária”.
Ele só seria pego novamente em 31 de outubro de 2023, em São Paulo, por agentes das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota). Desde então, está recolhido na P2 de Presidente Venceslau.